O Pregador
Em seu templo, cercado de fiéis solícitos. Manejava a adaga afiada, com a qual acabar de degolar uma jovem de trajes delicados. Os olhos inocentes, ainda transmitiam aquele brilho de esperança. No culto, o pedido foi que cada um doa presentes, pudessem chegar em suas residências e executarem algum animal de pequeno porte. Essa era a prova da fé. A necessidade de mutilar um ser, fazendo-o uma vítima do desejo assassino, chamado de vontade de imposição. Cada um precisava impor seu desejo caçador,subjugando a escolhida presa, que se entregaria a força do praticante.
Reuniram-se para mais uma celebração. Um jovem desmembrado, com as partes expostas em recipientes que se encontravam em quatro extremidades do ambiente. A oferta de porções generosas daquele cordeiro. Era servido aos presentes, frações do sacrificado, para que pudessem degustar, feito qualquer outra espécie de carnívoro que abate para o consumo. Os rostos, com dentes manchados de sangue. Bem como os queixos, salpicados com o vermelho que tende a escorrer. Moscas eram impedidas de adentrar aquela parte, somente mais adiante, elas também teriam seu banquete. Ali seria a regalia dos abutres, ansiosos em descarnar.
Hóstias, distribuídas banhadas em sangue. No tronco que era o pilar, um corpo feminino aprisionado. Aina que gritasse, não poderia ser ouvido por quem se importasse. Era cosumida, com lâminas que fatiavam sua pele macia, provando na sua frente, os bifes cortados. Outros animais eram servidos, grandes felinos faziam parte dos que habitavam o local. Algumas vítimas eram lançadas nas áreas em que os felinos viviam, feito o espetáculo de lançar critãos em templos romanos. A música eram os gritos dos castigados, que ecoava pelas paredes adornada com pinturas magníficas, representando grande batalhas históricas e heróis guerreiros de diversas culturas.
Jovens eram batizados no sangue dos inocentes. Partos eram realizados para o aproveitamento do sangue e iniciação dos rebentos. Uma santa desenhada nua, expondo toda sua encantadora luxúria, servia de guia aos praticantes sexuais, que realizavam o coito com prisioneiros, ou mesmo parceiros, em meio aos cadáveres que serviam de fertilizante a antiga tradição. O aroma putrefato não incomodava os oficiantes, até lhes causava prazer, fazendo com que entrassem em transe na execução do rito. O solo, repleto daquela cor escura, por conter aquele sangue negro grudado, dando uma estética bizarra.
O pregador, pregava a dor a todos que estavam atentos a sua oração. Transmitindo ensinamentos, promovendo o auto suplício dos seus súditos, que mutilavam-se. O objetivo da dor é sempre ser respeitada, através do exercício diário. Não sentir a dor é estar estacionado, reduzido diante do espetáculo dos valentes. Precisa-se sempre descobrir uma nova forma de opressão ao corpo, fazendo com que seja sujeitado a esse sentir que castiga, reduzindo o orgulho improdutivo, fazendo com eu saiba o quão pequeno é, ao mesmo tempo, até onde pode chegar, se assim desejar e se empenhar. Fraco é o que foge da dor, forte é o que se entrega a ela, sentindo temor que o favoreça, a ponto de se restringir a apenas um temor, sendo livre para com todo o resto.