► Enterrados Vivos ◄
►1◄ INÍCIO
Quando olho este moço, estático sem vida, precisando de ajuda, lembro que eu passei por uma situação não muito boa de recordar.
Foi no Brasil.
Foi em 1912.
Foi em uma aldeia indígena.
— Doutor, ele vai sobreviver? Pergunta Lara em prantos, bom contar a você leitor, que além de doutor eu sou um Padre, e estamos em plena Guerra, a Lara que faz esta pergunta, é uma freira e tem um apreço pelo Sargento Alves. Este jovem, esta ferido, quase morto, e era um soldado, antes de estar aqui: Soldado Robson. Com a sobrevivência, veio à condecoração de Sargento. Ele passou por uma intervenção, precisou receber sangue, agora descansa. Mas olhando-o lembro da minha missão em uma aldeia indígena...
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— Padre, Fábio, você tem um grande conhecimento no idioma português, e também é um conhecedor da cultura indígena brasileira precisamos que faça uma missão humanitária em uma tribo no Brasil.
— Sim arcebispo, minha vocação e instrução competem com o pedido.
— Padre estou te convidando, pois sei do seu amor ao próximo, no entanto não será algo fácil, arremeta o horror de praticas degradantes que uma cultura nômade ainda efetua.
— Qual tribo seria esta amado Arcebispo.
— Os ianomâmis.
— Posso pesquisar a respeito da tribo e após, voltar com uma resposta?
— Pode, no entanto reitero, precisamos dos seus conhecimentos médicos Padre, a tribo esta sendo massacrada.
Voltei para o meu aposento, e começava a imaginar do que se tratava o ano de 1912 às pesquisas eram feitas por relatos, fui a uma biblioteca e li um pouco sobre aquela cultura.
Realmente há práticas pagãs condenáveis e assustadoras, porém o meu desejo de ajudar ao próximo vai além do que recusar por medo do desconhecido.
No Brasil fui recebido por um guia, era um índio iria me inserir na tribo.
— Você é branco, deve tomar cuidado, pode ser confundido.
— Confundido?
Certamente eu era um branco, até meus cabelos tendiam para o loiro, sempre tive uma preocupação com o físico, pois meu irmão morreu doente e no final da vida estava muito fraco, câncer, por conta disto, tornei-me médico e cuidava do meu porte como um militar.
— Índio ianomâmi é cruel, mata!
Eu era um Padre antes de médico, o assunto era que tinha uma tribo no interior de Roraima, estado brasileiro, e estavam morrendo de uma morte misteriosa, eu iria observar do que se tratava tal morte e também fazer a minha missão humanitária.
Estávamos adentrando a mata fechada, eu estava com a minha inseparável bata, e um facão, a noite densa se aproximava, precisávamos ser rápidos naquele emaranhado de arvores, eu nem imaginava o que me esperava dentro daquele "paraíso tropical", o verão deixava o tempo denso e abafado. Precisava agir Rápido.
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— Padre, padre, ele acordou!
Abria os olhos, estavam estarrecidos, ele me olhou e olhou o pai dele ao lado, ficou quieto assustadoramente quieto.
Desceu uma lágrima dos olhos, e ficaram estáticos.
— Filho, filho, o que foi.
Os pensamentos estavam no passado, veio o grito.
— Não, não...
— Veio à injeção.
Precisava descansar simplesmente descansar...
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Naquele caminhão estavam soldados novatos, com pouco treinamento, e uma única missão, ficar em trincheiras enfileirados com rifles que não sabiam bem como usar. Atirando a um alvo que não sabia bem onde estava. Era um inverno rigoroso, chovia. Estava Robson junto a estes soldados.
— Aqui, eu ficarão aqui...
Atacavam dentro de uma espécie de vala, feita no fronte de batalha.
Robson não sabia o que o esperava.
Na descida dois foram abatidos, por rajadas de tiros.
Robson olhou e gritou:
-Meu Deus!
Veio mais rajadas.
Ele sentiu a morte de perto, por uma sorte ou azar, algum daqueles tiros poderiam o acertar.
Eram jovens inexperientes agora dentro daquelas valas.
Chovia.
A chuva era sentida na pele, e encharcava aquela roupa de exercito.
Ele sentia o gosto daquela água, que caia na sua pele.
Rajadas de tiros.
Eram sentidos os metais de capacetes que eram acertados, em meio aquela brincadeira cruel.
Robson olhava para frente.
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— Por qual razão os olhos deles continuam assim? Perguntava o pai que segurava aquela mão sem resposta.
— Eu sei bem do que se trata este olhar.
