A Besta Que Devorava Homens Egoístas
-Não! Por favor! Socorro!- Gritava um homem desesperado.
Alguém o perseguia no meio da noite, os gritos começaram de longe, mas logo se aproximavam. Januário ainda não tinha pegado no sono. Acreditou no começo que era algazarra dos detestáveis adolescentes da cidade que aproveitavam o final de semana para irem ao interior, como ele dizia, viçar. Mas quanto mais o pobre homem em desespero se aproximava, mais Januário percebia que aquilo realmente se tratava de alguém em perigo.
Abraçou sua espingarda, a sua única companheira de cama. E ficou quieto em seu lugar, concentrado nos gritos do homem, pensava apenas que se aquele sujeito trouxesse -fosse lá o que estivesse o amedrontando- para perto dele, ele simplesmente mataria os dois. Não era sexta-feira para que fosse o lobisomem. Fosse o que fosse, estava causando muito terror àquele pobre homem, Januário sentiu um pouco de pena do miserável, mas e daí? Quem mandou o ‘besta’ sair àquela hora da noite? De repente, os cães começaram a latir, Januário sentiu que o homem já estava em seu terreiro, seus cinco cachorros latiam como se vissem o próprio demônio. Nunca os vira tão agitados. De repente ouviu um por um grunhindo como se levassem um golpe e logo não se ouviam mais latidos. -Meus cães estão mortos! Neste momento começou a se apavorar. Agarrou-se a imagem da Nossa Senhora Aparecida que carregava no pescoço e com os olhos fechados rezava baixinho para aquilo ir embora. O sítio era grande, porque aquele homem maldito tinha que correr justamente para perto da sua casa? O homem continuava suas súplicas por ajuda. E agora era como se estivesse gritando dentro da cabeça de Januário. Também já era possível ouvir rosnados de uma criatura, que após matar os cães, se dirigia à casa de Januário, onde o pobre homem estava.
-Por favor! -Batia ele na porta.- Por favor! Me deixa entrar!
Januário levantou-se de um pulo da cama e correu para perto da porta. O que iria fazer? Deveria abrir a porta para o pobre homem, mas e se o bicho entrasse ou insistisse em perseguir o sujeito e acabasse arrombando a porta da casa? Fechou os olhos, rogou por sangue frio e encostado na porta, ouviu o homem ter seus órgãos devorados no alpendre de sua casa. Aquilo durou uns quatro minutos. Os gritos de dor do homem fizeram Januário se arrepender de não ter ajudado o desgraçado. A fera se calou, provavelmente já havia terminado sua refeição e agora partira para longe. –Graças a Deus acabou, disse Januário aliviado. Mas a criatura ainda estava lá e ao ouvir o homem empurrou a porta fazendo a mesma se abrir, rompendo todas as fechaduras, Januário caiu ao chão, ao observar a besta gigantesca que o encarava, correu e saiu pela porta dos fundos, a fera não entrou na casa, essa era sua única lei, mas deu a volta na casa e passou a perseguir Januário que em busca de ajuda, de alguém que abrisse a porta para ele, gritava:
-Não! Por favor! Socorro!