Trágico

Pelas ruas de calçamento deformado, passos que tateiam o relevo. O som de uma pedra rolando no asfalto noturno. O olhar atento, a procura do que causou o movimento do mineral. Nada que se possa constatar. A caminhada prossegue, com as estrelas vigilantes e uma lua velada. Ao dobrar de uma esquina, um par de braços agarra a vítima, tapando-lhe a boca. Gemidos abafados não foram ouvidos naquela madrugada. A saia sendo levantada, expondo coxas roliças, com uma calcinha branca, já urinada. Uma pancada na cabeça, utilizando um paralelepípedo, deixando a jovem inconsciente. O estuprador saciou sua vontade, ejaculando precocemente dentro daquela vagina passiva. Abandonando o corpo ensanguentado, com seios enormes expostos, de auréolas gigantescas, com veias esverdeadas que eram possíveis ver sob a luz do poste.

Chegando em casa, a surpresa. A filha não retornara. Uma busca pela desaparecida. Fora feita uma mobilização que surtiu efeito, encontrando a pequena em um matagal, em estado putrefato. A pericia averiguara que além da violação, ocorrera mutilações por dias, algo chamado de monstruoso pelos jornalistas. O pai chorava, não se sabe o motivo, se pela crueldade com sua preferida, que o inspirara a jamais efetuar em casa, aqueles atos libidinosos que o levaram a jovem deixada naquela calçada. Na delegacia, o delegado apresentava fatos relacionados ao outro caso, dizendo acreditar que o agressor fosse o mesmo. Apenas o algoz, sabia que não era essa a verdade, mas era impossível revelar, contentando-se em se fazer solícito diante das exigências dos investigadores.

No velório dramático, outra revelação. Descobrira que a jovem da calçada, seria filha de uma pessoa que sempre tivera em alta estima. Nunca havia conhecido a família de seu amigo, sentindo-se menos culpado, por não saber que se referia a alguém próximo. Um pensamento surgia em alguns momentos, sobre seu abominável ato poder ter afetado qualquer um, inclusive a própria filha, que não seria menos maldoso que o assassino de sua pequena. O que o levou a se enclausurar após a cerimônia fúnebre. Todos compreenderam que se tratava de uma atitude normal, diante do trágico acontecimento. Dias depois, encontraram aquele pai enforcado, sem nem um bilhete de justificativa. Mais um velório, a família padecia de uma época de lamentações.

Enquanto isso, o outro criminoso continuava atuando. Deixando rastros que levaram as investigações ao seu paradeiro. Acarretando um vazamento de informações, que levou a opinião pública, o conhecimento acerca da identidade do facínora. Tendo sua casa invadida por populares, que sedentos por justiça, levaram o acusado para o julgamento das ruas, onde fora linchado até a morte. Apedrejado, atacado com barras de erro e pedaços de paus, sendo desfigurado, com a cabeça estourada por um paralelepípedo. Familiares do suicida, comemoravam a justiça que disseram ter sido divina. Manchetes de jornal, davam destaque ao caso, com especialistas comentando acerca do descontrole social, da ineficácia de se fazer justiça com as próprias.

Tudo sendo assistido, pelo real violador, que acompanhava o noticiário com sua família, pedindo que sua filhinha se retirasse, pois acreditava que a notícia teria conteúdo forte para tão tenra idade. Tendo o consentimento da esposa dedicada, que acariciava-lhe os cabelos com mãos delicadas. Sua última vítima o excitara bastante, fazendo com que naquela noite, ficasse insaciável ao fazer amor com sua mulher. O que lhe rendeu elogios e mais agrados, para que depois dormissem abraçados nus e suados. Ela com as lembranças do dia, os afazeres domésticos e o bom desempenho do marido, ele com as memórias de suas indefesas presas, que cada dia o tornavam mais deus e menos homem.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 24/07/2012
Código do texto: T3794436
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