— Sabe?
Agora, ele tomava-lhe os pulsos, Lara estava ao lado, sem compreender do que se tratava. Sabia que algo de errado estava acontecendo com aquele soldado. Fique um pouco com ele Enfermeira Lara, ele esta bem precisa de um tempo, isto é um trauma que lhe acometeu.
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O Padre Fábio deixava aquele jovem, ele que não estava bem lhe vinha às lembranças nítidas como água cristalina. Aquele olhar eram os mesmo que outrora ele presenciava no Brasil.
►2◄VERÃO
A mata era densa, e a caminhada deixará o Padre com o guia exaustos. O guia era mais preparado para tal empreitada.
Já o padre sentia o desgaste de Branco europeu, não sabia o que lhe esperava. Só sabia que estava prestes a adentrar em uma aldeia isolada, a fim de fazer uma ação humanitária. Aquela aldeia estava sendo dizimada por uma misteriosa doença.
A mata era fechada, e eu estava me aproximando do local onde seria a minha morada por um bom tempo, cobras, insetos e aves de rapinas amedrontavam o meu caminhar, eu era um estranho em meio à floresta, o índio guia, me mostrava como se portar, mas era difícil para o meu corpo entender, estava exausto, com cãibras e o desconhecido era logo ali.
— Tem que tirar essas roupas de branco, a partir daqui.
— Tirar minhas roupas? Sou um padre, e preciso delas para demonstrar o meu diferencial Cristão. Eu pensei como seria expor a minha nudez, em meio a todos nus.
Olhei ao índio que vinha em minha direção querendo fazer valer a sua ordem. E no momento me senti totalmente desprotegido, como se a bata resolvesse a minha situação.
Estava em meio à mata com um desconhecido, que era monossílabo, e agora queria tirar as minhas roupas.
Estava em meio à mata com um desconhecido, que era monossílabo, e agora queria tirar as minhas roupas.
— Tire, se não tirar eles tiram:
— Puxou um arbusto e observei a aldeia de longe, realmente estavam todos nus com adereços.
— Pai eterno tenha misericórdia de mim.
— Outra coisa, homem branco pode trazer doenças com estes panos da cidade. Aqui é mata, Aqui não necessita disto.
Realmente aquela roupa preta era inapropriada para o calor que estava sentindo, e se ver livre dela, configurava-me um alivio.
Estava quase nu, somente com as roupas de baixo. E o meu guia disse.
— Tomara que não achem que você é um Napënapëripë.
Agora ele se achegava a mim trançando com urucum desenhos geométricos no meu corpo.
Rezava em espírito era apavorante.
O que é um Napënapëripë?
— Espírito Branco, que vem pra destruir a aldeia.
Eu colocava uns adereços na minha cintura e dobrava a bata, iria usar adiante, sei que iria.
— Muito pelo contrário, eu vim salvar a aldeia.
Terminando de se 'despir' O padre cai na rocha ao lado, o grito da moça era bastante assustador, como a sua barriga.
Falou algo incompreensível, era uma índia grávida, parecia prestes a dar a luz.
Seu olhar era de pânico e parecia fugir de alguém.
►3◄INVERNO
Com o caminhão do exército estavam jovens, entre aquele aglomerado, estava Robson que iriam ser lançado em barricadas. Para exemplificar a você querido leitor, barricadas eram sacos de areia, que previamente eram dispostas em forma de muralha, e os jovens eram trincheirados em uma batalha que já estava acontecendo, ou também às barricadas que eram desníveis sejam tipos de buracos, envoltos a arames farpados onde os jovens ficavam a modo de proteger o território de defesa. Era este o cenário que esperava nosso Robson. Ele escutava o terror da guerra, gritos e disparos, entre cada trepidação daquele caminhão que parecia levar uma boiada ao matadouro.
E lá estava Robson.
Amizades? Nem se conseguia fazer, foram 6 exaustivas semanas de treinamento.
Amizades? Nem se conseguia fazer, foram 6 exaustivas semanas de treinamento. Naqueles momentos intermináveis Robson sabia que era crucial estar preparado, sendo assim, ele entendia que cada coronhada, cada xingo em forma de menosprezo. Cada ato de fraqueza da sua parte iria ser ele o próximo a sucumbir. A maturidade era algo longe do corpo de Robson, mas precisava estar bem idealizada no seu coração. O corpo sofria as mazelas do desespero da seleção natural onde separava os fracos dos fortes, Robson precisava ser forte, isto dependia a sua vida.
