Um Conto de Terror
Era uma noite como outra qualquer, porem parecia diferente das demais. Havia algo no ar Algo que não sabia explicar. Um silêncio cortante, mórbido, aterrador.
No parapeito da janela do quarto uma ave negra bicava o vidro canelado com insistentes golpes. Via-se a forma da estranha criatura. Era grande, e mantinha as asas abertas em posição de ataque, quase o fazendo quebrar. Confesso que não tive coragem de abrir, no entanto, à medida que me aproximava para ver melhor a estranha figura, ouvia-se a voz grasnada que dizia:
- Abra... Abra a maldita janela! Abra... Abra à maldita!
Pasmei... Minhas pernas travaram e minha voz secou-se na garganta. Com muito esforço e uma coragem inexistente, exclamei ao vulto:
- Vai-te satanás. Deixa em paz a pobre janela.
A resposta veio em um tom oco e grave.
- Não cessarei de bicar-te a janela, mesmo que leve toda noite, hás de abrir-me, ou até que meu bico a quebre de vez, mas estejas certo em tua casa entrarei esta noite!
Mal pude responder:
- O que queres.
Foi quase sussurrando... Apavorado!
– O que tens comigo? Porque vieste a minha casa?
A horrenda ave virou a cabeça para a esquerda e aproximando o olho ao vidro, fixou-o em mim e disse lentamente:
- Vim buscar a tua alma!
Ao som daquelas palavras, senti que minhas pernas repentinamente ficaram quentes e um peso extra no fundo das calças. Até àquela hora não sabia que era possível defecar e urinar ao mesmo tempo. Corri para dentro do armário e disse chorando e gemendo num tom quase inaudível:
- Meu Jesus Cristinho valha-me agora, manda essa assombração embora que prometo ser bonzinho e jogar o lixo fora!
Ela insistia grasnando cada vez mais alto:
- Abra... Abra a maldita janela! Abra... Abra à maldita!
Eu congelado de pavor continuava com as suplicas:
- Ai meu Senhorzinho... Tem peninha de mim que to aqui preso nesse armário, se aquela coisa não me pega, de qualquer forma eu morro sufocado nesse cheiro, todo defecado.
Ai tem peninha Senhor! Prometo melhorar, ser obediente, não mentir, estudar sem reclamar, comer toda a comida do prato sem desperdícios, apenas faz essa coisa ir embora!
Nesse momento ouvi a voz da redenção, a resposta as minhas súplicas veio como um raio, de pronto e imediato:
- “Carlinhos... Acorda menino... Está na hora de ir para a escola!”