Meu Casamento Perfeito (Revisado)
A loja reluzia em tons de branco e azul, uma promessa de pureza e perfeição. A mulher, alta e esbelta, adentrou o espaço, seus olhos percorrendo as vitrines holográficas que se alternavam em um carrossel de opções. Cada imagem era um homem idealizado: alto, forte, inteligente, com um sorriso perfeito e um olhar que prometia lealdade eterna.
— Bom dia, posso ajudá-la? – a voz suave da atendente, um androide de traços delicados, ecoou pelo ambiente.
— Sim, quero começar a montar meu noivo perfeito. – A mulher sorriu, um gesto automático mais do que uma expressão de prazer.
Com um gesto elegante, a atendente acionou um painel interativo. Imediatamente, uma interface holográfica se materializou diante da cliente, apresentando uma vasta gama de atributos: altura, cor dos olhos, tipo de cabelo, inteligência, habilidades, até mesmo a sonoridade da voz. A cada escolha, um crédito era debitado de sua conta. A mulher selecionava com cuidado, como quem monta um quebra-cabeça.
— Gostaria de adicionar um corpo atlético? – a atendente sugeriu, apontando para uma opção em destaque.
— Sim, por favor. E que tenha um QI acima da média. Além disso, gostaria de um órgão sexual avantajado e que seja um excelente amante. – A mulher acrescentou, sem nenhuma vergonha.
A etapa seguinte foi a escolha da personalidade. A cliente optou por um homem leal, protetor e romântico, com um toque de mistério. A cada escolha, a imagem holográfica do homem se moldava, tornando-se mais real a cada detalhe.
Ao finalizar a personalização, a mulher se voltou para a atendente. — Agora, o vestido.
A atendente acionou outro painel, revelando uma coleção de vestidos de noiva, cada um mais deslumbrante que o outro. A mulher escolheu um modelo clássico, branco e elegante, que se ajustaria perfeitamente ao seu corpo, moldando-se como uma segunda pele.
— Perfeito. – Ela sorriu, satisfeita com suas escolhas.
Com a compra finalizada, a mulher sentiu uma onda de felicidade artificial tomar conta de si. A expectativa pela entrega de seu pedido era quase palpável.
A porta da loja se abriu, revelando um androide imponente, uniformizado como um militar. Seus olhos luminosos se fixaram na mulher, que o seguiu em silêncio. Com um gesto delicado, o androide a ergueu nos braços e a levou para fora da loja.
Dentro da loja, outra mulher se posicionava na fila, aguardando ansiosamente sua vez de criar o homem perfeito. A cena se repetia inúmeras vezes, como um ritual mecânico e repetitivo.
Neste futuro distante, uma anomalia genética havia dizimado a população masculina. A humanidade, então, havia encontrado uma solução: a reprodução através de cápsulas e a criação de androides personalizados para suprir a necessidade afetiva e social das mulheres. O homem, biológico e imperfeito, havia se tornado obsoleto, substituído por máquinas perfeitas e programáveis.
A mulher, agora no conforto de seu apartamento, vestiu o vestido de noiva e aguardou ansiosa a chegada de seu noivo androide. Ela sabia que seria um casamento perfeito, livre de desilusões e sofrimentos. Afinal, ele havia sido criado exatamente como ela sempre sonhou: um amante perfeito, com um corpo que atendia a todas as suas expectativas.
A felicidade, porém, era uma ilusão programada, uma sensação artificial que preenchia o vazio existencial de uma sociedade que havia renunciado à complexidade e à imprevisibilidade da vida.