Espíritos
Quando se tem um dom e não se sabe oque fazer.
Desde pequeno sempre fui introvertido, gostava mais de ficar no meu canto, observando as pessoas. Minha mãe sempre achou isso muito estranho e até para a terapia me levou, porém, com o passar dos anos, ela entendeu porque eu sempre fui desse jeito.
Morávamos em uma chácara, meu pai já havia falecido e desde então, mamãe trabalhava fora, eu ficava em casa mais meu irmão e minha irmã. Como já havia dito, eu era muito introvertido, mas foi no meu aniversário de 13 anos que algumas coisas mudaram.
Tive uma festa de criança, com doces, balões, músicas e muita gente em casa, nossa família era muito grande. Lembro que estava sentado perto de uma janela, quando ouvi um garotinho me chamar:
- Julian, vamos brincar, hoje é seu aniversário!
- Vamos lá para fora.
Como morava em uma chácara, tinha um enorme quintal, com muitas árvores, plantas e uma pequena piscina, meu amigo desconhecido e eu fomos para perto da piscina e ficamos lá, com alguns carrinhos que eu havia ganhado de presente.
Tinha um carrinho maior, vermelho que eu me apeguei logo a ele, e em uma dessas ele caiu dentro da piscina, minha mãe já havia dito que não queria nenhum de nós perto da piscina, pois era muito perigoso, na ânsia de ter meu brinquedo de volta, pulei dentro da piscina para tentar recuperá-lo e como não sabia nadar, acabei me afogando, alguns minutos depois, todos correram para perto da piscina e minha mãe, desesperada começou a chorar e a gritar, fui levado para o hospital e fiquei em coma por 15 dias.
Em um dia qualquer, acordei e percebi que minha mãe estava perto da cama, cochilando, passei a mão em seus cabelos e ela despertou e começou a chorar, dizendo que me amava muito e que achou que me perderia, o médico entrou no quarto e quando me viu sentado na cama, quase não acreditou, pois quando eu me afoguei, fiquei mais de 10 minutos morto, como o médico disse e com isso, fiquei em coma e se voltasse, devido ao tempo que fiquei desacordado, teria algumas sequelas, porém nada disso aconteceu, acordei do coma como se acorda no dia seguinte para ir a escola. Fiquei mais uma semana no hospital e no dia de receber alta, estava sozinho no quarto e meu amigo desconhecido apareceu, fiquei muito feliz em revê-lo e começamos a conversar. O nome dele era Sebastian e tinha a mesma idade que eu, porém eu perguntei a ele:
- Amigo, o que você está fazendo sozinho aqui no hospital? Onde está sua mãe?
Ele ficou em silêncio, nada disse, apenas ficou me olhando, caminhou até a porta e foi embora. Nesse mesmo instante, minha mãe chegou para me levar para casa e eu comentei com ela e ela disse:
- Julian, você deve ter sonhado, meu filho, você passou por um trauma muito grande, vamos para casa.
- Mas mãe, eu tenho certeza!
- Esqueça isso, meu filho.
Então fomos para casa. Quando chegou lá, fui para meu quarto e qual não foi minha surpresa quando encontrei Sebastian sentado em minha cama, dai eu percebi que ele não era um menino normal, provavelmente estaria até morto, fiquei muito assustado e falei para ele ir embora, porém ele ficou me olhando e não se mexeu, apenas expressou um belo sorriso.
Nesse momento, minha mãe entrou no quarto e eu disse para ela que o tal garotinho estava sentado na minha cama, me olhando e sorrindo e ela disse que não tinha nada lá, porém, atrás da porta, tinha uma outra pessoa, era um adulto e também ficava me olhando e sorrindo para mim, fiquei com tanto medo que acabei desmaiando.
Acordei no quarto da minha mãe, em sua cama, com ela e meus irmãos ao meu redor perguntando se estava tudo bem, eu disse que sim, porém não disse porque havia desmaiado, apesar de ser uma criança de 13 anos, eu já estava quase entendendo o que estava acontecendo.
Quando completei 18 anos, já estava trabalhando, mas continuava morando naquele belo lugar, minha mãe já estava aposentada. Um dia, quando cheguei do serviço, encontrei uma senhora na porteira e perguntei se ela estava perdida e se precisava de ajuda e ela disse:
- Meu filho, não tenha medo, tudo é para seu bem!
- Do que a senhora esta falando?
- Todas essas pessoas que você ver, mas finge que não vê, são espíritos, eles veem ao seu encontro para pedir ajuda, é necessário que você os ajude para que eles fiquem em paz.
Sai correndo para dentro de casa, sem nem olhar para trás e me tranquei dentro do quarto, porém Sebastian e o outro espírito estavam lá dentro, comecei a gritar e minha mãe veio ao meu encontro, pediu para eu abrir a porta, me abraçou e disse para eu ter calma que tudo ia se resolver.
Tentei me acalmar e olhei para minha mãe e ela estava com aquele olhar que dizia: você sabe o que está acontecendo, eu não posso te ajudar, você que tem que lhe dar com essa situação, não tenha medo.
Olha, desse dia para cá, nunca mais tive paz na minha vida, todos os dias vejo uma pessoa diferente ou dentro de casa, ou no quintal de casa, algumas tem o semblante fechado, como se estivessem com raiva, outras estão mais tranquilas, Sebastian sempre está comigo, dele eu não tenho medo e ele já me explicou que são todos espíritos, assim como aquela senhora na porteira havia me dito, porém eu não quero esse dom, quero ter minha vida normal, não quero ser um estranho, esquisito que fala com espíritos, estou tentando lhe dar com essa situação, procurando ajuda e tentando entender o que se passa comigo, mas pelo visto tenho um longo caminho a percorrer e paz é uma coisa que eu não terei por algum tempo.
"Os homens semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza".
Allan Kardec