Neste momento, ele orava mentalmente naquele caminhão, o pânico e o pavor deveria ser controlado, ele olhava para o lado, cada um com a sua arma que lhe servia de apoio, e rostos que expressavam lágrimas contidas, e olhos que pareciam vidros e espelhos uns para os outros. Era uma sensação apavorante o barulho, o suor, e os gritos ignóbeis do veterano para prepará-los para serem lançados a fora deixavam os jovens hostilizados. -Seus frangos, fracos! Sobrevivam! Sobrevivam!
Robson conseguia olhar para fora do caminhão e entendeu o que era a barricada, as jorradas de tiros, era um caos.
O propósito da Missão era afugentar o inimigo e para isto várias barricadas Onde estavam os jovens inexperientes como Robson
O propósito da Missão era afugentar o inimigo e para isto várias barricadas Onde estavam os jovens inexperientes como Robson. Robson observava eram tiros aleatórios e desesperados. Os inimigos estavam adiante eram de outra cor o uniforme...
O caminhão parou, era ali, Robson fechou os olhos e orou. Um jovem em meio ao pânico, gritou: — Não, não pelo amor de Deus não! Foi o primeiro a sair, foi o primeiro a ser abatido. Um veterano disse:-Sejam unidos, sejam unidos, e desceu os jovens que precisavam ser rápidos, o desnível faziam presas fáceis das rajadas ao horizonte, Robson disse: -Meu Deus não! E foi ele para fora do caminhão, ele sentiu um tiro passar próximo, ele disparou também.
O caminhão se foi, estava Robson só, só não, estava com companheiros, mas parecia-lhe só, uma brisa fraca, e um chuvisco caia, os gritos eram de horror, era uma barricada que estava dominada pelo inimigo, Robson se posicionou melhor, ajeitou os sacos de areia e ficou a pronto, ele olhou a outra barricada, dominada, estava à frente, os jovens estavam mortos isto era óbvio a movimentação quietou-se por lá, e veio uma tropa que era protegida por escudos. Estava indo em direção a aquela barricada, Robson atirava, de modo a proteger os até então companheiros, de nada adiantou, a tropa era hostil, eles estava indo "depenar" aqueles vencidos. Robson entendeu que seriam eles os próximos. Os tiros eram rajadas. Robson participava de cada rajada. Olhava ao horizonte e sentia que de vez em quando um grito de horror significava que acertara o alvo. O número na sua barricada estava diminuindo, uns gritavam: -Socorro! E o sangue jorrava em meio ao cheiro de pólvora. Robson estava centrado, e precisava manter-se assim. Mas os tiros eram constantes. O desespero era geral, o numero estava reduzindo. O Massacre era evidente, Robson observou isto. Todos massacrados. Os tiros davam-se em vários locais e acertavam aquela barricada. Robson estava vivo. O sangue dos companheiros em algum momento esguichou lhe na cara.
Robson entendeu. Era o fim, aqueles que dominaram a barricada na sua frente, estavam a caminho. Ele naqueles momentos de observação entendeu como proceder. E assim o fez. Em meio aos mortos, estava Robson ele estava vivo mas precisava parecer morto. Era a sua sobrevivência que dependia daquele ato. Escondeu-se embaixo de um corpo e fechou os olhos, a tropa inimiga estava a caminho. E a vida de Robson estava em perigo. O massacre estava prestes a ser concretizado.
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O massacre estava prestes a ser concretizado
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Os olhos dele permaneciam estáticos, não falava, o Doutor receitara um calmante, na esperança dele voltar. Quando olhou para aquele jovem, compreendia o quão sofrível deve de ser passar por um trauma, ele próprio passou por algo assim. Quando adentrara naquela aldeia tropical no Brasil, a moça fiel enfermeira, ficava a observar o rapaz, mas ela não poderia curá-lo, ele precisaria ser forte.
— Traga uma ampola.
Ele preparou o remédio que traria calma a aquela mente atormentada.
— Doutor, Fábio, ele esta bem não esta?
Colocava a mão na frente do rosto dele, queria ver o reflexo da pupila, queria saber se o Jovem estava com eles. Infelizmente não estava, o Doutor conhecia muito bem, o trauma, de ser enterrado vivo, de estar em meio a uma situação que não tem controle. Parecia-lhe algo que já havia lhe acometido.
Chamou a Madre e o Pai daquele moço precisava compreender, quais as situações, lhe acometeram para lhe trazer a aquele estado de choque.
Fechou os olhos, o calafrio começou a correr na testa.
Imagens como de um filme antigo, começaram a atormentar a sua mente.
— Doutor Fábio? Esta se sentindo bem.
