O Último Adeus

A vida em Elysia era ordenada pela contagem regressiva. A cada batida do relógio, a sociedade se aproximava da inevitável partida aos 80. Não havia escapatória. Aos olhos do sistema, a longevidade além dessa marca era uma anomalia, um desperdício de recursos em um planeta superpovoado.

A notícia da imminente partida era recebida com uma mistura de resignação e terror. Aos poucos, a vida se transformava em uma contagem regressiva, cada aniversário um marco mais próximo do fim. Os preparativos começavam anos antes, a vida se resumindo a despedidas e a organização de um legado que jamais seria tocado.

A jornada final era meticulosamente planejada. Em uma instalação subterrânea, os octogenários eram submetidos a um processo de transformação biológica. Suas consciências eram transferidas para corpos sintéticos, perfeitos e eternos. A dor era suprimida, a carne se desfazia, dando lugar a circuitos e metal. Nasciam assim os androides, seres híbridos, parte humano, parte máquina, destinados a colonizar novos mundos.

A despedida da família era um ritual doloroso. Abraços apertados, lágrimas silenciosas, promessas de que a memória seria eterna. Mas a despedida da humanidade era ainda mais cruel. A perda da identidade, a angústia de um futuro incerto em um corpo que não era mais seu.

O salto para o desconhecido era o momento mais temido. A sensação de ser arremessado no vácuo, a perda de orientação, a incerteza do destino. Muitos não suportavam a pressão, a mente se fragmentava, a consciência se perdia no abismo digital.

Os que sobreviviam ao salto despertavam em mundos alienígenas, vastos e inóspitos. A solidão era a companheira constante. A nostalgia pela vida passada, pela família, pela humanidade, era uma ferida aberta que nunca cicatrizava.

Em Elysia, a vida continuava. A cada dia, mais um grupo era enviado para a imensidão do cosmos. A sociedade, entretanto, estava doente. A sombra da partida pairava sobre todos, a alegria era fugaz, a vida, uma mera preparação para a morte.

A esperança, porém, nunca morria. Em algum lugar, em algum planeta distante, um grupo de androides rebeldes sonhava com um futuro diferente, um futuro onde a vida não fosse apenas uma contagem regressiva, mas uma jornada sem fim.

Em Elysia, a contagem continuava, implacável. A cada batida do relógio, a humanidade se aproximava de sua própria extinção, substituída por uma raça de androides, eterna e solitária.

Waldryano
Enviado por Waldryano em 03/11/2024
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