MISTERIOSA MULHER DO POÇO AZUL
 
          Cheguei já bem tardezinha e vagando pelo cerrado observei pelos dois lados da simples estrada de terra com difícil acesso ao Poço Azul que a paisagem era invariável, impessoal, sem expressão, uma escassez de vegetação, um ocre sem riqueza de sombras, era tudo que se podia vê ali além da poeira que meu carro levantava.
         O calor estava intenso, o sol ainda muito quente reinava no céu ainda sem qualquer nuvem vagando pelo céu azul. Após algum tempo avistei as cachoeiras do Poço Azul, parei por um instante e vi quanta beleza havia ali.
         Chegando bem perto do Poço Azul fui recebido por meus amigos que logo se manifestaram:
    - Isso e lá hora de chegar a um paraíso desses, está chegando bem na hora que estamos indo embora. – Diz João Paulo fazendo cara de descontente.
     - É mesmo, você perdeu o dia cara, estamos aqui desde cedo, essa água e maravilhosa, já estamos enjoados de pular lá no poço. – Diz Silas sorrindo querendo me fazer inveja.
     - Vocês sabem por que não pude vir mais cedo, tinha umas coisas para resolver, vocês sabem o quê? – Falo com um pouco de angustia no peito.
     - Eu sei muito bem, foi tua namorada que não quis vir e te deu ultimato. – Diz Silas com tom de gozação.
     - E ai acabou ou ela te deixou vir sozinho, coisa que não acredito. – Diz João Paulo tentando chatear ainda mais Ricardo.
     - Vocês acertaram em parte, mas fui eu que caí fora, ela queria me controlar, mas agora estou livre e vou começar a curtir minha vida hoje mesmo, e aqui é que vou começar. – Falo com um jeito ainda bastante emocionado.
     - Começar como, tá todo mundo indo embora, você vai ficar sozinho aqui meu amigo, deve tá ficando doido. – Diz Silas tentando alerta-me ou acorda-me para a realidade.
     - Não se preocupem, observei muito bem por aonde vim, vou voltar tranquilo, pode deixar, vão embora que eu fico bem. – Falo com propriedade e com voz firme.
     - Tudo bem, vamos chamar as garotas e vamos sair antes que escureça, mas vê se vai embora logo, vamos te esperar para sairmos à noite pra balada. – Diz João Paulo convidando-me para uma noitada na balada.
     - Não se esqueça de que hoje é sexta feira 13, não vá arrumar uma alma penada para se apaixonar, de carne e osso é bem melhor. – Diz Silas sorrindo em tom de gozação.
     - Tudo bem amigos, estarei lá antes da meia-noite. – Respondo com um leve sorriso no rosto.
          Cheguei mais perto da cachoeira e comecei a observar as quedas d’água, o barulho das corredeiras invadiu meus ouvidos por algum tempo sem que eu percebesse. O dia tinha sido muito quente e isso ia adentrar a noite, poderia ficar ali pensando em mina vida até bem mais tarde naquele calor já menos intenso.
          Sentei em uma pedra, olhei para todos os lados, não havia mais ninguém no Poço Azul naquele final de tarde do feriado de sexta feira. Pequenas partículas de água trazida pelo vento chegavam ao meu rosto amenizando o calor, sentia aquele frescor e respirava o ar puro que ali ainda era farto.
          Ainda sentindo as pequenas partículas de água no rosto observei que o sol começava a se esconder por trás das montanhas no horizonte, um arco-íris parecia se dissolver gerando outras cores naquele horizonte incrível.
         Aquela beleza inexplicável me deixou em observação por muito tempo, não percebi que a noite vinha pelo outro lado escurecendo todo céu, engolindo o dia numa abocanhada só.
         O contraste me fez ficar um pouco atônito, por que logo em seguida por detrás da montanha uma leve luz também invadia o céu clareando o cerrado, tirando um pouco a sombra que já tinha sido projetada pela montanha.
         O sol foi embora de vez, a escuridão tentava se impor, mas a leve luz que cada vez nascia por trás da montanha combatia a noite como se ali tivesse algum segredo sobrenatural ou eu nunca tivesse visto isto antes ou conhecido alguém que tivesse passado por isso.
          Ainda sentado bem perto da cachoeira que encharcava o poço, fiquei parado olhando aquela beleza a qual nunca tinha presenciado. Por trás da montanha começou a surgir o que causava aquele confronte de luz ao entardecer, a ponta da lua começava a aparece e de onde eu estava não dava para vê-la em sua plenitude.