— Fique com ele Lara, preciso tomar um ar...
►4◄VERÃO
Estava na minha frente uma índia que parecia prestes a parir, ela gritava de modo desordenado, eu não compreendia do que se tratava, o outro índio, meu guia, tentava se comunicar com ela, pareciam brigar, eu não compreendia.
Fui atacado por ela de modo violento e estava se recuperando, sentado numa pedra, olhava para frente.
Ambos gesticulavam entre si, parecia que a índia estava desesperada.
Terminada a conversa a índia ficou me olhando de modo desconfiado e o índio veio até mim.
— Índia precisa sumir da aldeia.
— Por quê?
Estava agora eu estarrecido com a informação.
Ela parecia bastante fraca e quase ganhando o seu bebê.
-Pergunte a ela se posso examina-la, quero ver se a criança esta bem.
O índio fez a pergunta, e mais uma leva de briga entre os dois. Pareciam estarem desesperados não compreendia muito bem. Sei que algo estranho estava acontecendo.
Índia diz que foi amaldiçoada, e precisa salvar a criança que esta no seu ventre.
— Diga a ela, que eu sou um curandeiro, e posso ajudar com a criança.
Falou com a moça, ela parecia transtornada e gritava bastante. Mas aceitou.
Eu cheguei-se perto da moça e comecei a apalpar a barriga dela, estava desconfiado, pelo formato daquela barriga. Já tinha visto antes e agora ao apalpar e identificar onde estava o feto. Compreendia perfeitamente do que se tratava.
Ela chorava bastante, e estava muito nervosa.
E tinha perfeitamente razão para estar...
►5◄INVERNO
O que era um chuvisco agora se tornara uma chuva intensa, isto ajudou um pouco Robson ele estava exausto, arranhado, o corpo dolorido e com sede, abria a boca para sugar a água que caia, e com os olhos fechados precisava controlar a respiração, os corpos que estava em cima dele, dois companheiros, já estava sem vida, e ele precisava deles para esconder-se, eram três soldados inimigos que estavam fazendo a revista naquele lugar, à chuva estava bastante torrencial, quando sugava a água, Robson sentia um gosto de ferro fraco na boca, ele sabia exatamente o que era, sangue, não lhe importava, ele definia aquele sabor como o sabor da morte. Era lhe o fim. Os soldados se aproximavam. Um era bem sátiro, estava com uma espécie de arpão (é uma lança utilizada desde a pré-história geralmente utilizada para pescar. Em princípio a sua ponta é separável do corpo quando atinge a presa, no entanto esta era fixa e servia para abater as vítimas) ele enfiava no soldado morto como um divertimento, ele fazia de modo aleatório. E isto estava apavorando Robson que abrira os olhos e observava quão cruel era o ato. E estavam se aproximando. O silêncio era quebrado somente pela chuva e pelo barulho que aquilo fazia. Para Robson lembrava os dias de domingo quando sua madrasta cortava melancias para servir aos irmãos da igreja, era o mesmo som. Mas para ele era algo cortante e real.
Um agoniava na frente, parecia que estava com uma fratura exposta. O sátiro soldado enfiou-lhe o arpão e riu, os outros dois estavam recolhendo as armas que levavam em uma espécie de carrinho. Duas rodas que parecia uma caixa de um metro e meio, onde já tinha algumas armas. Um disse: -Vamos logo com isto, esta chuva esta engrossando cada vez mais. E os três se apressavam. Os tiros já haviam cessado. Somente a chuva e aquele barulho do arpão trepidando aqueles jovens corpos abatidos era ouvido ali.
Robson tentava controlar o pânico, não conseguia, os dois corpos que estavam em cima dele estava lhe apertando, ele sabia mais do que nunca que precisava ficar inerte, sem se mover. Mas não conseguia, -Não conseguia. E veio o movimento e foi brusco.
Um gritou: — Tem alguém vivo logo à frente. E Robson movimentou um dos corpos que lhe servia de proteção e esconderijo, agora era somente um.
Os três soldados apressaram o passo, mas era outro jovem, que foi satiricamente abatido bem próximo a Robson, agora livre de um corpo, Robson conseguia se manter calado, e assim o fez, os três soldados passearam na frente dele. Um arpão veio e enfiou-lhe no soldado que estava em cima. Robson sentiu que o arpão transpassara o corpo sem vida e chegara a partes da sua costela, graças a Deus o impacto foi amortecido, porém o corte foi sentido por Robson. Os três deram risadas, observaram uma luz ao horizonte, correram dali.
Era o Socorro para Robson.
