A Colina
Em um dia de sol. Dois irmãos caminham próximo de casa. Enquanto os pais exploram a parte de trás do quintal. Homens trabalham retirando grandes volumes de terra na área ao redor.
— Aquelas máquinas, estão aplainando todo aquele terreno.
— Curioso. Vão acabar danificando onde estamos.
— Espero que não afete nossa casa.
Um senhor se aproxima, utiliza uma mangueira para molhar a terra, aguando o solo marrom, com resquícios de verde ainda não danificado.
— Agora, com essas máquinas, tive curiosidade de saber o que está além daquela colina. Vamos até lá?
Sobem pelo terreno inclinado, observam uma paisagem em tons diferentes de verde. Logo no início encontram uma cerca branca.
— Podemos passar pelo vão da cerca.
Sobem mais alguns minutos. Se deparam com uma espécie de outro bairro. Casas em estilo colonial, diversas cores. Uma, com portão imenso de madeira, que daria justamente para os fundos do terreno que habitam, está trancada. Procuram alguém que possa levá-los até o local. Uma das vizinhas, aceita a incumbência. A chave abre as portas rústicas, um tanto emperradas. As mulheres dão meia volta com intuito de se retirarem. O rapaz, pensando na possibilidade das portas se fecharem, já que com a tranca fechada, só poderiam ser abertas por fora. Utiliza uma lanterna que levara para escorar a porta, mas o objeto era leve. Então utiliza a própria mochila para apoiar uma das portas.
Ele e a irmã caminham pelo local, um campo aberto, ao longe é possível avistas dois cães e um novilho. Ao fundo, um touro deitado. Ele resolve se aproximar do touro. Os cães vem em sua direção rosnando, um momento de tensão ocorre.
— Quanto mais se aproxima do touro, mais incomoda a eles.
O rapaz para de caminhar, os cães também. Percebe que a menina tem razão, se afasta do touro. Os cães se quietam e continuam próximos ao novilho.
A menina observa um cavalo cercado, alguém parece próximo a ele. Ao chegarem junto ao cercado, reconhecem outro cavalo, mas em posição ereta, vestindo roupa humana. Blusa de botões e calça, olhar triste voltado para o chão, amarrado à cerca.
— Precisamos soltá-lo, está tão triste. — Comenta a menina.
— Mas se está preso, deve ser por algum motivo que desconhecemos, pode ser perigoso.
— Não parece que seja.
A menina desamarra o cavalo, que continua parado próximo ao outro, indiferente a sua liberdade. Os garotos preocupados em terem demorado demais, vão em disparada para a porta. Quando a ultrapassam e voltam para uma última olhada para aquele campo, uma visão aterradora. O campo incendiava, o cavalo ereto montava o outro cavalo, suas roupas se destacam na paisagem em chamas, com fúria galopava. Os cães corriam em volta do novilho, o touro ao fundo, continua deitado, observando o que consumia tudo.
Ao atravessarem a porta, o bairro havia desaparecido, descem a colina correndo. Ao chegar em casa. Todo o terreno em volt queimava. Um muro imenso os impedia de ter acesso a residência, gritam pelos pais. Um caro se aproxima, reconhecem que os pais estão nele, ficam animados. O primeiro a descer é o pai. O rapaz tenta se comunicar, mas é ignorado. Logo após, a mãe aparece. Também grita e faz gestos, seguido da irmã, mas continuam invisíveis. É quanto ele se dá conta, a coloração deles para destoar da dos pais. E quando tenta tocá-los, suas mãos atravessam aqueles corpos como se fosse de matéria diferente da deles. Ao olhar no reflexo do espelho do carro, não se enxerga, seu perfil parece fino como folha de papel.
Seus pais atravessam aquele muro, sem nenhuma forma de chave ou gesto para abrir a parede. Adentram a estrutura. Quando o rapaz perceber que somente ele e a irmã enxerga aquela barreira, que somente é obstáculo a eles. Avista acima da muralha, diversas criaturas, cada uma,com um tipo de feição, muitos furiosos gritam, tudo em chamas atrás do paredão. Alguns correm tomados de chamas em seus corpos. O rapaz entristecido olha para a irmã, mas contém as lágrimas, precisa ser forte para que ambos suportem o que ele já presume. Olha para o céu, o mesmo de antes, com suas nuvens indiferentes.