Mr. Leather
Com suas roupas de couro, desfila pela penumbra da noite, em meio a uma neblina fantasmagórica. Adentra um beco, onde desce escadas lodosas até uma pequena porta. A chave roda na fechadura, logo fazendo o movimento contrário para trancafiá-la. Desce por corredores labirínticos, tendo já decorado o percurso, feito um Teseu sinistro, que tem sua memória maligna como Ariadne.
Veste sua máscara bizarra, uma mistura de faces bestiais medonhas. A vítima, presa a uma prancha de necropsia, olha com temor ao seu raptor. O indivídio se aproxima, retirando a mordaça. A mulher, desesperada, grita. Um sorriso de simpatia diabólica, expondo dentes cerrados e o gesto de mão que pede silêncio. A prisioneira prossegue a lamúria. O observador abre o colete, retira um objeto brilhante. É possível identificar a lâmina, uma gilete.
Em um canto do cômodo encontra um instrumento e serve dele. Peça envergada e metal reluzente, que ele ajeita dentro da boca da pobre mulher, que ainda tenta evitar. Ajeitado o objeto, não é possível fechar a boca, apenas a língua, solta no meio, tem liberdade. Cuidadosamente se aproxima, com a gilete em mãos, faz um corte profundo, cerrando com delicadeza, até que esteja solta a língua, junto com uma enxurrada de sangue. A mulher asfixia com o próprio sangue, mesmo após ter a boca liberada. Uma tosse sufocada por salpicos de sangue começa eclodir, o corpo se debatendo em espasmos desesperados.
Em uma cadeira próxima, um homem também prisioneiro, chora ao ver a cena. O algoz se aproxima, liberando sua boca da mordaça. Mas sem uma palavra sequer, já previra o que lhe aconteceria caso gritasse. Mas o carrasco não se satisfaz, aproxima-se pelas costas, acariciando-lhe o couro cabeludo. Saca outra gilete, deixando deslizar a lâmina pela cartilagem da orelha, dividindo-a em duas. O rapaz chora e chega a gritar. Começa a ser escalpelado, tendo pedaços do topo da cabeça sendo dilacerados por cortes, que arrancam o couro cabeludo, deixando ilhas avermelhadas no topo do crânio. Abaixa-se de frente para o rosto masculino, segura com força a cabeça, começa a serrar o nariz, até decepá-lo por inteiro. Por fim, abre imensas fissuras no pescoço, sulcando até chegar a jugular.
Outro homem, de proporções hercúleas, com músculos ressaltados, agita-se desesperado. Preso a uma cadeira. Apenas consegue observar, tremendo de pânico. O mascarado caminha até ela, ajoelha-se, abrindo-lhe o zíper da calça jeans. A genitália recolhida de pavor. Puxa-lhe o pênis para fora, com a gilete, começa a rasgar o prepúcio, depois abre a glande, rasgando em seguida o saco escrotal, deixando os testículos expostos. O sujeito berra, quando tem inserido em sua boca uma espécie de corda, pressionada garganta abaixo, forçando-lhe o esôfago. A reação de expulsar o corpo estranho, provoca vômito, só que o objeto, repleto de lâminas estilhaçadas, abre-se e ao expulsar, rasga-lhe por dentro, o que o faz regurgitar golfadas de sangue vivo.
Resta uma prisioneira, deixada de cabeça para baixo, acorrentada ao teto. O corpo todo retalhado, onde escreve cada ação cometida, parece um pergaminho vivo, coberta de escritas cuneiformes. Seus cortes não são profundos, o objetivo é apenas escarificar. Mais uma vez a vítima é escrita, nem chora mais, se resignou. Depois do rito, é retirada, posta em coleira em um cômodo escuro, onde é servida com sobras dos corpos mutilados. Os dentes já apodrecidos, a face com expressão selvagem, demonstram o horror vivido. Desaprendeu a falar, apenas profere grunhidos. Seu senhor a deixa bem trancafiada e sai para o mundo. Já amanheceu, a aurora belíssima é um convite para abandonar a máscara. Mantendo apenas sua indumentária de couro, ele caminha perdido entre outros transeuntes, o olhar emocionado que contempla o astro se erguendo, os cabelos volumosos, longos e escuros, soltos, parecem um véu sobre seus olhos negros. Sua mente é uma esfinge, pronta para devorar, qualquer desses caminhantes inaptos a decifrar o seu enigma macabro.