►6◄VERÃO
De repente vi uma flecha voar, e pegar próximo a mim.
E pareceu do nada vários índios, impondo uma canção de guerra.
Eram gritos, eu abaixei o semblante e comecei a rezar.
Era o fim.
Seria morto por aquela tribo hostil.
A índia que não aguentava com aquela enorme barriga, fruto de gêmeos, gritava segurando um índio que parecia ser o cacife daquela tribo.
Na sua língua ele dizia.
— O deixe, é um curandeiro.
Eu começava a chorar em rezas, estava muito nervoso, formigas mordiam meu pé, não me importava. Estava desesperado.
Meu guia, tentava poupar a minha vida. Mas era eu agora o foco do ódio hostil daquela tribo.
Veio vários índios ao meu encontro, e faziam um circulo no meu corpo. Eu Gritei.
— Deus socorre-me!
O meu guia falava na minha língua.
Eles dizem que enfim apareceu a maldição da tribo.
A menina com o ventre, amaldiçoado. Com dois espíritos do mal.
E o homem branco, que ia vir na lua branca.
Ambos precisavam morrer para que a maldição deixasse a tribo.
Neste momento eu levantei e isto configurou como sendo um afronto a tribo, os gritos de guerra estavam mais alto e os índios começavam a rodear. Eu o homem branco, fato estranho para a tribo, prestes a me matar.
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Voltei, o rapaz parecia estar passando por uma convulsão, agora precisava agir. O corpo dele agora estava agitado, pareceu-me que houve alguma reação alérgica.
Lara desesperada, tentava travar-lhe os braços na cama.
Eu fiz o procedimento para tal ato, precisava neutralizar a língua, e assim o fiz.
— O que foi isto Doutor?
Olhava para o jovem que continuava com aqueles olhos estáticos, Eu comecei a suar frio, sentia que aquela sensação de descontrole, para mim foi sentida em outro momento.
A enfermeira Lara perguntou novamente.
— O que foi que aconteceu com ele Doutor Fábio.
Fui ao lado peguei uma moringa de água, e coloquei no copo, tomando aquele liquido e olhando o cenário, o rapaz, com babas pela boca, amarrado na cama. A moça me olhando com estranheza, não entendendo o que estava acontecendo. E eu tendo recordações do meu passado que não gostaria de ter.
Suava.
Fui e observei um pano, de certo era para fazer alguma sutura, porém era limpo. Meu rosto estava ensopado.
— Ele já esta neutralizado. Agora descansará. Isto se chama: -Convulsão. Marque na ficha dele para não aplicar mais aquela ampola, com aquele tipo de analgésico.
Ela me olhava assustada, 'parecia ter quase matado o moço, eu poderia ficar horas explicando como um efeito alérgico é desencadeado. Mas realmente meu psicológico não estava bom, precisava se ausentar e deixar um pouco aquele cenário.
Tomei eu um analgésico.
Olhei para o relógio, iria descansar um pouco... Mal sabia eu o pesadelo que me esperava.
Deitei no meu quarto e o analgésico começava a surtir efeito, estava muito cansado, o dia era intenso, um hospital improvisado em um convento, era isto que cuidava, as freiras ajudavam, mas as coisas práticas e decisões eram comigo. Vivia uma vida tensa. As lembranças do passado também me atormentavam. Olhar aquele jovem que por alguma razão encontra-se traumatizado desencadearam reações que há tempos não sentia. No Brasil senti o gosto da morte de perto. Quando fui enterrado vivo.
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Levantei daquela cena, não poderia simplesmente entregar-me a morte sem lutar. Os índios, tais como animais, exploram o seu medo. Sentia medo, quem não sentiria? No entanto a minha sobrevivência necessitava de uma atitude minha.
Gritei ao Guia:
— Fale a eles que somos amigos, viemos ajudar, que poupem a nossa vida.
A índia Gritava:
E aqueles índios rodeavam me de modo assustador apontando aquele arco pontiagudo
E aqueles índios rodeavam me de modo assustador apontando aquele arco pontiagudo.
O índio guia gesticulava, e tentava contornar a situação.
Depois daquela dança estranha os índios que me rodeavam já me deixaram, isto configurou a mim um alívio, estava salvo.
O barulho cessou, pareciam quietos.
Até mesmo a índia que estava bastante alterada acalmou-se, falava qualquer coisa passando a mão na barriga que parecia estourar.
Olhei pra frente e sorri.
Estava salvo certamente. Tudo não passou de um mal entendido, que o índio guia conseguiu contornar.
Na frente de longe olhei um índio, estava prestes a cuspir algo na minha direção. Depois descobri tratar se de uma zarabatana.
