Traindo a razão
(texto escrito em 2007, com algumas modificações mínimas)
Em certas situações, a razão simplesmente é deixada de lado. É abandonada, repudiada, mutilada. Muitos de nossos maiores pensadores enalteceram-na sem sequer chegarem próximos de descobrir seu real significado. No fundo, não tenho o direito de dar minha opinião sobre o assunto: se há uma pessoa no mundo que a desconhece, esta sou eu.
Você, leitor, deve estar se perguntando quem diabos sou e por que estou perdendo tempo com essa pseudofilosofia barata. Bom, vamos por partes. Pode me chamar de Pê. É, só Pê. As pessoas geralmente ficam pê da vida quando estão perto de mim. Tenho o hábito, por vezes equivocado, de ficar devaneando nos momentos de folga, que nos dias de hoje são extremamente escassos.
Minha vida se resume a trabalhar por encomendas. Estou sempre andando de lá para cá, fazendo meus serviços e cumprindo os prazos como combinado: ninguém pode se queixar de impontualidade da minha parte. Outro fato a ser mencionado é que sou muito aplicada naquilo que faço – ou seja, sem amadorismos. Minha principal motivação para o trabalho? Hum... Sinceramente, não sei precisar. Para ser sincera, o dinheiro pouco me importa. Algo aqui dentro me dá ânimo para o dia-a-dia, mas não sei bem o que é. Ainda pretendo descobrir, aguardem.
Espere um pouco. Deixe-me fazer alguns lembretes (minha memória não é muito boa). Um aqui, outro ali, mais outro acolá... pronto! Eu sempre digo aos meus clientes que organização é a palavra-chave dentro de qualquer negócio. Também digo que eu estou quase sempre certa e, ao mesmo tempo, quase sempre errada. Não é contraditório? Claro que é! Mas quem disse que eu sou uma pessoa coerente? A maioria das pessoas acaba se perdendo ao tentar fugir da contradição. Eu digo: por que fugir dela se você pode usá-la como uma arma?
Minha experiência de vida tornou-me o que sou hoje. Porém, eu lhe pergunto: o que eu sou? Quem eu sou? Novamente, não sei precisar. Talvez alguns me tachem de... esquisita. Ou desequilibrada. Por quê? Qual é o equilíbrio que eu rompo? O que há de errado comigo? A meu ver, quando uma pessoa resolve trair a razão, deixando-a de lado, ela perde o direito de ser julgada pela sociedade. Acho que sou isso, pensando bem... Uma pessoa além da visão limitada da socieda...
Ah, ele acordou.
– Como vai, Allan?
– Sua... louca!
– Não, não, não. Já lhe disse que essa palavra deveria seria banida do dicionário, meu amor. Teve uma boa noite de sono?
– Me tire daqui!
– Allan, querido, nós já conversamos sobre isso...
– Socorro!
– Quietinho, ou vou ter de amordaçar sua boca.
É. Um pouco de pressão sempre funciona. Às vezes, é bom usar um tom ameaçador, sabe?
– Allan, pare de gemer e balbuciar, você está parecendo um suíno...
– Sua... sua... socorro! Socorro! SOCORRO! Aahhhhhhhhhhh!
– Eu mandei você ficar quietinho, amor. Doeu? Deixe-me ver o que posso fazer... talvez um pouquinho de...
– Ahhhhhhhhhhhhhhh!
– Oh, Allan, eu já lhe disse para não fazer barulho. Estou só passando um álcool na ferida, benzinho. Não faça esse fiasco todo!
– Por favor... pare.
– Hum... não. Você lembra do combinado? Você tem de se comportar, pois assim tudo será mais rápido.
– Me tire daqui... estou todo... ensangüentado!
– Fique calmo, meu doce. Você ainda não viu nada...
– Ahhhhhhhhhhhhhhhh! MEU PÉ!
– Faça menos barulho, por favor, querido! Você parece não ter aprendido ainda! Paciência tem limite, sabe?
– NÃO! Não faça isso, por favor. Por favor! Por fav...
Tem horas em que simplesmente me canso. Bom, vejo que já estou na minha hora. Tenho mais encomendas para fazer, sabe? É compreensível, eu imagino. Você pode ser a próxima...
