RESUMO VISITANTE NOTURNO 

 
          Os raios cruzavam o céu, a noite era intensa, neste momento a única luz era dos raios que desciam um após outro. Comecei a contar em voz alta quando aconteceu um trovão, isso eu aprendi ainda menino do sertão aonde nasci.
         Você começa a contar e se no final da contagem o número for maior, isso quer dizer que a chuva tá indo para longe, mas se o número for menor, isso quer dizer que a chuva se aproxima cada vez mais.
          Na terceira contagem descobri que a chuva estava indo embora, a noite ia ficar com o resto dos respingos da goteiras dos telhados e das árvores. A energia como de costume quando chove fica caindo e voltando, dando aqueles picos que acaba estragando aparelhos elétricos.
          Por algum tempo fiquei parado frente à janela observando a chuva indo embora e os raios diminuindo, pressenti algo, mas não me atentei para o que era. Os cães estavam em suas casas, aquela chuva, os raios e os trovões os assustavam e delas eles não iam sair tão cedo.
          Enquanto observava os raios descendo das nuvens carregadas a energia da rua do condomínio acabou novamente, a escuridão tomou conta, agora apenas os raios iluminavam o condomínio de vez enquanto.
          Sem perceber acabei fixando meu olhar para o portão principal, e durante dois raios seguidos permaneci olhando-o fixamente, antão veio um pressentimento e no terceiro raio uma grande sombra se fez diante do portão, inicialmente não acreditei, mas a sombra aparentemente humana era fora do comum, logo veio em minha mente a imagem do Visitante Noturno.
          Aguardei ansioso outro raio, e este parecendo saber de minha ansiedade demorou mais que o normal, meu coração começou a bater tão forte que achava que alguém poderia escutar, parecia querer sair do peito.
         Por fim veio o raio, como estava aguardando ansioso esperei o momento certo e novamente vi aquela imagem, estava ali novamente diante do meu portão, aguardei a reação dos cães, mas estes não apareceram, pareciam despercebido da situação, talvez os trovões e o raios os amedrontassem.
         Inesperadamente a energia voltou, mas parcialmente, isso deixando a rua e o portão em pouca luz. Tentava observar melhor, procurava uma posição mais exato na tentativa de confirmar minhas suspeitas, mas a dificuldade era grande, a distância e a pouca luz não dava para ter certeza, neste instante lembrei de meus óculos, o peguei na cômoda e novamente diante da janela observei melhor.
         Aquela imagem novamente me enchei de medo, ali estava parado, o Visitante Noturno. Seu tamanho, suas roupas e o capuz confirmava a veracidade que meus olhos registrava.
          Por estranho que pareça de alguma forma estávamos em sintonia, pois percebi que o Visitante Noturno sabia de minha existência e eu sabia da sua naquela noite ainda com resquícios de chuva.
          Estranhei sua reação, pois como eu ficou parado olhando em direção a janela sem intenção de fazer qualquer movimento. Por algum tempo, não sei quanto, ficamos assim, um esperando a reação do outro.
          Numa reação do meu subconsciente voltei ao estado normal, percebi que algum perigo ocorria naquele momento, minhas filhas estavam dormindo no quarto mais ao fundo da casa, com duas janelas amplas um ser daquele tamanho poderia invadir facilmente.
          Meu coração voltou aos seus batimentos normais, foi quando respirei melhor e percebi que ele estava ali diante de mim, e era só aguardar sua reação que eu também iria reagir, não sabia como, mas tinha essa convicção.
          Novamente um tempo não cronometrado tomou conta, não sabia quanto tempo fiquei ali parado o observando, percebi que o Visitante Noturno não reagia, ficava ali estático, isso me deixou intrigado e aguardei sua movimentação.
          Novamente aconteceu outro pico de energia, por algum tempo tudo escureceu, meu coração voltou a disparar enquanto aguardava o restabelecimento da energia. Subitamente a energia voltou e o Visitante Noturno estava no mesmo lugar escondendo seu rosto naquele capuz de cor cáqui.