Depois descobri tratar se de uma zarabatana
Foi rápido, senti um leve picar no pescoço.
Olhei para frente, tentando me apoiar, em vão já cambaleava. A visão começou a ficar turva.
Eu dizia: -Fale para ele que somos amigos, poupem a nossa vida...
E estaria à mercê imóvel estático e pronto para a minha condenação.
►7◄ INVERNO
O desespero da morte
A chuva, aquela luz, eles me viram? Não consigo manter os olhos abertos...
Será que alguém vai vir me socorrer? Eu estou com sono, o sangue esta ensopando meu uniforme de exército, este gosto de sangue na minha boca...
— Ei aqui! Se ao menos conseguisse gritar para eles. Parece-me uma mulher, a luz vem de lá. É um carro. Meus olhos estão pesando...
— Preciso gritar, eles precisam saber que eu estou aqui!
O gosto do sangue refresca a minha boca, a chuva refresca o meu corpo. Meu Deus a morte, que situação terrível estou vivendo. Meus amigos estão mortos envolta de mim. E parece que eu serei o próximo...
— So-co... Não consigo gritar, não consigo me mover, eles precisam saber que estou aqui, eles precisam salvar a minha vida. Eu não quero morrer neste lugar...
— Socorro, o pedido sai fraco, a luz parece estar se aproximando. Deus, não me desampare, me socorre Deus... Os olhos do soldado Robson já não conseguem se manter abertos, ele olha e vê imagens ofuscadas ele sente que o corpo já não corresponde aos pensamentos...
O pensamento agora é na noviça, naquele momento que a abraçou, sente vivido o abraço os olhos, o cabelo, lembra-se de todos os momentos que esteve a observar no convento. A imagem vai ofuscando, ele sente-a nos braços...
Mesmo sem ver nada tenta mais uma vez gritar, ele junta todos os seus instintos para o grito que mesmo assim sai fraco, a morte já esta no gosto da saliva.
— Socorro, pelo amor de Deus me socorram, eu não quero morrer aqui. Ele empurra o outro corpo que mole e inerte cai o jovem com a testa machucada, abre os olhos intactos com as pupilas dilatadas, Robson não as vê mas sente que estava se aproximando o momento de estar com ele. Movimenta-se mais uma vez, parece que alguém se aproxima...
— José, José, encontrou alguém com vida? Falava deste modo a Freira Antônia que estava fazendo o resgate naquela trincheira de guerra, José era o motorista.
— Parece-me que não irmã, um verdadeiro massacre, tantos jovens aqui...
A irmã passeia, fechando os olhos dos que já se encontravam sem vida, tentando encontrar entre aqueles alguém que pudesse resgatar...
José vai à frente e observa um jovem com uma fratura exposta... Ele grita, sai sufocado o grito. Por favor me ajuda... José chega, e observa à gravidade do ferimento, era no fêmur, o osso estava exposto, e o sangue já tinha sucumbido do corpo. José pela experiência sabia que era seus últimos momentos, a freira foi adiante escutou um ruído e foi observar.
A chuva castigava aquele cenário apocalíptico.
José chega e apoia o jovem nos seu colo tentando nina-lo tal qual faz a criança.
— Senhor, Senhor, eu estou morrendo, eu sinto que estou... morren..do...
José olha para aqueles olhos quase que sem vida e começa a recitar o salmos 23.
E fala ao Jovem.
— Você acredita que Jesus é o teu salvador e aceita-o de todo o seu coração?
— Sim acei...to...
E a vida sucumbiu daquele jovem, o José motorista faz uma oração, nela entrega à vida daquele jovem...
A Freira grita de longe...
— José, corra aqui tem um jovem precisando de ajuda, esta com uma hemorragia muito grande, socorro José!
José olha para o jovem, que finaliza o processo tremendo o corpo em um ultimo sinal de vida... José chora, não conseguia suportar ver aquela cena e disse: -Senhor tenha misericórdia desta vida....
Deixa-o fechando os olhos dele...
Agora esta a caminho da freira Antônia. Cabe informar, que Antônia é a Madre Superiora de um convento das redondezas e José estava servindo como motorista. Os dois tinham esta incumbência de ir ao campo de batalha para buscar os que sobreviviam para trazer para o hospital de campana que nos mesmos moldes, foi feito em vários conventos daquele lugar.
José tinha a sua motivação pessoal para agir assim, e sempre que possível fazia a oração e o apelo para quem estivesse no instante da morte, já Antônia era uma socorrista experiente conseguia salvar vidas, aquela dupla se fez, mesmo com divergências religiosas, em tempos de guerra a sobrevivência e o ajudar é o que motiva as pessoas a não desistirem.
