O ÍNDIGO
 
 
PRIMEIRA PARTE
 
O CHAMADO
 
         O caseiro abriu o portão da chácara para entrada do carro do novo patrão enquanto o seguia a pé gesticulando com a mão para que seguisse o caminho até a casa. A casa parecia bem cuidada, algumas coisas desarrumadas e sua pintura um pouco desgastada não tirava sua beleza.
         O novo patrão desceu do carro e se dirigiu ao caseiro com um sorriso largo e o cumprimentou:
     - Bom dia Senhor Antônio, tudo bem.
     - Bom dia patrão, estou bem, obrigado. – Disse o caseiro correspondendo o sorriso do patrão.
     - Esta é minha esposa Julia. – Diz o patrão apresentando sua esposa ao caseiro que se aproximava também sorrindo.
     - Bom dia patroa. – Respondeu o caseiro.
     - Vamos deixar esta estória de patrão e patroa de lado Senhor Antônio, pode nos chamar pelo o nome, Julia e Augusto, tudo bem. – Diz Augusto querendo acabar com a formalidade.
     - Tudo bem Senhor Augusto, como o senhor quiser, mas tem alguém ainda lá no carro, quem é? – Disse Antônio observando que havia alguém dentro do carro.
     - É meu filho Henrique de dez anos, depois nos o apresentamos, agora vamos conhecer um pouco a chácara, o senhor nos guia. – Diz Augusto segurando a mão de Julia e começando a caminhar.
     - Claro Senhor Augusto, vamos que vou lhe mostrar tudo que tem por aqui. – Diz Senhor Antônio caminhando e apontando por onde deveriam começar.     
         Os três seguiram percorrendo a chácara deixando para trás Henrique no carro que parecia não querer descer. Senhor Antônio mostrou toda chácara e contou detalhes de tudo enquanto caminhavam. A conversa foi levando o tempo e quando Julia sentiu falta de Henrique ficou apreensiva e chamou Senhor Antônio e Augusto para voltarem rapidamente para a casa onde tinha ficado o carro com o filho.
         Uma voz suave de uma criança chamando-o é ouvida, Henrique tranquilamente abre a porta do carro e sai em sua direção. Anda procurando de onde vez aquela voz até chegar ao poço do cata-vento. Sem demostrar medo ouve a voz que vem de dentro do poço do cata-vento e encosta-se a cerca que protege para ouvir melhor e vê quem o estar chamando. Sem consegui entrar tenta olhar pela a cerca e as plantas que estão em volta do poço do cata-vento abandonado, mas nada encontra, então fica aguardando alguma criança aparecer para brincar.
        Augusto, Julia e Senhor Antônio chegam perto do carro logo perceberam que a porta de passageiro estar aberta. Julia correu logo para saber se Henrique ainda se encontrava no carro, mas foi em vão. Henrique já não se encontrava no banco de passageiro.
        Julia ficou nervosa e sua expressão de desespero foi logo deixando augusto preocupado que rapidamente a abraçou tentando consolá-la e deixá-la mais tranquila. Senhor Antônio logo tentou acalmá-los explicando que a chácara não era muito grande e que não tinha perigo. Por um instante todos se mantiveram calmos até Senhor Antônio apresentar em suas feições uma expressão de culpa e medo. Isto foi percebido por Julia que logo pediu para que Senhor Antônio explicasse aquela sua expressão de preocupado.
    - Senhor Antônio não estou gostando de sua cara de preocupado, o que pode acontecer? – Diz Julia preocupada e nervosa.
     - O poço dona Julia, talvez ele tenha ido até o poço do cata-vento abandonado. – Diz Senhor Antônio com cara de preocupado.
     - O quê tem este poço do cata-vento Senhor Antônio, meu filho é índigo e pode correr perigo, vamos logo para este poço do cata-vento. – Diz Augusto seguindo Senhor Antônio que já se dirigia ao poço do cata-vento.
     - O poço do cata-vento foi cercado e abandonado há muito tempo, ninguém entra lá, ele estar todo fechado, seu filho não vai consegui entrar, pode ficar tranquila senhora Julia. – Diz senhor Antônio tentando tranquilizá-la enquanto segue caminho.
        Quando Julia, Augusto e Senhor Antônio chegam próximo do poço do cata-vento abandonado avistam Henrique encostado à cerca mostrando tranquilidade enquanto olha fixamente em direção do poço. Os apressados agora caminham devagar até chegar bem perto de Henrique que não se manifesta ou não percebe que estão se aproximando. Julia menos apreensiva pega Henrique pela mão e o abraço. Henrique corresponde o abraço e olha para Augusto com olhar penoso como se quisesse falar alguma coisa.