          Após a confirmação visual daquela imagem fiquei mais tranquilo. Notei no entanto que alguma coisa o fazia virar seu olhar, hora para um lado, hora para outro. Neste instante um assobio agudo e intenso ecoou, isso me fez pensar na reação dos cães, mas nada aconteceu, nenhum cão apareceu correndo e latindo pelo quintal até o portão.
          Outro assobio ecoou, agora mais forte. Percebi que apenas eu ouvia o assobio, não havia reação dos cães, de minha mulher que dormia tranquilamente e minhas filhas que permaneciam no quarto calmas.
          A posição do Visitante Noturno parecia ser estratégica, pois me chamava atenção e sem reação permanecia à janela o observando.
          A chuva agora cessava de vez, restando apenas uma leve neblina que se arrastava levemente por causa do forte calor que fazia.
          Aquela situação parecia desconfortável para mim e não para ele, pois parecia tranquilo empacado ali no portão enquanto eu ficava na janela aguardando sua reação, não tinha a intenção de acordar minha mulher para que não se assustasse e provocasse uma reação em cadeia com milhas filhas, isso poderia provocar uma situação ainda não analisada, não sabia sua real intenção.
          Um barulho me chamou atenção, alguma coisa estava no sótão, quem poderia, pois não tirava os olhos do Visitante Noturno, quem poderia ser. Novamente o barulho se fez e dessa vez dava para perceber que era mais de uma pessoa ou coisa lá em cima.
          Naquela situação não tinha muita opção, tinha que ficar de olho grudado no Visitante Noturno e aguardar a reação dos cães. Isso não ocorreu e para aumentar meu desespero um assobio ecoou, agora do alto de minha casa, provavelmente do sótão.
         Me vi atado, sem qualquer reação, ficava aguardando a reação do Visitante Noturno parado no meu portão e ao mesmo tempo tinha que tomar alguma providência sobre os possíveis visitantes no meu sótão.
         Lembrei que a passagem do sótão para dentro de casa tinha planejado muito bem, não era muito fácil chegar, havia feito várias trancas e reforçado a porta de acesso, sei que para um ser daquele tamanho não seria muito difícil, mas o atrasaria e acabava acordando todo mundo chamando atenção com o barulho.
          Ouvia nitidamente as pisadas no sótão, não sabia exatamente quantos seriam, pois se fossem do tamanho do Visitante Noturno, dois já eram bastantes barulhentos.
          Um raio claro cruzou o céu, a energia acabou subitamente, nesse instante os assobios se revezaram, eram intensos. Ouvi um grito de uma das minhas filhas, sem pensar corri em direção ao seu quarto. Os assobios agora se revezavam com um intensidade maior.
          Quando abri a porta do quarto minhas duas filhas estavam abraçadas com os olhos arregrados e assustadas, alguma lágrima tentava cair, mas parecia tão assustada que demorava a se formar dentro de seus olhos.
          Tentei acalma-las, mas pareciam irredutíveis, o medo em seus olhos era puro pânico. Com um pouco de paciência as acalmei, não deixei que acendesse a luz, pois o pico de energia era constante e isso iria assustá-las mais ainda.
          Lembrei-me de minha mulher que a deixei só, voltei rapidamente ao meu quarto e para minha surpresa ela estava na janela observando o Visitante Noturno com calma, cheguei calmamente e parei ao seu lado como se nada tivesse acontecido e puxei conversa em voz baixa:
     - O que você vê ali no portão, parece que tem algum vulto lá. – Disse calmamente para não ver usa reação.
     - Ele voltou, acho que vem pegar nossas filhas, sabia que um dia ele iria voltar. Quando partiu da última vez, vi em seus olhos que voltaria. – Disse minha mulher como se previsse algo.
     - Isso eu não vou permitir, lutarei até a morte, mas eles não vão leva-las. – Disse assustado e ansioso.
     - Eles, você disse eles? Pensei que era só um, aonde estão os outros? – Disse minha mulher agora mais assustada.
