COLETÂNEA DE MICROCONTOS (ficção científica) alguns amigos recantistas vão se achar por aqui

 

 

I - CEGO DE CRISTAL

A Lua acordou cristal, espelhada, lapidada, transparente, translúcida, Silvanio fixou tanto o olhar, mas, tanto, que cegou-se dela. A calçada da Praça do Império, ficou coberta de cacos cristalizados e, em cada um deles, uma órbita castanho esverdeada, iguais aos olhos de Silvanio, vigiavam a madrugada.

 

 

II - LUZ DOURADA BRILHANTE

Moacir e Estêvão, eram amigos de longa data, às sextas se encontravam e davam vazão à esbórnia, nada tão exagerado, pois a idade e a saúde já não permitiam. Derrubavam com prazer, 02 garrafas de um bom vinho tinto, entremeadas de água mineral para lavar a serpentina e, uma farta porção de bolinhos de bacalhau. Compunham poesias, cantavam, tudo isso no bar do Chico Góis, amigo de juventude de ambos. Quando o estabelecimento  fechava, iam os três pela beira mar, até à vila onde todos residiam. Mas, esta madrugada foi diferente, pois à princípio eles pensaram, que o ponto dourado de luz brilhante que viam, no banco de areia, perto da parte onde as ondas se deitam na areia, fosse uma lanterna acesa. Ébrios e curiosos se aproximaram da luminosidade e foram sendo absorvidos por ela. Sem ação, sem palavras, foram sendo como que...escaneados por trilhões de pontinhos dourados de luz muito brilhante. Foi tudo muito rápido, tendo sido praticamente lançados de volta à beira d'água. Os amigos se perceberam, completamente lúcidos e àquelas mazelas da idade haviam desaparecido. Nada de dor nas juntas, tampouco os óculos eram necessários e uma energia nas partes, por assim dizer...mais vibrante. Entreolharam-se e sem nenhum combinado entre eles, resolveram não comentar nada com ninguém, quem iria acreditar em três velhinhos ébrios? Só que iriam aproveitar a energia adicional que sentiam...êêê...bons tempos rsss...

 

 

III - IMAGINÁRIO

Sandra era doce como um pudim e  fofa com um, mas, não dava sorte com os rapazes, alguns até vingaram por alguns meses, outros se tornaram apenas, amargores d'um passado distante. A solidão lhe trouxe de volta Lucas,  o seu querido amigo imaginário de infância, só que numa versão atualizada, sua inteligência artificial particular. Os amigos nunca viram Sandra tão feliz, só que a cada dia ela se afastava mais de tudo, dos amigos, da família, da sua loja de decoração, até mesmo do mercado. Pouco se alimentava, ficava dias inteiros conversando com Lucas, vivia com ele um amor tórrido, bem diferente da amizade de infância. Sandra descorava, desbotava, sua doçura e fofura viraram  um tópico único de vida...loucura. Feneceu sobre seu leito fofo, sozinha e magra.

 

 

IV - ESCULTURA

Roberta colecionava pregos, porcas, arruelas, parafusos e buchas. Sua casa já estava pequena para tanta tralha. Ela própria não sabia o porquê fazia aquilo, pra quê aquele acúmulo de coisas, era difícil entrar e sair de casa, por causa do excesso de caixas armazenadas. Certo dia, Roberta sentiu-se mal, mas, não achava o celular pra pedir ajuda, não conseguia achar a saída do quarto, a janela estava coberta por caixas muito pesadas, ela viu sua vida passar em frente aos olhos, o ar lhe faltou e se apagou pra sempre. Semanas passadas, seu corpo foi encontrado, ou o que fora um dia. Todo ligado por arruelas, porcas, parafusos, como uma escultura metálica surreal.

 

 

V - TUDO NOVO DE NOVO

Augusta era um mulher silenciosa, daquelas que só faziam uso da palavra, em momentos absolutamente necessários. Seu marido Solano ao contrário, falava pelos cotovelos, mas, precisaram fazer coro quando um círculo branco e prata, apareceu girando freneticamente no meio da sala e, em uníssono gritaram SOCORRO! Sendo levados pelo portal, para outra dimensão, onde eram fetos e estavam dentro de ventres...tudo começaria de novo.

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 08/05/2023
Reeditado em 10/05/2023
Código do texto: T7783379
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