     - O que é meu filho, você quer dizer alguma coisa, o que ouve? – Diz Augusto preocupado e percebendo a intensão de Henrique.
     - Fala meu filho, pode dizer o que ouve, por que você desceu do carro e veio parar aqui? – Diz Julia agora mais tranquila enquanto conversa com seu filho.
     - Eles me chamaram, acho que queriam brincar comigo, mas quando cheguei já tinham ido embora, a mãe deles não deixa que brinquem. – Diz Henrique com simplicidade e jeito decepcionado.
     - De o quê você fala meu filho, não tem ninguém aqui, com quem você estava falando, quem são eles. – Diz Julia mostrando preocupação em suas palavras.
     - Os coleguinhas que me chamaram para brincar, mas quando cheguei aqui eles já não estavam mais. – Diz Henrique com tranquilidade.
     - Fique tranquilo meu filho, talvez você tenha escutado alguns meninos brincando em outro lugar e achou que eles estavam aqui, mas depois que nos instalarmos na casa nós vamos procura-los para brincar com você. – Diz Augusto para tentar tranquilizar Henrique.
         Henrique expressou um sorriso e segurando a mão de Augusto começou a andar em direção da nova casa. Julia observou que Henrique parecia mais calmo e aparentemente adaptado ao local que acabou de chegar. Isto era incrível, como Henrique poderia se adaptar aquele lugar tão rápido se em outros lugares que morou não conseguia.
         Senhor Antônio informou aos patrões que os móveis tinham chegado e tudo estava arrumado para acolhê-los. Naquele momento tudo parecia muito bem, até chegar a casa ninguém mais se lembrava do acontecido.
          Henrique subia à pequena escada que dava acesso a área de entrada da casa enquanto Senhor Antônio se despedia de Julia e Augusto. Ninguém percebeu quando Henrique parou antes entrar, olhou fixamente, expressou um sorriso e acenou com a mão em direção do poço do cata-vento como estivesse se despedindo de alguém.
        A noite chegou logo, Julia e Augusto começaram a desembrulhar alguns objetos da nova casa enquanto Henrique reunia alguns brinquedos em sua volta. Augusto observou que Henrique escolhia alguns brinquedos com mais detalhes, certa forma de separar com os que iria brincar ou desfazê-los.
         Julia também estava observando, mas apenas esboçou um sorriso procurando deixar para lá e não se intrometer no que Henrique ia fazer com os brinquedos.
          Foi ficando tarde, Julia pediu para Henrique ir para seu quarto para que no outro dia pudesse continuar brincando ou separando seus brinquedos.
          Henrique colocou em um saco a maior quantidade de brinquedos que podia e depois que beijou Julia e Augusto foi direto para o quarto. Sua atitude acabou deixando Julia e Augusto com um largo sorriso enquanto seus olhares felizes o seguiam até o corredor que dava acesso ao seu quarto.
         Já era de madrugada quando Julia acordou com um barulho peculiar de uma criança brincando com um carrinho de pilha. Encostada com cotovelo direito na cama Julia tentou escutar melhor o barulho. Após a confirmação que realmente estava acontecendo alguma coisa Julia acorda Augusto que meio sonolento esfrega os olhos e também tenta escutar.
     - O que será isto? – Diz Augusto estranhando o barulho.
     - Não sei? Será que Henrique estar brincando uma hora desta? – Responde Julia com um olhar fixo para Augusto.
         Sem esperar muito Julia e Augusto começam a andar em direção do barulho e chegam ao quarto de Henrique. Sem que Henrique perceba Augusto começa a abrir a porta de seu quarto bem devagar. Uma pequena brecha da porta revela Henrique brincando com seus brinquedos e sorrindo bem descontraído.
          A atitude de Henrique chama atenção de Julia e Augusto, por que há muito tempo não os via expressar um sorriso e agora estava ali como se tivesse brincado com alguns coleguinhas de tão alegre e descontraído.
         Após algum tempo observando Henrique, Julia se descontrai e abre a porta do quarto sem querer, neste instante tudo para e os brinquedos que pareciam estarem sendo conduzidos por alguém ficam quietos.
         Henrique olha para seus pais com cara de raiva e joga o carrinho de pilha que segurava em direção à parede que se quebra fazendo suas pequenas rodinhas percorrer o quarto.
