O Banquete Eterno
O crepúsculo, manto escarlate sobre a Terra, anunciava a hora fatídica. A cada ocaso, uma nova vítima era oferecida ao monstro cósmico que jazia inerte, mas insaciável, no centro da cidade.
A criatura, um colosso gelatinoso de cores iridescentes, pulsava com uma força que desafiava a compreensão humana. Sua chegada, silenciosa e repentina, havia transformado a vida em um ritual macabro.
No primeiro dia, os condenados à morte foram os escolhidos. A multidão, aterrorizada e impotente, assistia ao sacrifício, um nó de angústia em seus corações. No segundo, os doentes terminais foram arrastados para o altar improvisado. A cada dia que passava, a demanda aumentava exponencialmente, exigindo um número cada vez maior de vidas.
A escassez de condenados e doentes logo se tornou evidente.
A criatura, indiferente ao sofrimento humano, exigia mais. E assim, a sociedade, corrompida pelo medo, começou a entregar seus próprios. Pais ofereciam seus filhos, irmãos seus irmãos, amantes seus amantes. A esperança, a compaixão, tudo foi sacrificado no altar do monstro.
As ruas, antes vibrantes, tornaram-se desertas. O riso infantil, a música, a poesia, tudo silenciou diante da ameaça constante. A morte, antes um evento trágico e individual, tornou-se uma rotina, um ato necessário para a sobrevivência da espécie.
Em meio a esse caos, um homem, um escritor, decidiu registrar os acontecimentos. Com uma pena tremula, ele descrevia a degeneração da humanidade, a perda da dignidade, a transformação de uma civilização em um abatedouro. Seus escritos, carregados de angústia e desespero, eram um grito silencioso no vazio cósmico.
A cada crepúsculo, o escritor se dirigia à praça, onde a criatura aguardava impávida. Ali, ele observava a multidão entregando seus entes queridos, seus sonhos, sua própria humanidade. E a cada dia, ele se perguntava: até onde o homem seria capaz de ir para sobreviver?
A resposta, cruel e implacável, era revelada a cada pôr do sol. A criatura, um símbolo da destruição, havia se tornado o centro de um culto macabro, um deus a ser apaziguado com o sacrifício humano. E a humanidade, subjugada pelo medo, alimentava esse monstro, dia após dia, até que não restasse mais nada a oferecer.
[Fim]
Nota do autor: Esta história, inspirada nas obras de Edgar Allan Poe, busca explorar os limites da condição humana diante de uma ameaça existencial. A criatura, um ser alienígena indestrutível, simboliza a força cega da natureza, a indiferença do universo diante do sofrimento humano. A sociedade, por sua vez, representa a fragilidade da civilização, a facilidade com que ela pode ser corrompida pelo medo e pela necessidade de sobrevivência.
Palavras-chave: ficção científica, terror, alienígena, apocalipse, sacrifício humano, degeneração, medo, esperança, humanidade.