O DISCÍPULO DO VERMELHO (miniconto de mistério e suspense)
O portal era dubiamente brilhante e sombrio, apesar de cinzento. Estando aqui vida comum, rotineira e sem graça, do outro lado, luzes piscantes vermelho alaranjadas, festa, orgias, cidade onde não fazer o que se deseja, é considerado pecado.
Depois de encontrar durante um passeio na floresta, um portal escondido, a curiosidade de Olavo, o fez ultrapassar aquele portal tantas vezes, que não mais se identificava como humano, deste lado. A sua vida estava um vazio, não conseguiu salvar o seu casamento, os filhos não queriam ouvir falar dele, perdeu o trabalho na fábrica, os amigos que restaram, nem lhe reconheciam mais.
Abduzido por uma certeza imensa, enfia uma muda de roupa, uma escova de dentes e uma faca, tudo numa mochila e, atravessa o portal pra nunca mais voltar.
Logo aos primeiros passos, Olavo rouba um carro, destrói a garganta do dono de uma joalheria, rouba dinheiro, relógio e joias e sem um toque leve de remorso, se hospeda na suíte presidencial de um grande hotel, come e bebe como um frade, toma posse de todas as camareiras, como se objetos sexuais elas fossem. Até mesmo o maitre da noite no restaurante, não passou em branco por suas investidas sórdidas.
A Cidade era sem lei, sem regras, valia de tudo.
Precisando de roupas, invade as melhores lojas, saqueia tudo o que precisa, deixando um rastro de sangue por onde passa.
Deita-se refastelado sobre os lençóis de milhares de fios egípcios, meio bêbado de um Black whisky 12 anos, da última esbórnia, quando recebe a visita d'uma criatura estranha, que disse se chamar Lúcifer e nem se deu ao trabalho, de entender como o camarada entrara em sua suíte. O cara se vestia de negro, com gravata borboleta vermelho reluzente, tinha cabelo curto penteado e fixado com gel, usava bigode à lá Salvador Dali e cavanhaque espesso de bode. O olhar era frio e d'um verde intenso, parecia atravessar o corpo dele. Olavo estranhou não sentir medo, apenas estava curioso.
A criatura senta-se à beira do colchão, cuja maciez e firmeza bem equilibradas, eram dignas de um rei e, pergunta com uma voz grave de tumba:
- Olá discípulo, tudo bem?
...um Olavo boquiaberto, demora uns instantes antes de sucintamente responder
- Sim
O homem de negro, lhe informa que ele está pronto. Claro que Olavo não entende e pergunta,
- Pronto como? Pra quê?
O homem da gravata vermelho reluzente e olhos gélidos, responde.
- Acaso acha que as suas ações ultimamente, saíram apenas da sua mente tôsca?
- Sou eu por trás de cada gota de sangue derramada, por trás de cada corpo violado, cada roubo e tudo o que aproveitou e, se regalou nos últimos dias. Agora chegou a sua vez de me pagar...por tuuuudo isso. A gargalhada sarcástica num tom de voz agudo, que se seguiu depois das palavras proferidas, amedrontaram Olavo, sentiu mesmo uma certa umidade entre as pernas.
- O quê fizera!
Olavo recebeu a ordem de voltar para a sua antiga vida, levaria apenas dinheiro suficiente para não precisar trabalhar, ele que alegasse ter ganho algum prêmio na loteria. A sua missão era levar outras almas para dentro do portal, melhor que fossem marginais, assassinos, pederastas ou inocentes almas maleáveis, mas, ele nunca mais faria outra coisa, exceto manter lotado o outro lado. As aliciadas almas retornariam para provocar o caos. Olavo poderia morrer nesta empreitada, mas, que escolha, vendera a sua alma.
Agora era o discípulo do Vermelho e aquele ser Supremo, no qual ele nunca confiou e, que as pessoas diziam saber de todas as coisas, por certo agora, não viria salvá-lo.