O subir das Águas
"Rivania, minha filha, corra e pegue o que suas forças suportar. Salve o que puder. Com a enxurrada de água ninguém pode e as enchentes carregam até gente. Está ficando para trás a cafeteira, o liquidificador, o saco amarrado com o cadeado, o andador, o berço, a vela de 1 ano para enfeitar o bolo de aniversário e a lembrancinha que compramos para seu irmãozinho, o único rolo de papel higiênico e os três urinóis. Corra Rivania, antes que a água cubra você dos pés à cabeça. Mexa-se, Rivania, ôô menina preguiçosa que eu tô criando, sô! Num parece com a vó dela nem um pouco."
Mal sabia a vó que a neta já havia salvado o que estava ao seu alcance. E por opção e prazer pela leitura, agarrara no peito a sacola de livros, que segundo a mocinha de 8 anos, o seu futuro está em cada linha de cada um deles. E após a leitura de todas elas, faria a sua revolução particular. Acreditava que a revolta constrói... revoluciona. Modifica pensamentos. Tomba monumentos. Reedifica castelos; enquanto que na passividade, tudo é pacífico; até a tormenta que aderna a embarcação dos corsários inimigos nas águas do oceano Atlântico.
- Rivania, minha neta, socorro! Cadê ocê? A água tá subindo; cobre os meus joelhos. Estou trôpega. Socorro! Alguém pode me ajudar? Nesse momento, os meus gritos não ecoam além das paredes. Socooorro!
Seja na Terra, na água ou no ar, viver é uma luta constante e exige as múltiplas inteligências contidas nos livros para driblar as muitas ignorâncias contidas nas enciclopédias das guerras. Porém, contra os fenômenos da Natureza, pode haver explicação, mas não há negociação plausível de aceitação por Podeison, o deus dos mares e das chuvas. Por estar ligado à Natureza e a ditadura das águas, esse deus detesta a democracia dos homens!
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