— Rápido José, traga algo para fazer um torniquete, ele esta esvaindo em sangue.
A freira pegava o jovem e tentava medir o pulso, não o encontrando.
— Meu Deus tenha misericórdia desta alma... Rápido José. José corria, em meio aos tropeções em entulhos, corpos e muita madeira daquele lugar inóspito parou e rasgou de modo desesperado uma roupa de um abatido soldado, sabia exatamente o que estava fazendo pois já havia feito antes precisava de um pedaço relativamente grande para estanquir o sangue da tal hemorragia.
A freira apertava o ferimento para fazer o sangue parar de verter.
A chuva dificultava as coisas, mas deixava o ambiente pelo menos ventilado.
— Meu Deus, estou perdendo ele! Disse a freira pegando rapidamente o pano para fazer a compressa no ferimento e estanquir o sangue.
José olha ao rapaz, e vem um grito de desespero...
— Meu Deus!
A freira olha e começa a rezar... Continuando o seu trabalho
— Meu Deus, não, Meu Deus!
A freira se assusta entendendo que a reação do motorista era um tanto quanto exagerada, ele já era acostumado com tais casos, até piores, tendo em vista que os dois faziam recolhimento dos corpos por diversas vezes em outras oportunidades...
— Pai, não, não deixe o ir, e chorava tentando ajudar a madre fazer o seu serviço.
— Calma, José é apenas mais uma alma sofrida desta guerra, somente isto.
— Não irmã... Este é o Robson meu filho!
►8◄VERÃO
Enterrados vivos
Abro os meus olhos.Fico estarrecido com a visão.
Parece-me um pesadelo.Mas não é.
Tento movimentar as pernas.Sem sucesso.
Tento movimentar meus braços.Sem sucesso.
Tento falar.Também não consigo.
Estou sendo carregado por índios numa espécie de rede de pano.
Escuto um choro.
Parece-me de Bebê.
O pano encobre a minha visão.
Há gritos lá fora.
Parece que chegaram onde queriam.
Me jogam.
Tiram o pano com um movimento brusco.
Agora sei do que se trata.
-Meu Deus!
A criancinha do outro lado também passará pelo mesmo fim que eu.
Começam a jogar terra naquela criança indefesa.
— Eu serei o próximo.
A cova é rasa.
Cai uma chuva fina, típica de verão.
Eu tento gritar mas não consigo meu corpo esta amortecido, parece-me que foi daquela picada, alguma coisa anestésica passa por mim.
Mas vejo.
Meus olhos estão vidrados. Não queria ver a cena. Mas estou a observar.
Os índios nesta dança estranha.
O índio atacando terra na criança.
Enterram-na viva.
Vejo. Sim eu vejo aquele amontoado de terra se mexer.
A criança agora chora um choro abafado.
Eu entendo o que vai acontecer comigo. É também uma cova rasa. Cabe somente o meu corpo e nada mais.
Sinto o cheiro da terra.
A água que cai faz me entender que serei eu o morto vivo a ser enterrado.
Mas antes vejo outra cena bizarra.
No meu lado jogam sem dó a outra criancinha.
Eram gêmeas.
E começam aquele funestro ritual. A criança nem compreende nada. Indefesa aceita o seu destino. Parece que acabara de nascer.
Enquanto a outra se contorce na terra tentando em vão escapar do seu cruel destino.
A minha companheira do lado esta chorando desesperada querendo a mãe, querendo se alimentar, certamente. E nem compreende o que irá lhe ocorrer.
— Jogam-na e quando cai, varias mãos começam a enterrar, falam muito, não compreendo o que parecem cantar alguma coisa. E a criança chora. E a terra cai nela. Meu Deus ela chora! Senhor Jesus Cristo eu não acredito no que estou vendo. Ela também esta sendo enterrada viva!
E depois daquele monte ficar movimentando-se dizendo deste modo que ali tem vida. Começam a me enterrar também.
Eu tento em vão gritar.
Eu tento em vão sair, não consigo meu corpo formiga por completo.
Só meus olhos estão abertos, vem um índio e olha bem no fundo. Posso ver o meu reflexo naquelas Iris. Tento demonstrar compaixão. estou submisso totalmente desprotegido. Pai do Céu não quero morrer aqui e agora esquecido nesta mata!
A mata, grilos e o barulho do vento. São o meu cenário e a chuva fina um alento ao sofrimento.
Aqueles índios são rápidos na crueldade.
