Desalento

Ficara estático olhando para as letras inertes na tela.

Seus olhos fixaram-se, perderam a vida, foram do céu ao inferno em nenhum piscar. Ele podia jurar que aquilo tudo era brincadeira, um sonho, uma piada. Mas não era. Era tudo real, tudo era fato.

Tentou esboçar qualquer reação, mas aquilo que estava lendo, de certo modo, mexera com a sua cabeça. Outrora se fecharia em seu mundo, todavia, ele queria sentir; precisava; era melhor que sentisse. Dor. Suas bochechas ganharam um tinge de vermelho. Não era vergonha, mas ele queria se esconder do resto do mundo.

Dedos, mãos, boca, olhos, tela, letras, e fim.

Fim...

Por um instante pensou em gritar. Não havia grito em sua garganta, só dor. Hesitou um pouco. Não lhe restavam escolhas. Chorou.

Dedos, mãos, boca e água salgada se misturavam em seu rosto. Se não fosse chocante, seria no mínimo gozada aquela situação. Voltava a ser uma criança. Não podia engolir o choro, ele, o choro, já tinha ganhado vida própria e mesmo assim ele, o homem, tentou amordaçar seu sofrimento com um riso, irônico, porém um riso.

Dedos, mãos, boca, olhos, tela, letras, e um riso.

Tentou se convencer de que era mais forte; ela o convenceu de que era mais cruel; ele disse que não em um movimento bem trabalhado da cabeça; ela fez que sim com um leve piscar de olhos;

Fim. Algo mais?

Ele se lembrava de tudo, passava um filme em sua cabeça, sua vida estava toda ali detalhada, bem do jeito que ele deixara: bagunçada! “Pensou que a vida era fácil não é?” seu pai invadia-lhe o pensamento, não podia perder a oportunidade de dar-lhe mais um sermão. Os pais gostam de ver os filhos sofrer, só para depois dizer que os havia avisado, que deviam ter-lhe dado mais atenção. Sempre os pais... Sempre...

Silêncio.

Aquela agonia servia apenas para que ele visse o quanto de tempo perdeu tentando dar um sentido sensato a sua vida. Pra quê? Para poder morrer no final. Por que nunca morremos na hora certa. Sempre fica alguma coisa para ser feita. E quando não houvesse mais nada para fazer, o que fazer?

Morrer.

Finalizar com chave de ouro sua aparição nesse lugar que chamamos de Mundo Cotidiano.

Novo silêncio.

Permanecia ali, em frente à tela, um homem estático com olhar fixo em letras que insistiam em lhe golpear. Permaneceria ali por muito tempo, não sei precisar-lhe, mas posso dizer que foi muito tempo.

Leon Coimbra
Enviado por Leon Coimbra em 17/09/2010
Código do texto: T2504249
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