          Apontei para o sótão com o dedo indicador para afirmar minhas suspeitas e aguardei sua reação, isso me deixou mais apreensivo, pois sua reação foi imprevisível, parecia conformada com aquela situação.
     - Você viu o tamanho dessas criaturas, como acha que vai impedir que eles as levem, sabe que de outra vez sumiram duas crianças da região e ninguém sabe para onde foram, não há vestígios e sinais de seus fins. – Disse minha mulher desolada.
     - Não sei como vou combate-los, mas que vão ter muito trabalho, vão. – Disse convicto de minha reação.
          Nossa conversa foi interrompida com um grito vindo do quarto das minhas filhas, corri rapidamente em direção das duas e quando cheguei presenciei outros três Visitantes Noturnos tentando abrir as janelas de vidro temperados. Tinha optado por umas janelas mais resistentes, isso os faziam ter mais dificuldade de abri-las. Mas sabia que não era por muito tempo.
          Meus cães pareciam paralisados, não reagiam ou estavam mortos. Naquela situação não podia contar com mais ninguém, apenas nós ali naquele momento poderíamos combater aqueles seres de mais de três metros de altura.
           No condomínio as casas eram um pouco distantes uma das outras e após aquela chuva ninguém se aventurava em sair para ver ou saber o que acontecia nas imediações, tínhamos que resistir de qualquer forma.
          Um assobio mais agudo e intenso parecia ser o tipo de comunicação entre eles, sabíamos que esse assobio vinha de Visitante Noturno parado no portão, esse vigiava a rua e as intermediações enquanto os outros faziam o serviço.
           Estava disposto a reagir e naquela noite os Visitantes Noturnos iam embora sem levar outras vítimas, minha vida estava em jogo, mas tinha que resistir. A casa estava toda fechada, sabia que os vidros não iam resistir por muito tempo, mas tinha que tentar assusta-los de alguma forma.
          Novamente veio um barulho do sótão, agora com mais leveza, as pisadas parecia muito mais leve, sua característica era de alguém de pequeno porte. Aquela situação era intrigante, uns seres grandes quase entrando em casa e agora uma pisada denunciava outro invasor no sótão.
         Uma batida foi feita na porta reforçada que dar acesso ao sótão, era como se alguém de alguma forma quisesse que abrisse. Me aproximei da porta e dava para ouvi a batida tentando uma comunicação e não uma tentativa de arrombamento.
          Chamei minhas filhas e a mulher para próxima a porta do sótão e de alguma maneira pressenti que ali não tinha um Visitante Noturno, talvez ali estivesse uma solução ou uma saída para nossa situação.
           Ouvi o barulho de um vidro da janela sendo quebrado, minha reação foi espontânea, abri a porta do sótão acreditando no inacreditável. Um homem surgiu carregando em suas mãos duas pistolas estranhas contendo carregadores de uma espécie de luz azul.
          Logo sem se identificar se pensionou a nossa frente com suas duas pistolas estranhas nas mãos e se preparou para atirar. O primeiro Visitante Noturno que apareceu recebeu um disparo fatal, a luz azul o queimou rapidamente, outro também acabou recebendo um disparo e também caiu queimando no chão.
          Um assobio agudo e intenso foi ouvido e o terceiro Visitante Noturno fugiu antes de ser atingido pelo raio azul da pistola estranha. Olhando pela janela quebrada o estranho ver quando os dois Visitantes desaparecem assim como sugiram.
           Não sabia o que fazer, se agradecia, se perguntava quem era e de onde tinha surgido aquele cidadão com aquelas pistolas estranhas. Logo recobrei a noção e comecei a fazer perguntas:
     - De onde o senhor vem? Quem é o senhor? Como apareceu aqui? – Disse-lhe enchendo-o de perguntas.
     - Calma amigo, sei que é estranho, mas vou lhe responder todas as perguntas. – Disse-me com calma o senhor estranho.
     - Pois estou lhe aguardando, já bastava estes Visitantes Noturnos, agora um senhor com pistolas estranhas. – Disse com anseio.
