Está sem sorte? - Parte 2 - Golden Soul
Finalmente, primeiro dia de trabalho. As nove, um táxi nos veio buscar para levar a mim e Peter até a delegacia, onde me encontraria com o mestre dos magos fardado, o delegado Tomas.
Conversas de sempre, de um lado para o outro. Nada que eu possa ter descoberto de muito útil para mim. A sorte estava do lado de alguns poucos selecionados, e como sempre, o restante acha que vai ficar rico nos Cassinos de uma hora para a outra.
Mas, devido as recentes circunstâncias, a sorte estava furiosa com alguns. Entretanto, o velho Jeremy não precisava saber disso, já que o caso estava sendo abafado pelas autoridades, os civis contavam apenas com alguns rumores na cidade do pecado.
Enfim, novamente de encontro com o delega, eu e meu parceiro cowboy fomos presenteados por nossas identidades falsas legalizadas, se é que isso é possível. Estamos trabalhando disfarçados e uma identidade e recursos para isso é o mínimo que a polícia nos deve.
A partir de agora, em Vegas, me chamo Carl Parker, um cara de muita sorte, que está pela cidade apenas aproveitando essa onda antes que ela acabe. E Peter, agora é Samuel Cost, meu mais novo amigo de infância. Sinceramente, isso tá me parecendo aqueles filmes clichês de Hollywood. No final, a gente é pego pelo vilão, que conta todos os planos, e quando ele dá as costas, nós fugimos e salvamos o mundo.
Só que isso não é um clichê de Hollywood. É a vida real. E eu tô querendo mais que isso termine logo pra eu encher a cara, encher o rabo de dinheiro e dar o fora pelo mundo, curtir minha vida. Eu sei, já disse isso. Mas não me importo de ficar repetindo todas as coisas que eu pretendo. É bom que eu não me esqueço.
“Espero que tenham lido o dossiê que eu lhes entreguei ontem.” Mãe de quem? “Vocês terão que começar entrando pelos cassinos e averiguando possíveis testemunhas ou pessoas que tiveram contato com as vítimas. O Hotel e Cassino Golden Soul foi o local de morte do empresário Phillip Thompson. Seu amigo pessoal viu o horário da morte e foi instruído a permanecer no local até o fim das investigações. É a primeira pessoa que vocês devem procurar. Fora este homem, Sebastian Anderson e os policiais Alphonse Reich, Harry Rosenfield e Willian Foster também foram vítimas. Todos os casos foram dados como um mal estar e que logo foram tratados. Mantenham as notícias sobre a mortes desses sujeitos ainda no anonimato, não queremos pânico geral.”
Phillip Thompson, amigo, Golden Soul, mais vítimas, anonimato. Ok, captado. E depois de um cafezinho, o menor possível, para manter a proporcionalidade com nosso querido delegado, eu e Peter, quer dizer, Sammy, partimos para o trabalho.
E sem esquecer da farda principal: Nos somos apenas turistas. Em Las Vegas, a cidade do pecado.
Não pude deixar de notar a grandiosidade do lugar. Realmente, quando Vegas podia ser luxuosa, ela realmente era. Não me culpem, de todos os modos, é minha primeira estadia também. Mas nenhuma arquitetura ou luxo conseguiu desviar tanto minha atenção quanto as garotas no bar, na mesa e no palco.
Sammy seguiu seu curso, indo falar com os seguranças e funcionários, mas eu estava com a vista focada no bar. Não ia perder a oportunidade.
“Por favor, senhorita... Uma dose de Whisky, o melhor que você tiver aí. Confio na sua sugestão.” E a moça se virou. Cara. Ela tinha uma b...
Mas algo ainda me deixou estranho. Bem do meu lado, um homem de uns cinquenta anos, ou quase isso estava em estado deplorável. Apesar de bem arrumado, era um bem arrumado de dias atrás. Parecia que o sujeito havia descoberto que tinha mais uma semana de vida e veio se divertir em Vegas, mas acabou de perder tudo. Não, não era isso que estava acontecendo. Eu sabia quem era aquele homem.
“Cara, ainda estou pra descobrir onde eles acham essas garotas...” Tentei puxar assunto, ao menos. Ele deu um tímido sorriso. A atendente gostosa voltou e me entregou a dose que eu pedi.
“Dezoito anos. Espero que goste. Minha preferida.” Dava pra ver o nome Jessie no crachá. Mas algo além dele me chamou a atenção.
“Pega mais duas doses. Uma delas é sua, por minha conta.”
“Não posso beber em expediente...”
“Vai recusar meu convite assim?”
“Eu trago só mais uma. A minha, você me paga amanhã. Meu dia livre, mas eu venho aqui se for pra te encontrar.” Eu acho que me dei bem. Estava sorrindo a toa naquele momento. Ela se virou com um sorriso, e eu lembrei que o velho do meu lado era testemunha ocular da morte do amigo pessoal. E agora, estava preso na tumba do companheiro.
Meu sorriso de desfez na hora.
“Senhor, está tudo bem?”
“Não perca seu tempo comigo, jovem. Vai se divertir.”