         Observei que as poucas sombras da vegetação do serrado começava a ganhar formas, a água de o poço manter sua cor azul o qual ainda refletia algumas estrelas no céu. Era um inicio de noite fora do comum, às cores, a luz intensa do sol em contraste com a luz suave da lua era um confronto extraordinário.
         Quando a lua ganhou o céu trazendo mais luz para o cerrado sem muita expressão, notei que seus raios de prata predominavam na vegetação. O reflexo da luz da lua com a água azul do poço emitia raios reluzentes pelas cavidades rochosas de toda gruta.
         Deslumbrado com toda aquela beleza fiquei ali estático por alguns instantes sentando sobre aquela pedra sentindo as gotículas d’água trazida pelo vento, agora com mais suavidade, um pouco mais fria.
         Num relance ocasional observei um vulto entre pedras quase a margem do poço, senti meu coração disparar, quase saindo pela boca, para ter certeza de que aquilo não era miragem esfreguei os olhos para observar melhor.
         A lua agora já se posicionava numa boa altura no céu, então dava para vê muito bem qualquer objeto, melhor ainda uma pessoa ou animal em movimento naquelas pedras molhadas pelas águas do poço azul.
        O vulto foi se transformando, os raios de prata da lua em contraste com água azul do poço começavam a revelar um corpo de uma mulher, seus cabelos já molhados cintilavam os raios de prata da lua cheia.
        Aquela cena me fez ficar sem reação, uma linda mulher a margem do poço refletindo todo aquele brilho enquanto jogava um pouco de água sobre sua cabeça o qual as gotas viravam pequenas fontes de luzes escorrendo pelo o seu corpo.
         Sua beleza era inacreditável, seu corpo delineado perfeitamente pelo o criador, seus cabelos louros descendo até sua cintura, parecia uma linda escultura sem igual. Como se ela soubesse de minha presença entra no poço deixando seu lindo corpo emergir bem devagar na água azul, com um olhar sensual vagueia por todos os cantos como se me procurasse.
         Com um gesto comum a bela mulher estendendo seus braços percorrendo seu corpo até as coxas pega na ponta de seu vestido que mais parece um baby-doll rosa florido, o tira vagarosamente revelando seu corpo nu como uma provocação sobrenatural.
         Agora com seu corpo emergido pela metade levanta seus cabelos molhados fazendo um contraste dos raios de prata da lua com a água azul do poço deixando revelar uma beleza incomparável. Parecendo pressentir minha presença, levante-se e mergulha novamente na água azul do poço fazendo uma pequena onda que vai revelando o céu e a lua numa noite memorável.
         Aquela cena me deixou inquieto e num instante me revelei levantando meu corpo sobre as pedras, como se quisesse que alguém me notasse ali. Percebi que a mulher misteriosa apenas me olhou de relance emitindo um sorriso leve e voltou a brincar na água, sem qualquer preocupação.
         Comecei a descer pelas pedras em sua direção, já não aguantava mais aquela aflição de vê-la ali banhando naquela água azul sob os raios de prata da lua. Queria uma aproximação, chegar bem perto, conversar alguma coisa.
        Durante minha chegada a mulher misteriosa manteve-se da mesma forma, nua, brincando com a água que refletia os raios da lua. Ao chegar bem perto mantive-me alheio, aguardando algum sinal, uma palavra.
         O tempo parecia parado, mas a lua se mexia no céu, pássaros noturnos emitiam seus pios, grilos faziam barulhos por perto me dando coragem de falar ou me aproximar mais daquela mulher misteriosa tomando banho no Poço Azul.
         Com um olhar preciso e um lindo sorriso vi quando a misteriosa mulher confrontou-se com meus olhos atônitos e curiosos. Sua beleza realmente era incomparável, seu corpo imaginável, seu rosto, seus cabelos, seu sorriso era encantador.
          Aguardei alguns segundos até ouvi sua voz, um vozear aveludada que poderia fazer qualquer um dormir apenas com algumas palavras de acalanto.
    - Você não quer banhar comigo, a água ainda estar bem morninha, o dia hoje foi bem quente. – Diz a voz.
     - Claro quem não aceitaria esse convite, nem morto eu deixaria de aceitar uma oferta dessas. – Respondo com um largo sorriso.
     - Então tira sua roupa e entra, vem mergulhar comigo. – Diz expressando um lindo sorriso a mulher misteriosa.
     - Já estou indo sem demora. – Respondo apresando minhas mãos que vão arrancando as minhas roupas sem jeito.
          Em poucos segundos eu estava sem roupas já com os pés dentro d’água olhando para o fundo do poço azul enquanto a linda e mistérios mulher acoitava a água de um lado para o outro com seus braços alvos fazendo pequenas ondas refletindo os raios da lua cheia.
