A Feiticeira
Com seus olhos negros, hipnotizava seus hóspedes. Fazendo com que se perdessem ao adentrar os muros de sua morada. Sempre vestida com trajes negros. Longos vestidos com bordas que arrastam pelo solo, esparramando a folhagem. Os pés pálidos, se escondem no tecido, vez o outra sendo vistos, de forma furtiva. Um caminhar leve, quase sem ruído, seguindo a direção do vento, que é um guia devotado. Mãos pequenas, dedos finos e alongados, portando unhas com esmalte negro. Sobre os ombros, a cabeleira negra, volumosa, que parece desabar sobre as costas, em uma cascata madeixante. O corpo bem torneado, faz volume no tecido, com um discreto decote que exibe um par de seios modestos.
O hóspede, sentia-se inquieto. A dama misteriosa o amedrontava, com seus trejeitos delicados e olhar feroz. Na entrada percebera os cães ferozes, enormes guardiães negros, que circulavam soltos pelas extremidades do lugar. Na cabeceira da cama, um gato negro, com o pelo acariciado pelas unhas da anfitriã, que ao movimentar-se no gesto, fazia a camisola abaixar-se, revelando a auréola rosada de um dos mamilos. A dama mantinha-se displicente, muitas vezes caminhando com roupagem transparente, revelando uma pequena penugem entre as pernas, fazendo com que o rapaz estremecesse. Na parede, um crucifixo invertido, com a imagem de um Cristo em desespero.
Certa manhã, encontrara um livro, que parecia similar a uma bíblia cristã. O conteúdo era fascinante, com letras grafadas em dourado. Reconheceu o latim nas escrituras, podendo desvendar encantamentos com datações remotas. Sentira uma dor ao levantar-se, identificando pequenas feridas, parecidas com arranhões, que enxergava em suas costas, ao virar-se diante de um enorme espelho. Conteve a excitação dos últimos acontecimentos e dirigiu-se a sala de jantar, onde fora convidado para cear. Em seguida, brindaram e se embriagaram com um vinho que pareceu de excelente safra. A música embalava e entorpecia, com a sonoridade de Tchaikovsky por todos os cômodos.
Acordara metamorfoseado. Diante do espelho, contemplava a imagem da anfitriã sedutora. Deveria ainda estar sob o efeito do álcool. Não era seu corpo, mas o dela, e suas mãos percorriam as ancas, fazendo com que se excitasse consigo. Expôs os seios e encheu as próprias mãos com eles, tocando-se entre as pernas, com intuito de vibrar, feito a corda de um delicado violino. Todas aquelas sensações eram uma deliciosa novidade, o que fez com que se enrolasse nos lençóis de seda, aromatizados com fragrâncias de flores do campo. Nádegas firmes, que alisava com as mãos delicadas que agora possuía.
O estilhaçar de uma vidraça. A fera adentrara o quarto. Um monstruoso licantropo, que salivava entre caninos gigantescos. Tornara-se mudo, não podendo emitir um gemido sequer. Enquanto a besta lhe possuía, deixando-o de quatro, como os animais acasalam normalmente. Sentindo o hálito da fera, com a pelagem sobre seu dorso, o falo rígido lhe penetrando até as entranhas. No momento seguinte, estava lançado nu sobre sua cama. Com corpo masculino, a vidraça intacta, tudo no cômodo intocável. Uma histeria tomou conta de sua personalidade, mas logo se conteve, calando-se e agachando-se no canto do aposento, abraçando os joelhos e balançando o corpo feito um pêndulo.
Deitando-se, enxergava nas paredes aquela face. O rosto lívido da mulher noturna, com seus olhos ferozes, sempre vigilantes. Os vitrais sofriam transformação, representando uma espécie de documentário, com a anfitriã sendo possuída de diversas formas, provando diversos gozos e soltando gemidos que para ele eram o canto de uma sereia. Para lidar com o desespero, aprendera a mutilar-se, fazendo em sua pele, fissuras de diversas proporções, ofertando toda noite sua cota de sacrifício. Curiosamente, os lençóis nunca amanheciam manchados de sangue. Tentara se recordar de alguma oração, mas sempre a mente se fazia branca, ou melhor, de um negrume vazio, feito um quadro negro que nunca seria preenchido. Somente os ritos do livro que encontrara, permaneciam ecoando em seu subconsciente. Até ouvir vozes de moças bem jovens, que o fez se perder em corredores, sempre levado de volta ao seu quarto, como um labirinto que o fazia andar em círculos.
Próximo a sala de armas, avistou a dama das trevas, que beijava os lábios de uma cabeça sem corpo. Em seguida, erguia o crânio feito um Perseu vitorioso. Soltando uma risada maligna. Apalpara sua própria cabeça, para conferir se não seria a sua que estava sendo exposta. Logo os braços cadavéricos o abraçaram por trás, com os lábios avermelhados tocando-lhe o pescoço. As mãos desciam até suas calças, massageando-lhe os testículos, deixando-o rígido. O chão se tornou sangue, com a rainha satânica de joelhos, sugando-lhe o membro ereto. O sêmen fora absorvido, fazendo com que a feiticeira se levantasse, expondo o ventre já volumoso. Apontava para o ventre e dizia estar gerando seu filho, chamando-o de Anticristo.
Sem resistência, entregara-se aos deleites da carne. A fêmea fúnebre, abaixava-se de quatro, expondo as nádegas em oferenda. Seduzido pelo ânus tão bem trabalhado, penetrava com uma libido bestial, fazendo com que a depravada bruxa gritasse em gozo. Muitas vezes contemplava uma estátua que era sua cópia, repleta de espinhos fincados, sendo deixada próxima a lareira. O beijo o fazia sufocar, com o coração disparando, suores ensopando a roupa de cama. Ao lado, diversas almofadas de cor púrpura. A luminosidade noturna adentrava pela janela, que encontrava-se com as cortinas escancaradas. O relógio indicava ser 3:33 da madrugada, o que parecia ser a mesma hora de quando havia adormecido. Também o tempo se resignara. Virando-se para a parede, tentava enxergar além, com intuito de adentrar o quarto daquela encantadora anfitriã.
Os lábios, maltratados pelo ranger de dentes durante o sono. Pesadelos seriam o dormir em agonia ou acordar em desespero? Uivos de lobos, talvez cães de caráter selvagem. Passos que são ventania se insinuando. Mais uma vez o aroma campestre, o fluxo sanguíneo que preenche o corpo cavernoso, provocando uma ereção que é polução, já que lhe ensopa as roupas de baixo. A sereia afina sua voz, o canto vibra suave, seduzindo a audição que aguarda o chamado. Está quente, por isso se descobre, mas lhe invade o frio e se cobre. Encosta-se nas cobertas que parecem conter algo embaixo delas, na escuridão não de pode identificar o que é. Fecha os olhos e apaga a luz da alma.