(texto escrito em 2007, com algumas modificações mínimas)
Em certas situações, a razão simplesmente é deixada de lado. É abandonada, repudiada, mutilada. Muitos de nossos maiores pensadores enalteceram-na sem sequer chegarem próximos de descobrir seu real significado. No fundo, não tenho o direito de dar minha opinião sobre o assunto: se há uma pessoa no mundo que a desconhece, esta sou eu.
Você, leitor, deve estar se perguntando quem diabos sou e por que estou perdendo tempo com essa pseudofilosofia barata. Bom, vamos por partes. Pode me chamar de Pê. É, só Pê. As pessoas geralmente ficam pê da vida quando estão perto de mim. Tenho o hábito, por vezes equivocado, de ficar devaneando nos momentos de folga, que nos dias de hoje são extremamente escassos.
Minha vida se resume a trabalhar por encomendas. Estou sempre andando de lá para cá, fazendo meus serviços e cumprindo os prazos como combinado: ninguém pode se queixar de impontualidade da minha parte. Outro fato a ser mencionado é que sou muito aplicada naquilo que faço – ou seja, sem amadorismos. Minha principal motivação para o trabalho? Hum... Sinceramente, não sei precisar. Para ser sincera, o dinheiro pouco me importa. Algo aqui dentro me dá ânimo para o dia-a-dia, mas não sei bem o que é. Ainda pretendo descobrir, aguardem.
Espere um pouco. Deixe-me fazer alguns lembretes (minha memória não é muito boa). Um aqui, outro ali, mais outro acolá... pronto! Eu sempre digo aos meus clientes que organização é a palavra-chave dentro de qualquer negócio. Também digo que eu estou quase sempre certa e, ao mesmo tempo, quase sempre errada. Não é contraditório? Claro que é! Mas quem disse que eu sou uma pessoa coerente? A maioria das pessoas acaba se perdendo ao tentar fugir da contradição. Eu digo: por que fugir dela se você pode usá-la como uma arma?
Minha experiência de vida tornou-me o que sou hoje. Porém, eu lhe pergunto: o que eu sou? Quem eu sou? Novamente, não sei precisar. Talvez alguns me tachem de... esquisita. Ou desequilibrada. Por quê? Qual é o equilíbrio que eu rompo? O que há de errado comigo? A meu ver, quando uma pessoa resolve trair a razão, deixando-a de lado, ela perde o direito de ser julgada pela sociedade. Acho que sou isso, pensando bem... Uma pessoa além da visão limitada da socieda...
Ah, ele acordou.
– Como vai, Allan?
– Sua... louca!
– Não, não, não. Já lhe disse que essa palavra deveria seria banida do dicionário, meu amor. Teve uma boa noite de sono?
– Me tire daqui!
– Allan, querido, nós já conversamos sobre isso...
– Socorro!
– Quietinho, ou vou ter de amordaçar sua boca.
É. Um pouco de pressão sempre funciona. Às vezes, é bom usar um tom ameaçador, sabe?
– Allan, pare de gemer e balbuciar, você está parecendo um suíno...
– Sua... sua... socorro! Socorro! SOCORRO! Aahhhhhhhhhhh!
– Eu mandei você ficar quietinho, amor. Doeu? Deixe-me ver o que posso fazer... talvez um pouquinho de...
– Ahhhhhhhhhhhhhhh!
– Oh, Allan, eu já lhe disse para não fazer barulho. Estou só passando um álcool na ferida, benzinho. Não faça esse fiasco todo!
– Por favor... pare.
– Hum... não. Você lembra do combinado? Você tem de se comportar, pois assim tudo será mais rápido.
– Me tire daqui... estou todo... ensangüentado!
– Fique calmo, meu doce. Você ainda não viu nada...
– Ahhhhhhhhhhhhhhhh! MEU PÉ!
– Faça menos barulho, por favor, querido! Você parece não ter aprendido ainda! Paciência tem limite, sabe?
– NÃO! Não faça isso, por favor. Por favor! Por fav...
Tem horas em que simplesmente me canso. Bom, vejo que já estou na minha hora. Tenho mais encomendas para fazer, sabe? É compreensível, eu imagino. Você pode ser a próxima...