Viagem no Tempo: A Mãe de Hitler
(Você que é escritor de "sci-fi" vamos criar um clube da escrita?)
Desde que dominamos a manipulação da matéria escura, foi possível criar uma passagem temporal para períodos históricos remotos, utilizando coordenadas específicas determinadas com base em eventos-chave da história.
Eu, Amélia Sanchez, estou registrando este relato sobre minha tentativa de desenvolver uma coordenada precisa para atravessar a fenda temporal, gerada pela matéria escura controlada em nosso laboratório. Acreditamos que agora é possível estabelecer controle sobre essa anomalia.
Nos foi concedido um laboratório de pesquisas, localizado em uma área remota entre a Jordânia e o Mar Morto. O Estado de Israel, que financia o projeto, mantém o sigilo absoluto sobre nossa exata localização. Posso apenas afirmar que o local é extremamente frio e profundo, um ambiente ideal para os experimentos delicados que conduzimos.
Após várias tentativas de estabilizar uma passagem temporal consistente, ontem obtivemos o maior grau de precisão até o momento. Nossa equipe agora precisa de um voluntário para cruzar a fenda e cumprir a missão: assassinar Adolf Hitler antes de seu nascimento.
Eu me voluntariei. Não posso confiar essa tarefa a mais ninguém, especialmente devido aos perigos envolvidos. Qualquer erro pode resultar em desintegração completa, como aconteceu com as cobaias. A confiança na minha pesquisa é o que me move. Estamos prestes a mudar o curso da história humana.
Dia 354 no Alojamento Joseph: Hoje é o dia. A matéria escura foi finalmente estabilizada, e podemos rastrear o percurso com precisão. Nos últimos dias, conseguimos determinar a localização exata para a passagem temporal, ajustando também os parâmetros de espaço e velocidade necessários.
A travessia será monitorada em segredo por representantes dos governos de Israel e dos Estados Unidos. O objetivo de eliminar Adolf Hitler está prestes a se concretizar.
Estou pronta. Recebi instrução em etiqueta e comportamento para me integrar perfeitamente ao contexto sociocultural de março de 1888, em Braunau, Áustria. Meu traje ionizado permitirá a travessia pela bolha gravitacional que se forma à frente do bunker subterrâneo. Embora eu tenha me preparado mentalmente para o processo, sinto um arrepio inexplicável na espinha.
Antes de entrar na bolha, tiro cuidadosamente a Estrela de Davi que uso como pingente e a beijo. Como cientista, deveria manter neutralidade em questões religiosas, mas sinto que tenho a responsabilidade de fazer justiça ao meu povo. Hoje, a história será reescrita pelas mãos de uma mulher.
Mais uma vez, reviso o plano. Ao atravessar, terei apenas seis horas para completar a missão antes que meu corpo se desintegre, caso eu não retorne à fenda. A passagem se abre; beijo a estrela novamente e olho para a foto de Klara Hitler, minha verdadeira alvo. Preciso eliminá-la no momento do parto.
Olho para trás. Todos me observam através da redoma de vidro blindada contra radiação. Meu traje me protege, mas a pressão é intensa. Vejo meu marido acenando de longe, encorajando-me. Sim, serei eu a reescrever a história.
Sinto o formigamento ao tocar a fenda. Preciso saltar, mas hesito. Conheço os efeitos através dos experimentos com as cobaias. O tempo que passo entre a fenda e o ponto de destino já está impactando meu corpo de forma irreversível. Sei que preciso agir e me lançar no desconhecido.
O impacto é instantâneo. Meus olhos se fecham, e o mundo ao meu redor desaparece. Seguro firmemente a estrela no pescoço, buscando conforto em meio ao caos. Tento abrir os olhos, mas é impossível. O desconforto é extremo, como se meus órgãos quisessem explodir enquanto sou envolvida por uma substância que parece gelatina negra.
Choques elétricos violentos atravessam meu corpo. O traje ionizado absorve a maior parte, mas ainda sinto a dor. Preciso alcançar a luz! Ela é a minha única saída, a prova de que a passagem está funcionando.
Minha mão finalmente toca o outro lado da fenda. Estou no passado. Fecho os olhos por um momento, exausta. Todos os treinamentos parecem inúteis agora, meu corpo está em agonia, mas não posso me permitir descansar.
Quando abro os olhos novamente, percebo que estou em uma casa antiga. Será que acertei as coordenadas? Minha cabeça lateja, meu corpo dói como se tivesse colidido com um veículo. Preciso fechar os olhos e recuperar forças.
Quando os abro mais uma vez, estou deitada em uma cama, sem minhas roupas de proteção. O tempo está correndo, e preciso encontrar meu traje. A missão depende disso.
A porta se abre. Lá está ela, a mulher que é meu alvo, falando em alemão perfeito: — Schließlich wachte das Mädchen auf!
É Klara Hitler, visivelmente grávida, prestes a dar à luz a Adolf Hitler. Preciso agir rápido. A história depende de mim.