Pequena Vênus

Meu lindo anjo. Se é que existem anjos femininos. Por isso prefiro o paganismo, com suas Vênus. Quantas Ísis me fascinariam. Aqui, diante dessa pequena Vênus, com sua cabeleira loira, escorrida. Deitada, parece uma bela morta adormecida, indiferente as agitações do mundo. Usando um vestidinho bordado, com cor branca, pálido feito sua tez. Abaixo dessas pálpebras abaixadas, olhos azulados, pequenas safiras. O perfume adocicado e discreto adentra minhas narinas, feito aroma de fruta amadurecida.

Toco essa pele macia, os dedos percorrem os pelos que eriçam levemente. Como é bela essa estética de boneca. Sou dionisíaco demais para me curvar diante de tal beleza. Tal apolínea figura, precisa perder os dotes, transformar-se em algo mais próximo de minha natureza. Como a medicina me privilegia, fazendo com que possa narcotizar essa criaturinha, deixando-a entregue a minhas fantasias.

Essa lâmina, por tanto tempo afiada e casta, esperando o momento de poder adentrar nessa tenra beldade. Perfuro o braço, deixando um filete sanguíneo escorrer, até gotejar. Nem um gemido, é o sono dos inocentes, diante do desejo violento alheio. Não muda a expressão terna, mesmo quando as mãos tocam esses pequenos seios com auréola rosada.

Contorno os lábios com o próprio sangue de minha vítima, beijo essa boca de contorno vampírico. Ainda sinto o leve respirar, já se faz nua. Eu a fiz nua para mim, despindo cada peça de roupa, sem rasgar, com delicadeza. Com uma faca perfuro o peito abaixo do seio esquerdo, sentindo o aço perfurar a carne, chegando ao coração de donzela. Torcendo o cabo, matando minha casta vítima.

Mordo esse corpo virginal, rasgando com os dentes essa pureza delicada, despedaçando essa beleza falseada, transformando em um amontoado de vísceras, carne, músculos, sangue. Agora somos feitos do mesmo material, desdobrados nesse amontoado de fragmentos. Como seus pedaços, para me nutrir de sua essência. Estou ávido por essa suculenta Vênus, que crua, se parece com qualquer outra figura que para muitos seria grosseira.

Esses sapatinhos, parecem pequenas tigelas, comportavam seus pezinhos, que agora mordo arrancando falanges pequeninas. Sua vulva, com pelos dourados, a vagina intocada, o hímen não rompido. Não degustei sua genitália, a mantive casta, mesmo morta, não devorei sua virgindade. Senti ereção ao despedaçar esse corpo pequenino. Um prazer erótico sem necessidade de penetração.

Mantive a cabeça como troféu, agora vejo quando desejo estes olhos azulados. Os cabelos continuam escorridos, feito um busto de maquiagem. Vou pintando, enfeitando, mudando o penteado. Sobrou a cabeça de minha boneca morta. Até o odor de pútrido me faz recordar seu perfume doce, meu fruto predileto. Quando a carne apodrecer de vez, não restar nem mais as safiras, ainda guardarei o crânio da minha Vênus corrompida.

Destruí você antes que o mundo a tornasse medíocre, a assassinei no auge de sua inocência. Devorei o que há de melhor nesse ser angelical, deixando que minha natureza demoníaca absorvesse esse falso belo, para transformar em excremento, essa estética fabricada. Enquanto dormia, fui seu pesadelo acordado. Nunca mais irá acordar, viverá sempre no paraíso dos sonhos. Ad aeternum.