DESCONHECIDOS - 8
DESCONHECIDOS – 8
Rangel Alves da Costa*
Cristina, a jornalista desempregada, antes de sair viajando por aí bem que poderia se voltar para a história de uma mocinha rica que caberia em extensa narrativa e transformada em grande sucesso de vendas.
Mas a jornalista nunca que iria sonhar com a existência de Carol, uma filhinha de papai que parecia realmente querer jogar pelo ralo uma das fases mais bonitas e importantes da vida, que é a adolescência.
A menina Carol, sem ser Carolina, mas Carol mesmo, nasceu em berço de ouro, como o povo diz em relação àquelas pessoas que já vêm ao mundo sob um manto de suntuosidade, luxo e riqueza familiar.
Verdade é que ninguém tem culpa por nascer num jardim e não numa roça, por ter vindo ao mundo sob os auspícios cuidadosos das luvas da medicina e não pelas mãos enrugadas de uma parteira num rincão distante deste país.
Como consequencia, no luxo nasceu e nele foi sendo criada por criadas e criadagens, numa situação em que a pequenina parecia ser mais um enfeite da mãe do que sua cria. Remedinho tal hora, papinha tal hora, banhinho com água morna só em determinado momento, visitas somente em tais instantes do dia. Que coisa mais fofinha era ela chorando, bem diferente do berreiro rasgado das outras crianças.
Mas era realmente linda a criança, principalmente porque bem cuidada e sendo desenvolvida como se fosse uma invenção tecnológica da tradicionalíssima família Alberoni. Desse modo, passou a infância ainda nos braços de um e de outro profissional, com cuidados extremos em tudo que ia fazer; cheia de limites, bulas e prescrições até mesmo para estudar.
Podia apenas dizer oi aos coleguinhas, porém jamais se aproximar demais ou brincar nos momentos de recreação, mesmo que todos da escola fosse da mesma estirpe e poderio econômico.
Chegou à adolescência assim, sem ter amigos, sem conhecer praticamente ninguém, toda mecanizada nos gestos e atitudes. Até que um dia chutou o pau da barraca e, se olhando num imenso espelho que tinha no seu quarto, disse que a vida que levava não era de gente e que dali em diante caminharia por seu próprio caminho.
Até que tentou conversar com sua mãe sobre o que pretendia fazer e como desejava viver, mas jamais conseguiu diante da agenda sempre cheia dela para os problemas internos. Só tinha tempo para receber as amigas, para viagens ao exterior em passeios de qualquer dia, para a vida lá fora e não para a própria filha.
O mesmo quis fazer com o pai, tentando chamá-lo para um diálogo, mas o seu tempo era curto demais para falar sobre problemas familiares, voltado totalmente que era para as empresas e o mundo dos negócios. A menina até percebia que a família passava dias e mais sem sentar para almoçar, praticamente sem se falar. Cada um tinha os seus cheques, os muitos cartões de créditos, influências onde chegavam, então parecia que isso bastava.
Verdade é que tudo começou a desandar na vida de Carol. De início, ir estudar era apenas uma desculpa para não querer estudar. Chegava à escola e não estava nem aí pra nada, zanzando de um lado para o outro e se juntando a grupinhos na mesma situação. Um tempo depois passou a desviar o caminho da escola e ir para outros locais, encontrar amigos e curtir a vida.
Não era difícil encontrá-la nos shoppings rodeada por amigos e gastando pesadas quantias de um dinheiro que nem sabia de onde vinha. Somente quando a diretoria da escola resolveu comunicar pessoalmente à família o que estava ocorrendo é que as culpas recíprocas começaram a surgir, com o pai culpando a mãe e esta fazendo o mesmo com relação ao pai.
Como não tiveram tempo para enfrentar o problema, Carol continuou fazendo o que bem entendia, e só não começou a enfrentar situações perigosas porque desconhecidos, muito distantes do seu mundo e talvez bem longe de onde ela estava, intercederam para fazer valer o destino.
continua...
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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