Jack

Todos os dias sinto essa necessidade. Sede de sangue. O desejo toma meu ser. Ando pela cidade, observando corpos repletos dessa iguaria. Vejo recipientes sanguíneos. Mas não me considero um vampiro, não desejo essa imortalidade romântica. Sou mais destrutivo, inclusive ao meu próprio ser. Olho esses olhos de outros, em vez do espelho reflexivo, apenas adentro a pupila, fazendo-a dilatar por minha sombria impressão adentrar quem se depara comigo. Minha natureza trevosa faz a luminosidade alheia vacilar, criando uma acolhedora e aterrorizante sombra, que engole qualquer resquício luminoso.

Minha última vítima. Aquele rosto de bebê. O perfume de talco infantil. Minha sedução conduziu o cordeiro ao holocausto. Em minha alcova, pude explorar a dor daquele ser fragilizado. Pouco importa o nome. A lâmina da faca brilhava na retina assustada. Ao deslizar o fio cortante, escarificando aquele pele delicada, criando meus símbolos naquele corpo. Presa e amordaçada, apenas transmitia o terror através do olhar e dos gemidos sufocados.

A calcinha, me recordo do aroma da urina, ao urinar-se de medo, enquanto eu tocava-lhe as coxas com a ponta da faca. Causava pequenas perfurações, deixando gotejar o sangue. Vez ou outra esbofeteava a face, deixando hematomas. Fiz a depilação íntima com minha arma branca de horror, deixando-a depilada, pronta para o sacrifício. Só poupei os cabelos, por considerar lindas madeixas. Derramando vinho de ótima safra naqueles cortes abertos. Minha prisioneira, meu objeto de brincar.

Esquento o ferro e a marco, feito gado. Sua dor me excita. Suas lágrimas são gozo que sinto escorrer diante de meus olhos, o que me faz provocar novos gozos. Limpo seu corpo após defecar. Meu animalzinho. Te deixo na posição de quatro. Apenas para marcar suas nádegas com brasa, introduzindo-lhe um cabo de vassouras no ânus, com farpas eriçadas. Me fez perder a emoção, cortei-lhe a garganta, deixando esvair aquela vida que se fazia sem graça.

Hoje caminho em busca de algo que desperte de novo aquele prazer. Esse jovem me inspira. Consigo convencê-lo de acompanhar-me a um passeio. No parque consigo dopá-lo, deixando-o ao meu dispor. Castro por despeito, considero belíssimo seu sexo. Arranco todo o membro, não apenas os testículos. Despertara com a dor, o pânico de se ver mutilado, ao mesmo tempo sem poder reagir, por estar preso, acorrentado. Sabem de minha tatuagem, a inscrição Jack lhes dá um nome para amaldiçoar. O que sou? Quem sou? Jamais saberão. Só terão de mim, a mais terrível agonia.