Brutal

Caminhando entre túneis, formados pela rede de esgoto. Pés que pisam em poças, espirrando a água fétida. Ratos rondam pelas laterais, com seus sons finos. Labirinto fluvial. O corpo apodrecido, abandonado, malcheiroso, roído pelos animais que se banqueteavam com a fartura de carne. Moscas já depositavam suas larvas. O sujeito, retira a camisa, expondo diversas cicatrizes, com músculos bem definidos, veias protuberantes, cabeça raspada, olhar sombrio. Estala as falanges de juntas grossas, com pelos que cobrem o corpo animalesco. Os dentes amarelados, pontiagudos, jamais são expostos em sorriso, apenas ao trincar a arcada dentária em um sutil movimento labial. Afiando seus objetos de corte, pendurados na parede lodosa.

Atraíra um policial de extrema força física para seu esconderijo, longe da circulação metropolitana. Onde os gritos são esquecidos. Na tentativa de um novo desafio, o anúncio falso de sequestro dos filhos do experiente homem da lei. O monstro, que habitava os subterrâneos, conseguira convencer, com sua estratégia de caçada, após investigar minuciosamente a vida de sua vítima, fazendo com que o encontro ocorresse nas condições que o favoreceriam. No local indicado, o temor do agente da justiça, ao ver a imensidão de seu adversário, que o aguardava só. Sacou a arma e atirou, atingindo o braço daquele Hércules, que conseguiu desarmá-lo sem esforço. Seus socos não produziam efeito na carcaça endurecida do seu agressor, que revidava com socos que faziam seus ossos estalarem. Seu corpo deixou de resistir e se entregou, sendo deixado espancado no solo aquoso.

Minutos depois, o algoz retirava o projétil e costurava o braço ferido, adquirindo nova cicatriz. Com a arma do policial, mirava em camundongos e os fazia em pedaços. Distraindo-se com o som de um casal de amantes, que escolhera o local ermo, para seus encontros clandestinos. Ambos, arrastados esgoto abaixo. O homem, de cabeça aberta por uma barra de ferro. A mulher, tentava se desvencilhar do assassino, que arrancara-lhe o vestido com apenas um puxão. O corpo de mulher de meia idade, seios flácidos, nádegas estriadas. Esquecera o pudor e procurava fugir, mas os esforços eram em vão. Histérica, com gritos desesperados, fora calada com um golpe que quebrara-lhe os dentes. Um segundo golpe foi suficiente para aniquilar a presa. Corpos acumulavam, assim como os indícios acerca do que se passava naquele mundo velado.

Policiais encontraram os diversos corpos acumulados. Buscas foram feitas. Investigações de diversos tipos eram abertas, por setores de inteligência e outras fontes de pesquisa criminal. Nada fora encontrado que pudesse incriminar algum suspeito. Muitos taxaram o episódio de “lenda urbana”, sendo que os peritos, frustrados, preferiam acreditar que o facínora se aposentara ou morrera nas mãos de algum justiceiro. A resposta era mais óbvia do que supuseram. A fera assassina, mudara de estratégia, habitando agora florestas, espalhando vítimas para que fossem devoradas por feras e que favorecessem um julgamento equivocado da perícia. Corpos fraturados, com ferimentos associados a ataque de urso, bem como supostos acidentes fatais de turistas que se perdiam na vegetação densa.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 15/08/2012
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