Prólogo

Eram duas horas da manhã. As ruas estavam desertas. Vez ou outra via-se um vagabundo perambulando pelos becos escuros do que um dia foi uma grande metrópole. Depois daquele dia, tudo mudou. As pessoas se tornaram hostis ao extremo, e poucas se arriscavam a sair de seu “lar” (por assim dizer). Apesar de tudo, eu estava ali. Com medo, apavorado, assustado, sentia todas as sensações ruins ao mesmo tempo, correndo risco de vida, mas sabia que, se conseguisse chegar ao meu objetivo, seria uma espécie de herói solitário, que agora lutava não pela sobrevivência alheia, mas a de si próprio.

Ao longe fitei a entrada do prédio. Em seus dias de glória, recebia inúmeras pessoas durante todo o dia, que saíam de lá com sacolas e mais sacolas de compras. Era uma época boa. Apesar de não ter ido muito ao local, contemplava-o com certo bom gosto. Senti um aperto no coração ao recordar o dia em que ocorreu a “conversão” mundial. Voltando ao triste e sombrio presente, o shopping center do centro da cidade foi o local mais invadido após o transtorno, por isso, segundo um informante contratado (agora morto, penso eu), o local ficara cheio de cadáveres apodrecendo ao relento, já que o local foi completamente devastado. Entretanto, corriam boatos de que havia uma maneira de se entrar lá, passando pelos escombros, e era justamente isso que queria comprovar. Depois de entrar, verificaria o local e pegaria o que fosse necessário para a minha sobrevivência, visto que minhas condições de vida estavam precárias.

Esse era o plano. Não pode-se dizer que era um bom plano porque, na verdade, planos pareciam inúteis a mim na atual ocasião. Entretanto, confesso que me gerava certo conforto seguir regras, pois era justamente elas que me faziam humano ainda, diferente dos outros, que, por ora, eram animais famintos e selvagens, procurando uma presa fácil. No momento, eu era a presa. Andava cuidadosamente para não ser descoberto, porque se fosse, o fim da minha vida estaria marcado, e acho que eu sabia disso mais do que ninguém.

Já havia visto os ditos “rituais” que realizavam. Era cruel, brutal, completamente desumano. Não tardaria e eu sabia que veria outro, querendo ou não. Eles fazem um tipo de festa antes, durante e após o culto, e, apesar de não haver nenhuma semelhança, lembro-me das estrondosas festas que eu ia. Aproveitava a vida por demais, pois sabia que ela era curta, e hoje temo a morte mais do que tudo. Não, não temo a morte, temo os vivos, porque são eles que hoje fazem da morte uma coisa aterrorizante.

Gabriel Antonio
Enviado por Gabriel Antonio em 23/12/2012
Reeditado em 13/01/2013
Código do texto: T4049394
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