     - Pois bem, vou lhe dizer. Começa a falar enquanto se senta numa cadeira próxima. - Sou um caçador, você pode imaginar que seres deste tipo existam poucos por ai, mas se engana, hoje temos muitos desaparecimentos em todos os lugares e pode observar que grande parte dos desaparecidos nunca volta. – Continuou a explicar o estranho. – Venho procurando estes seres por todos os cantos, eles são os responsáveis pelos os desaparecimentos em vários lugares do mundo, e enquanto eu puder combate-los, irei fazê-lo, são seres Intraterrenos, vindos de Létha e outras cidades das profundezas da terra, estes são oriundos da caverna da Serra do Roncador. – Continuou explicando o estranho. – Estes seres vivem circulando por baixo da terra há muitos séculos, não sabemos seus reais motivos, mas vivem roubando nossas crianças e levando para as profundezas.
     - Como isso vem acontecendo e ninguém toma providência, o estado, as nações nunca tomaram providência. – Falo com um pouco de raiva e indignação.
     - Não fique com raiva amigo, as autoridades nunca os reconheceram como povo invasores e se descobrirem alguma coisa vão dizer que são de outros planetas, mas sei que são daqui mesmo e vivem a tanto tempo quanto nós, a única coisa que os incomodam é a luz do sol, apesar que chegam a resistir algum tempo, mas inventei estas pistolas que emitem raios ultravioletas, esta luz eles não resistem, deu para ver que eu não estou de brincadeira. – Disse o estranho com autoridade.
     - Como que o senhor entrou nessa história, como vem combatendo seres que poucos conhecem e até duvidam de sua existência, por acaso perdeu filhos ou parentes para estes seres. – Falo aguardando uma resposta afirmativa.
     - Sim, além de perder meus três filhos raptados minha mulher acabou sendo morta ao tentar impedi-los, isso nunca me saiu da cabeça e antes de morrer ela me pediu para resgata-los e eu prometi que iria fazer isso, nem que fosse a última coisa que fizesse. – Diz o estranho com olhar sombrio.
     - Estamos um pouco longe da Serra do Roncador, tem outras cidades próximas, por que eles chegam tão longe, isso tem alguma explicação? – Pergunto curioso, pois estamos longe de Mato Grosso.
     - Tem sim! Como já venho há muito tempo investigando estes seres e suas intenções descobri que fazem seleção de jovens para leva-los ao subterrâneo. Em noites de chuva e névoas algum deles perambulam pelas a cidades procurando estes jovens que querem lavar, acabam voltando depois como foi feito com sua casa. Suas filhas por algum motivo foram selecionadas, isso ainda não conclui como é essa seleção, mas quando descobri terei uma vantagem para antecipar suas ações e combatê-los. – Diz o estranho com convicção.
     - Como minhas filhas foram selecionadas quero fazer parte de sua luta, sei que parece loucura, mas vou ajuda-lo nessa luta, acredito em tudo que me disse, farei tudo para salvar minhas filhas. – Disse com bravura querendo fazer dupla com o estranho.
     - Realmente preciso de ajuda, mas tem que saber que sua vida corre perigo, podemos não voltar dessa luta, sei que tenho que ir até o fim, meu primeiro objetivo é pegar um deles para me guiar até a entrada da caverna, mas são resistentes, morrem mas não se entregam. – explica o estranho.
     - Sei do perigo e vou correr esse risco pelas as minhas filhas. Tenho uma ideia e se fomos até a Serra do Roncador. – Disse procurando me entrosar.
     - A ideia é boa, mas e os outros que estão por todos os cantos, não sabemos quantos são e se fomos até lá muitos jovens poderão serem raptados e corre o risco de não resgatá-los a tempo, inclusive suas filhas estão nesta situação. – Explica o estranho me convencendo.
          Aquela noite estava longe de findar, convidei o estranho para pernoitar em minha casa, aproveitaríamos para colocar nosso plano em ordem e no dia seguinte tentar descobrir se outros jovens tinham desaparecidos após aquele temporal, situação comum para os últimos desaparecimentos.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 20/10/2014
Reeditado em 18/05/2019
Código do texto: T5006248
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