“Desculpe te incomodar, mas prefiro ficar aqui no bar. Muita gritaria pra mim.” E tomei um gole do Whisky. Realmente, a moça acertou em cheio. “Prazer, meu nome é Carl. Carl Parker. O senhor é?”
“John Ronald. Empresário.”
“Porque tão deprimido em Vegas, John? Olhe em volta, os luxos, as mulheres... pra que ficar assim?”
“Você sabe como é perder um amigo, senhor Parker?”
Na verdade eu não sabia. Era algo que eu nunca conseguiria suportar, seja quem fosse, ainda mais alguém tão próximo de mim.
“Estavam me dizendo de alguns rumores aqui. Será que são reais?”
“Eu era amigo de Phillip... ele foi o primeiro a morrer aqui. E agora estão me deixando preso a esse mausoléu! Não entende que é por isso que eu não quero estar aqui?”
O homem estava visivelmente embriagado. Jessie voltou com mais uma dose da que eu havia no copo. Ela deu uma piscadela pra mim, na qual retribuí. Depois, voltou ao balcão, atender uma nova cliente. Meu Deus, como tinha mulher naquele Cassino!
Enfim, me voltei ao bebum deprimido. “Tomei a liberdade de te pagar um drinque. Às vezes faz bem afogar as mágoas com um amigo”
“Eu não quero falar sobre isso! Você não tem ideia o quando ele significava pra mim! Trinta anos de amizades, desde a faculdade, você sabe?” John estava gritando aquele ponto. Ele deu um tapa com as costas das mãos no copo que eu arrastei pra sua frente e ele trincou no chão, derramando a bebida no tapete. Rapidamente, alguns funcionários corriam para limpar.
“Me desculpe... me desculpe... sai logo daqui!” O sujeito alternava entre sussurros, gritos e choro. Era deplorável. Mas antes de ir embora, eu ainda tinha a obrigação de fazer uma coisa.
Eu tomei o resto do Whisky numa golada só. Me aproximei de John, coloquei a mão no seu ombro e disse, num tom que só ele conseguiria ouvir. “Você é inocente, John. Todos nós sabemos.” E o choro cessou por alguns segundos.
Me virei e prossegui aa procura de Peter, quer dizer, Samuel. Essa coisa de nomes falsos me deixa um pouco confuso, quando não é comigo mesmo.
Samuel estava no meio de uma mesa de jogo. Muito bom. Eu trabalhando, ou tentando, e ele lá, soltando ficha até pela orelha. Filho da mãe, era eu que podia estar nessa mesa, ganhando tanto quanto ele. E estava ganhando mesmo.
Era incrível, só de ver ele jogando. Parecia que Samuel sabia exatamente o que ia acontecer, como se ele pudesse ver o futuro dos dados. A platéia começava a se formar, estavam todos maravilhados. Mas meu parceiro não via ninguém, ninguém mesmo. Eu tentei me aproximar dele. Mas ele parecia nem saber quem eu era.
“Estou ganhando, me deixe em paz!” Ele dizia, e repetia pra todos que fossem falar com ele. Exceto, eu notei, uma mulher. Incrivelmente linda, por sinal. Trajava um vestido preto com brilhantes, longo e um rasgo na lateral, deixando a mostra uma parte das pernas muito bem esculpidas. Cabelos tão escuros quanto o vestido e os olhos e uma pele clara, deixando um contraste impactante, tornando-a linda como uma deusa. Ele sempre olhava pra ela e sorria quando ganhava. A mulher estava bem em seu lado.
“Sammy, precisamos ir agora...” “Estou ganhando Richard, me deixe.”
Richard. Ele me chamou de Richard? O que essa anta de teta branca estava pensando nesse momento? Não tinha outra coisa. Tinha que improvisar e sair de lá, rápido.
“Richard não cara, ele tá esperando a gente no carro lá fora. Sou o Carl, eu sei que é difícil se acostumar com dois caras iguais, mas a gente precisa ir logo.” “Me deixa aqui Carl. Tô ganhando.”
Ele não estava só preso ao jogo. Estava literalmente vidrado, fissurado. Se existisse a chance de me colocar na aposta, é bem provável que ele me colocaria. Mas eu notei uma coisa nele. Ele estava cada vez mais cansado. Mais exausto. E mesmo assim, não parava.
“Senhoras e senhores, o show acabou, Samuel, vamos logo, o Tomas não vai gostar que nós estamos aqui brincando enquanto a gente ainda tem que pegar aquele rato, não esqueça.” Ele se virou pra mim. Uma pequena parte do cérebro dele pareceu funcionar, e para não perde-lo mais uma vez para a mesa, eu o puxei.
“Você anotou meu telefone?” Ele perguntou para a mulher que estava com ele. “Sim...”
E a saída do sortudo da noite foi acompanhada de inúmeras exclamações de tristeza pelo final do show. Samuel, ou Peter, qualquer um dos dois me devia explicações. Estávamos lá a trabalho, e ele nem ao menos me olhava. Tudo bem, admito, eu queria estar no lugar dele. Mas nunca colocaria ninguém acima de um parceiro de trabalho, ainda mais com um assassino solto por ai.
Ainda mais quando todas as mortes ocorreram após uma onda de sorte das vítimas em mesas de jogos.