     - Que foi isto meu filho? – Diz Augusto assustado com a atitude de Henrique.
     - Meus coleguinhas foram embora por causa de vocês. – Responde Henrique com cara de mau.
     - Que coleguinhas são este meu filho, se só vimos você brincando aqui. – Diz Julia tentando acalmar Henrique,
     - São meus coleguinhas que encontrei ontem lá no poço do cata-vento. – Responde Henrique com naturalidade.
     - Você deve estar enganado, pois quando chegamos lá você estava sozinho. – Diz Augusto tentando manter Henrique calmo.
     - Por que vocês os assustaram então se esconderam. – Diz Henrique com firmeza.
     - Meu filho o que será que ocorre, você nunca tinha acordado de madrugada para brincar e agora o encontramos desse jeito. – Diz Julia assustada.
     - Não brincava por que não tinha amiguinhos, mas agora eu tenho e vou brincar toda vez que eles vierem aqui. – Diz Henrique sem constrangimento.
     - Tudo bem meu filho, vamos dormir agora, amanhã vamos conversar melhor sobre seus amiguinhos. – Diz Augusto enquanto pisca um olho para Julia que perceba sua intenção e também se acalma para disfarçar suas intenções.
          Henrique sobe em cima da cama e começa a se cobrir com um largo sorriso de satisfação enquanto Augusto e Julia se despedem fechado à porta do quarto.
         O dia amanhece, enquanto Julia prepara o café Augusto vai até o quarto buscar Henrique que dorme tranquilamente um sono profundo e imediatamente é interrompido. O café da manhã é servido sem que ninguém comente o ocorrido na madrugada.
          Durante todo dia Augusto e Julia observam Henrique para tentar vê descobrem alguma coisa ou se ouve alguma melhora na sua mudança para o sítio. Ao chegar o fim da tarde Julia e Augusto percebem que Henrique se encontra bem tranquilo e que sua atitude revela um menino sem qualquer problema. Como se Henrique estivesse como outros meninos completamente saudáveis.
          A noite Augusto conversa com Henrique e fala de sua imaginação durante a brincadeira na madrugada anterior e o proíbe de brincar fazendo-os perder o sono. Henrique vai para seu quarto cabisbaixo e chateado sem dizer uma palavra.
          No mesmo horário da madrugada anterior Julia acorda de sobressalto assustada, sua manifestação acorda Augusto que também fica assustado de olhos esbugalhados.
     - O que foi Julia? – Pergunta Augusto assustado.
     - Um sonho e um mau pressentimento, será que Henrique se encontra no quarto? – Diz Julia aflita com a mão no peito esquerdo.
     - Deve se encontrar Julia, se quiser vou verificar? – Diz Augusto também meio assustado.
     - Então vai lá Augusto, só para confirmar se ele está bem? – Diz Julia com um olhar cheio de lágrimas.
         Augusto chega ao quarto de Henrique e começa a abrir a porta bem devagar para não chamar atenção e acordá-lo. Com um olhar mais criterioso Augusto percebe que a cama estar vazia, imediatamente chama por Julia que corre em sua direção já chorando e desesperada. Seu sonho ou pressentimento estava certo e agora o que poderia ter acontecido.
         Rapidamente Julia e Augusto percorrem por todos cômodos da casa e não encontram Henrique. O desespero toma conta dos dois que no momento não sabem como resolver o ocorrido. Quando pesam em chamar o Senhor Antônio ouvem um pequeno barulho vindo do lado de fora da casa, diante da neblina que envolve a casa naquela madrugada um pequeno vulto aparece bem devagar, percebem que Henrique se aproxima bem devagar vindo da direção do poço do cata-vento com alguns brinquedos na mão, molhados e cheios de lama. Henrique com suas roupas ensopadas e sujas de lama sorri e tranquilamente e diz:
     - Não fui eu que acordei vocês, pois fui brincar com meus amiguinhos lá no poço do cata-vento e não fizemos barulho tão alto assim para ouvir daqui.
         Julia e Augusto o abraçam em lágrimas enquanto Henrique com um olhar percorre o caminho que fez antes de chagar a casa, levanta a mão direita e acena dando adeus. Estranhamente Augusto e Julia olham para a mesma direção e percebem o vulto de três crianças que rapidamente desaparecem ante a neblina densa que envolve toda chácara naquela madrugada escura.



Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 14/08/2012
Reeditado em 14/07/2013
Código do texto: T3830879
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