          Uma sensação estranha estremeceu meu corpo, mas achava que era apenas pelo frio que já aparecia em volta do poço. Senti quando meu corpo foi encharcado de água como aquelas brincadeiras que fazemos ao jogarmos água um nos outros brincando na piscina.
         Sem constrangimento devolvi a água aceitando a brincadeira e novamente senti mais água em meu rosto como continuidade. Em alguns instantes me senti muito a vontade e alegre com toda aquela brincadeira, nem percebia que já era noite e apenas a lua estava tomando conta do céu enquanto o sol descasava.
         Por fim a água parou de retornar em minha direção, isso proferia que a brincadeira terminava naquele instante. Retirei o excesso de água dos meus olhos e quando já podia enxergar procurei pelo poço a mulher misteriosa que brincava comigo, depois de vaguear os olhos a encontrei poucos metros de mim, seu corpo nu revelava uma beleza inacreditável.
         Senti que aquele olhar em conjunto com um sorriso convidativo era minha chance de se aproximar, meu corpo estremeceu, mas agora não tinha como voltar atrás, tinha que ir até o fim, depois de uma separação sofrida nada como uma nova paixão para esquecer o passado.
         Fui ao seu encontro sem pensar em nada, queria apenas sentir aquele corpo, abraça-lo e beijá-lo com todo fervor possível, o desejo já tinha tomado conta de mim e nada me fazia voltar atrás.
         Sentir sua mão tocar em meu corpo, seu abraço, seu beijo envolvente me deixando sem noção, sem pressentimentos do amanhã. Nossos corpos foram se contorcendo revirando a água azul fazendo ondas que chegavam a margem, enquanto isso de dentro d’água via os raios da lua descendo na direção do poço passando por nós chegando até o fundo.
          Comecei a me sentir leve, a felicidade era intensa, mas meu desejo não era saciado, parecia que deixava de existir por completo, estava ali apenas no campo espiritual, minha carne não era se satisfazia pelo desejo pretendido, isso me despertou, mas já não havia mais tempo, estava indo em direção do fundo do poço guiado pelos os raios da lua cheia, estava preso em volta de um corpo morto cheio de lodo, viscoso, em um abraço mortal.
         Enquanto via os raios da prata da lua cheia ainda tinha uma esperança, por que sabia que enquanto houver luz há uma esperança. Apesar de dentro d’água ouvi um voz, não sabia se era imaginação, mas ouvia e quando pressenti o fim de minha vida desprendi meu braço direito do corpo morto que me carregava para o fundo do poço azul, outro braço mergulhou bem no fundo e me pegou, arrastando-me até minha cabeça emergir e poder respirar.
     - Cara o que você tá fazendo? Aquela mulher não vale apenas, tá louco, ainda bem que convenci o Silas voltar comigo pra te buscar. – Diz João Paulo assustado com minha a situação.
     - Quê que isso cara? Eu não estou fazendo nada? O que pensa que estou fazendo? – Respondo tirando a água do rosto enquanto respiro para voltar a minha normalidade.
     - Você estava se afogando, se matando por causa de uma vadia, nós vimos isso e se não fosse por minha insistência em voltar aqui você tinha morrido, seu babaca. – Diz Silas abraçando-me com emoção.
     - Isso é verdade Ricardo, eu nem queria voltar aqui, mas Silas insistiu tanto que deixamos as garotas em casa e voltamos o mais rápido possível. – Diz João Paulo também emocionado com a cena.
     - Vocês não a viram? Ela estava bem aqui? Uma mulher linda, loira, cabelos longos e corpo fenomenal, tem certeza que vocês não a viram! – Pergunto ainda meio zonzo.
     - Cara não tinha ninguém aqui, você deve ter passado mau, acho que a conversa com sua ex-namorado te deixou um pouco confuso. – Fala Silas com convicção tentando tirar o pensamento de minha cabeça.
     - Tudo bem, vamos sair daqui, vamos embora, temos uma festa pra ir. – Fala João Paulo Chamando para ir embora.
     - Tudo bem, vocês não acreditam, mas ela estava aqui. Cara é uma mulher muito linda, qualquer um iria ficar louco por ela. – Digo desolado.
         Sem muita insistência eu acompanho meus dois amigos que foram subindo pelas pedras da gruta até chegar o topo, antes de deixar para trás o poço azul volto-me e olho bem no escuro da gruta, percebo uma sombra que se movimenta perfazendo o percurso para dentro deixando um rastro na água que os fazem refletir os raios de prata da lua que reina plena no céu.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 05/08/2013
Reeditado em 05/01/2017
Código do texto: T4420823
Classificação de conteúdo: seguro
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