Cristina II
Lá vai ela, andando pelo bosque.
Cabelos ao vento, vestido perfeito, olhar meigo e uma flor na mão.
Estava a espera de Daniel, seu amor.
Dançou entre as flores, esbanjando graça e beleza. Ficara a imaginar como seria o momento em que Daniel a colocasse entre seus braços, a beijasse e sussurrasse em seu ouvido que ela era o amor da vida dele. Eternamente.
Aquele momento era perfeito. as horas que passava com Daniel a davam um ápice de alegria sem igual.
Olhou para o horizonte e viu.
Lá longe, vinha os cabelos negros embalados pela brisa, o olhar no chão, sempre prestando atenção onde pisava, as roupas folgadas típicas de um campesino. Era Daniel.
Cristina estava lá, parada a observar.
Cabelos ao vento, vestido perfeito, olhar meigo e uma flor na mão.
Já não ligava para o que os outros diziam, que uma donzela da alta sociedade não poderia ficar com um camponês. A sociedade a que ela pertencia era a do coração de Daniel.
Ele chegou ao encontro dela. Aparentemente preocupado, mas ele sempre estava preocupado.
Falava de cabeça baixa, tímido como uma ovelha ao perder sua lã.
Com um gesto delicado, Cristina levantou o rosto de Daniel. Não era a mesma preocupação de sempre. Havia mais.
Então Daniel disse que Edgar havia o ameaçado. Havia dito que Cristina seria dele e que ele faria o impossível para tê-la, que até sujaria suas mãos com o sangue de um camponês imundo para conseguir o que queria.
Edgar era influente. o sonho de toda jovem. Menos de Cristina, que só tinha olhos para o seu Daniel.
Edgar era o prometido pela sociedade para Cristina, mas ela fugiria com Daniel se alguém a obrigasse a se entregar para Edgar.
Ela então disse que seria nessa vida e nas outras para sempre de Daniel e que ela o acompanharia sempre, em qualquer lugar.
Nessa hora, os olhos de Daniel ficaram mais castanhos do que nunca e seu sorriso branquíssimo disse muito sem soltar nem um ruído. Cristina entendia.
E então, eles se beijaram.
Cabelos ruivos e negros ao vento, corpos despidos, olhos fechados e o enlaçar das mãos.