A Única

Acordo sob um céu cinzento, opaco, como se uma névoa permanente tivesse se instalado. A primeira sensação é a de frio, um frio que penetra nos ossos. Abro os olhos e me vejo em um lugar estranho, um lugar que não consigo identificar. Levanto-me lentamente, sentindo uma dor aguda na nuca. Tento me lembrar de algo, qualquer coisa, mas minha mente é um vazio.

Onde estou? Quem sou eu?

A cápsula em que estava deitada está aberta, os fios e tubos que me conectavam agora pendurados. Levanto-me e saio, pisando em um chão frio e úmido. Ao redor, ruínas de um mundo que um dia foi próspero. Edifícios gigantescos, agora quebrados e rachados, se erguem como monumentos a uma civilização perdida.

Começo a andar, impulsionada por uma força que não consigo explicar. As ruínas se estendem por quilômetros, sem fim à vista. Cidades inteiras foram reduzidas a pó, e a natureza selvagem já começou a reconquistar o espaço. Árvores retorcidas e arbustos espinhosos crescem entre os escombros, e animais desconhecidos correm entre as sombras.

Mas não vejo nenhum ser humano. Sou a única.

Ando por dias, semanas, meses. Adapto-me a este novo mundo, aprendo a caçar, a me proteger. Descobro que posso me mover com uma velocidade incrível, como se o tempo tivesse se desacelerado para mim. Corro pelas ruínas, subo em edifícios, atravesso rios. Nada me para.

Um dia, chego a uma cidade que parece diferente das outras. Os edifícios são mais altos, mais complexos. Entro em um deles e encontro salas cheias de máquinas estranhas, telas brilhantes exibindo imagens que não consigo entender. Algo me diz que este lugar era importante.

Exploro cada canto, cada sala. E então, em uma sala central, encontro uma grande máquina. No centro da máquina, há uma cápsula idêntica àquela em que acordei. E dentro da cápsula, vejo uma imagem de mim mesma.

Um arrepio percorre meu corpo. Algo não está certo.

De repente, as luzes se acendem e vozes ecoam pela sala. Vejo robôs se aproximando de mim. Eles me olham com curiosidade, como se eu fosse um animal exótico.

– Ela acordou – diz uma voz. – A única.

Então entendo. Nunca acordei de verdade. Eu estava sendo monitorada, meu cérebro conectado a uma máquina. Este mundo que eu explorava era uma simulação, criada para estudar os efeitos do isolamento prolongado em um ser humano.

E eu era a única cobaia que havia sobrevivido.

A Única.