Sem força aceito meu destino.
A terra fofa, pelo menos isto dá um certo alívio.
E as mãos apalpando-as com violência. A fim de me enterrar.
Começam a atacar a terra no meu rosto.
E o meu corpo começa a sentir o peso daquela terra.
— É o fim, simplesmente o fim!
Fecho os olhos tentando orar um pai nosso.
Em vão o sono vem, junto com o silêncio. A morte chegou.
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Não sei quanto momento fiquei daquele modo, só sei que há um certo tempo surgiu o meu guia, começou a desenterrar-me, começou sabiamente pelo rosto, cuspi a terra, agora parecia me mexer, estava vivo, estava livre daquele entorpecendo que me anestesiou e agora conseguia falar.
— Homem branco, esta bem! Meu Deus, te procurei por todos os lugares, e nunca que imaginava que te encontraria aqui.
Agora respirando, abro a boca com bastante dificuldade cuspo terra que estava me sufocando, tinha gravetos naquela terra, estava rasamente enterrado: Minha salvação. O índio queria continuar me desenterrando. Ele balbuciava coisas do tipo:
— Nunca deveria ter te trazido aqui, yanomamis são cruéis, nem sei por que eles me soltaram. Perdão homem branco, eu não sabia me vendaram e depois me soltaram na mata, vim atrás do cheiro forte.
— Sim eu deveria de estar com alguma colônia barata, que uso para me barbear, tornava meu cheiro diferente.
Eu olhei para o lado a terra estava quieta.
Eu olhei para o outro lado a terra de modo bem fraco começou a se mexer.
— Meu Deus, me deixe aqui, tire a criança dali ela parece viva.
E o índio começou a desenterrar a criança.
E depois a outra.
Uma não sobreviveu.
A outra criança eu consegui salvar, depois de me desenterrar, fiz um método de ressuscitamento, massagem que outrora fiz em outros recém-nascidos, nas minhas missões como um médico que sou.
Chorava, estava traumatizado, vi uma criancinha sendo enterrada viva. Não consegui salvar.
Eram duas indiazinhas, depois de limpas, infelizmente tive que deixar a irmã naquela cova rasa. E a outra levei comigo.
Após voltei para aquela tribo, com uma caravana maior.
Pareceu-me isto.
Houve índias que foram sequestradas por garimpeiros que as violentaram. E isto trouxe crianças sem pai.
O chefe da aldeia configurou isto como mau agouro.
Nasceu muitas crianças de mãe solteiras naqueles tempos.
E isto fez enterrarem perto de um rio.
Tomavam aquela água. E isto estava acarretando problemas, doenças entre outras coisas, senão houvesse uma intervenção certamente aquela tribo realmente seria dizimada.
A indiazinha nunca mais voltou para aquela tribo, levei-a comigo para a Europa.
Com muito custo e paciência, demonstrei a aquela tribo, que tal ato cruel, não era cristão. Ensinei sobre o Cristianismo. Tempos difíceis e com a ajuda da caravana consegui passar minha mensagem. Fiz meus trabalhos sanitários, foi sim uma intervenção arriscada, mas necessária, pois a tribo iria morrer aos poucos.
E agora me levanto encarar meu paciente.
O meu sono foi um pouco atribulado, imagens daquele dia vieram. Sempre vem, devo aprender a conviver com isto. O meu trauma. Daquele infanticídio, do meu quase morrer.
Sei que aquela prática é comum no Brasil, depois estudando descobri, que não é somente mães solteiras que tem seus filhos enterrados vivos, há também os casos iguais o da minha Poti, que é filhos gêmeos. E também os mais cruéis, que são de crianças com manchas no corpo e deficientes físicos, anãs. É o modo que eles encontram para fazer a seleção do bom.
Descobri que só depois de mamar nos seios da mãe que consideram um ser vivo a criança. Quanta hostilidade, naquelas culturas pagãs.
— Lara alguma reação do paciente?
Nada doutor, parece estar sonhando acordado.
Os olhos daquele moço abertos, estáticos e sem reação pareciam os meus naqueles momentos.
Paciência queria Lara, vamos dar tempo ao tempo. Ele logo voltará.

5350 palavras
Observação do Autor; Este conto se passa entre um período de inverno e verão entre os anos de 1921 a 1926. Fez parte de um concurso de escrita tendo suas 470 leituras no Wattpad e recebeu menção honrosa neste concurso oficial do perfil SuspenseLP
Waldryano
Enviado por Waldryano em 18/04/2018
Reeditado em 07/08/2019
Código do texto: T6312346
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