O Anel
Que anel é esse? Jogado em cima do móvel, acordo diante dessa assombração. Me incomoda essa presença. Perambulo procurando respostas em uma mente vazia. Vasculho a casa, sem respostas que consigam elucidar o mistério. Alguém o esqueceu aqui, preciso descobrir o autor. Antes me prostrar na cama, estive com ela, só pode lhe pertencer. Visto uma roupa qualquer, saio pelas ruas em direção a casa já conhecida. Não me importando com o horário matinal, tocando freneticamente a campainha.
Eis que surge a criatura, em um roupão que acentua as curvas do corpo majestoso. Antes que me pergunte o motivo de estar li, naquele horário, a empurro fazendo-a desequilibrar-se. Ela se assusta. Soco-lhe a face, antes que comece a gritar, lhe acerto uma pancada na cabeça com um objeto de coração que ficava em cima da mesa de centro. Já cai desfalecida. Pego-lhe a mão, tento encaixar o anel, não serve em nenhum dos seus dedos.
A memória demonstrara que a pessoa a quem o anel pertence, seria abominável, o que me fazia ter a necessidade desesperada em destruir esse meu inimigo. O objeto era a ligação, o que restava dessa horrenda criatura, que tinha o dever de confrontar.
Saindo se dar importância ao corpo estendido no solo, a poça de sangue próxima. Torno a me iluminar, um novo flash. Foi ele quem esteve discutindo diante de minha porta. Ela veio apenas posteriormente. Tudo começa a se encaixar. O tempo se tornou um adversário. Faço sinal a um táxi e sigo para novo destino. Ao pagar a corrida, nem cogitei em pedir que o motorista aguardasse.
Batidas nervosas na porta, uma voz pede um pouco de paciência. Subindo as escadas, eu o vejo. Os olhos se encontram, ele sai em disparada. Vou em seu encalço. Ambos subindo, até o topo do edifício. Prédio pequeno que não faz perder de todo o fôlego. Sem saída, não pode suicidar-se, aguarda feito animal acuado. Me aproximo e o acerto com uma barra de ferro que escorava a porta da saída de incêndio. O sujeito franzino, cai sem reação, tento vestir o anel, sem resultado, não encaixa nos seus dedos.
Quando me viro, a voz que saía do apartamento. Corro em direção a ela, espantada ao ver o namorado caído. Tento verificar seus dedos com o anel, enquanto esperneia, se debatendo alucinada. Faço movimento de torção em sua mão, sinto que é deslocada. Grita de dor. Também não é dela o anel. Mas vacila ao tentar fugir e despenca edifício abaixo, esparramada na calçada que de vazia, passa a lotada de curiosos. Desço com rapidez a escadaria, correndo desvairado pela rua, entrando no primeiro coletivo.
Chego em casa, uma visita me aguarda na portaria. Como deixei escapar essa pessoa. A conduzo sem desconfianças até o apartamento, em uma conversa banal. Tranco a fechadura, voando para cima do jovem, que tenta reagir, mas com uma pistola que retirara da gaveta da escrivaninha. Guardara a arma que adquiri para utilizar em uma emergência que colocasse em perigo minha segurança. Chegou o momento de utilizar, cinco tiros que descarreguei do tambor no corpo do rapaz.
Caído, pude testar o anel, em nenhum deles serviu. Olhando cabisbaixo para as próprias mãos, percebo uma mancha no dedo anelar, o desenho faz recordar de uma marca por ter utilizado por longo tempo um anel. Coloco o anel no meu próprio dedo, vejo que serve perfeitamente. Pessoas batem desesperadamente do lado de fora do apartamento, por causa do barulho de tiros que haviam escutado e reconhecido. Agora sei que é o ser maldito que havia me esquecido. Sou eu mesmo. A última bala, aponto para a têmpora esquerda e disparo. Último projétil, último estrondo, último ato.