You and Me

— Acorde! Agora!!!

— Quem está aí??

— Hahahahahahaha!!!!

— Essa risada dentro da minha cabeça.

— Dentro, fora, em todo seu ser. Faço parte de você.

— Quem é você?

— Pergunte a você mesmo.

— Minha cabeça dói. Alguém me ajude. Deus!!!

— Não diga um nome que nem você crê, idiota.

— Não sei mais em que creio.

— Creia em mim. — a risada ecoando — Hahahahahahaah!!

— Odeio você.

— Então odeia a si.

— Somos distintos.

— Acredita mesmo nisso?

— Preciso beber algo.

— Faça isso, se torne ainda mais meu.

— Ah, aqui está. Uma boa dose de vodka irá me animar.

— A nós.

— Cale-se!!!

— Como se emudece o pensamento?

— Mais um trago deve adiantar.

— Se acredita nisso...

— Minha cabeça parece que vai explodir.

— Espero que não.

— Maldito!! Porque não me deixa em paz?

— Se queres a paz, aprenda a enfrentar sua própria guerra.

— Estou sozinho, preciso de ajuda.

— Já tem a de que precisa.

— Só queria silêncio em minha mente.

— Então cale os pensamentos.

— Como faço isso?

— Não dou soluções, apenas apresento problemas.

— Isso não me agrada.

— Ainda assim estamos juntos.

— Não por meu querer.

— Talvez mais do que possa imaginar.

— A campainha está tocando. Vou atender e me libertar.

— Não vai.

— Como??

— Precisa de mim pra isso, não consentirei. Seu corpo permanecerá deitado.

— Engano seu, vou onde bem entendo.

— Então tente.

— Como pode?? Meu corpo não se move. Que magia é essa?

— Agora irá apelar ao místico?

— Preciso atender quem toca.

— Eu não.

— Deixe-me ir.

— Jamais.

— O que posso fazer para me deixar ir?

— Nada!

— Que sensação é essa?

— Estou causando câimbras nos seus pés, subindo por suas pernas, alastrando.

— Que medonho. Me causa muito nervoso. Você faz tremer o membro com câimbra para eu sofrer o choque.

— Me dá prazer o seu sofrer.

— Por que?

— Me alimento da dor.

— Me suicido.

— Eu que controlo o corpo. Você sofre as consequências que determino.

— Explique-se!

— Se somos duas medidas, em hipótese alguma temos o mesmo conteúdo, a parte que me cabe se sobrepôs a que lhe compete, por isso meu domínio sobre.

— Sou um escravo?

— Agora compreendeu?

— Me recuso.

— Ainda assim será.

— A campainha cessou. Como saberei quem era?

— Não importa saber.

— Uma hora vai precisar mover-se, alimentar-se.

— Eu não, você sim.

— Como!?

— O que eu decidir, quem sofrerá será você. Se impuser fome, os efeitos da abstinência cairão sobre ti.

— Que maldição é essa?

— Para mim é benção.

— Quanto isso durará?

— O tempo que meu desejo impuser.

— Não possui autonomia, senão estaria livre de mim.

— Sou um parasita, você é conveniente.

— Ainda assim sou necessário.

— Sua esperança vive dessa ilusão.

— E a sua de se conceber dominante.

— Quer me desafiar com esses sofismas?

— Já estou fazendo.

— Pois bem.

— Finalmente tomou uma resolução. Para onde caminharemos?

— Observe.

— Vamos cozinhar o que? A fome veio? Que tal um ovo cozido nessa água fervendo?

— Tenho outros planos.

— Pare!! O que está fazendo? Minha mão!!!

— Sente a quentura da água borbulhante?

— Pareeee!!! Eu imploro!!!

— Continuo sem sentir. Prossegue o desafio?

— Não, por favor!!

— Como é patético.

— Minha mão.

— Chora de forma ridícula. Não passa de um tolo.

A campainha volta a tocar.

— Resolveu atender? Minha mão arde muito.

— Então contenha a dor.

— Virgínia?? O que faz aqui?

— Combinamos comer algo juntos, não se recorda?

— Sim, claro.

— O que houve com sua mão?

— Um acidente, nada grave.

— Vamos providenciar um curativo nisso.

— Se não fosse incômodo, gostaria de ficar em casa.

— Tudo bem.

Começam com carícias, beijos, despindo-se, num ato de desejo.

— Adoro te sentir.

— Eu também, você me preenche.

— Realmente é uma puta sua namorada.

— Cale-se!!

— O que, amor?

— Não falei com você.

— Com quem foi?

— Explique a ela, imbecil. — uma risada diabólica — Hahahahahaah!!

— Pensei alto.

— E quer me ver calada?

— Não é isso.

— Eu faço, adoro seu jeito mandão.

— A piranha gosta de ser dominada, deixa ela comigo.

— Não se atreva.

— O que está acontecendo com você, hoje?

— Nem eu sei.

— Eu sei, deixe-me contar a essa vagabunda.

— Pode desabafar comigo, sou sua namorada.

— Mate essa puta!!

— Jamais!!

— Jamais o que, lindo?

— Vou arrancar as tripas dessa cadela.

— Não faça isso!!

— Fazer o que? Está me assustando.

Debaixo do travesseiro, uma faca é revelada num gesto ligeiro, a lâmina corta a garganta da mulher. Os olhos aterrorizados de arregalam olhando a face do namorado que a degolara. O sangue desce ensopando o lençol.

— Nããããoooooo!!!!!!

— Hahahahahahahhaahah!!!

— Por queeee???

Com faca, vai perfurando o corpo, rasgando de fora a fora, abrindo o ventre, expondo os órgãos.

— Pareeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!

— Não sou eu quem faço, é você. Conviva com isso.

— Mate-me!

— Jamais. Isso é para que se recorde quem detém o poder.

— Desgraçado!

— Nós somos. Até que a morte nos separe. Mas no que depender de mim. Ela não se intrometerá tão cedo.