Mercúrio, meu lar

— Papai, papai qual planeta será hoje?

Olhava para ele com muita curiosidade, pois todas as noites antes de dormir e do sono vir, meu pai contava as suas histórias do universo. E isto era algo que me fascinava. "Quando crescer quero ser igual ao papai!" - pensava - Um capitão de uma nave em rumo ao desconhecido.

Ele, colocava o lençol com carinho. Desligava a luz e aí sim a nossa aventura iniciava...

— Computador: Simule o Sistema Solar...

A empolgação era grande e eu nem sabia por onde começar. O holograma em cima de mim, brilhava de um modo especial. Apontei de dedo para o Papai.

— Aquele papai...

— Sério mesmo que será este? Meu pai parecia desconcertado. Queria ver ele idealizar nossa viagem e com certeza deveria estar pregando uma peça no meu querido pai, afinal, seria interessante observar se ele conseguiria fazer uma história interessante com aquele planeta: Mercúrio.

Ele falava com o computador pedindo dados e mais dados. Ao prestar atenção nele sentia que parecia um pouco nervoso. Começava a coletar informações que passeavam na sua mão de modo rápido.

— Já sei... - disse ele - Vamos para o nosso: Era uma vez...

Prisioneiros de alta periculosidade estavam dando trabalho para a Confederação Solares. A pergunta que se fazia era: — O que fazer com tais, pessoas? Eles precisavam ser guardado em um local onde não fosse bastante visitado por mercenários; entende filho?

O papai formulava a frase na mente e comunicava ao computador para enfim, fazer a busca no meu vocabulário, eu entendia perfeitamente as pequenas pausas que ele sempre executava ao contar as nossas histórias.

— E para isto - continuava com a história - foi feito uma prisão toda especial aqui. O papai aproximava o planeta com a mão fazendo movimentos rápidos para chegar no polo e isto tornava-se a mim mágico aquela projeção tridimensional. No polo ao extremo de Mercúrio...

— Mas por que aqui papai? Logo aqui. Apontava-lhe de dedo querendo interagir com o faz de conta tecnológico.

— Aqui querido, é um local muito frio e de escuridão total. Este planeta é hostil filho, porém existe gelo e crateras imensas. Que poderia ser feito uma base sim e graças ao passado podemos fazer estas projeções e simulações.

— Como foi a primeira visita, papai a Mercúrio? Ele falava com o computador e pediu para a inteligência artificial passar a informação mais detalhada:

“A primeira sonda, Mariner 10, conseguiu observar, em 1974, a metade iluminada do planeta. Já em 2013, a espaçonave Messenger, da NASA, conseguiu entrar na órbita de Mercúrio.”

— Através destas observações foi possível detalhar um mapa dimensional do planeta. E agora podemos contar esta história através desta simulação querido. Vamos a ela?

— Sim, papai continue.

Mercúrio, um planeta do Sistema Solar, o mais próximo do sol. Com um diâmetro de 4800 km. Quase do tamanho da nossa lua. Foi o local escolhido para ser construído a primeira prisão. Criogênica do Sistema Solar. O perigo de prisioneiros que precisariam passar por um período de contenção foi resolvido, pois, em um local tão inóspito. Seria praticamente impossível o seu resgate. Enviado para o local próximo ao polo de Mercúrio, encontrou-se uma cratera com as condições ideais para a execução da missão. Neste local foi mapeado Gelo, e também a escuridão se faz de modo contínuo, possibilitando os trabalhos de engenharia civil. Os executantes? Robôs com impressoras 3d com o intuito de criar uma base habitável de controle.

— Viver em Mercúrio, papai? É possível?

— O Ser humano desbravou. Marte, e depois Europa, Ganimedes, Titã, Tritão e até Caronte já existe uma base. Nas nossas luas lembra? Vejo aqui que já estudou sobre isto. E você conhece também nossas colônias em alguns planetas.

— Por hologramas, sim, falava para o papai.

Vamos continuar com a história...

Fora meses de construção autônoma e com a base pronta no lado escuro de Mercúrio, pousou a nave com a carga bem disposta em invólucros. Os presos seriam armazenados na prisão já confeccionada. Até então quem administrava as instalações eram robôs que suportariam sem muita dificuldade o frio escaldante do polo de Mercúrio, coisa de cento e setenta graus abaixo de zero.

— Computador simule a prisão... E a construção era desenhada e confeccionada ao alcance do olhar daquele garoto, ele observava com bastante entusiasmo, sentia muita verdade naquela história e lhe parecia bem diferente das demais contadas pelo, o seu pai nas noites que antecediam o seu sono. Prisão base devidamente construída, uma nave com os presos foram transportados para dentro da base. Tudo precisava ocorrer de modo rápido. Pois, as condições de temperatura poderiam afetar os invólucros.

— E é possível respirar neste local papai?

— Não filho, Mercúrio não tem atmosfera, vento ou chuva, não existe neste planeta. E por isto quando está de frente para o sol. Mercúrio é um inferno e quando está do sentido oposto o frio é intenso. Nos polos a escuridão é absoluta e também é bastante frio. Foi feita esta base dentro de uma cratera de impacto. Nas crateras de impacto existem uma abundância de Gelo.

— Onde há gelo, pode-se ter água, e uma probabilidade de vida. A expressão do meu pai era preocupada. Ele estaria interagindo demais com a história ou era cansaço? Eu estava morrendo de curiosidade de saber como era esta base em Mercúrio. Ele continuava.

Para a refrigeração foram feitos dutos onde foi feito a extração do gelo, que serviu para a manutenção da nossa prisão. Conforme o papai contava a história, o computador assimilava a informação e transmitia em tempo real a simulação. O papai olhava para o relógio, já era tarde. Eu compreendia a preocupação dele com o meu sono. Porém, precisava saber onde iria parar aquela história...

— Amanhã continuamos. Computador termine a simulação...

— Mas papai...

— Nada demais pequeno.

Era mamãe que aparecia na porta, chamando-o e me enviando um beijo.

Desligando a luz, o sono veio cheio de sonhos com aventuras pelo universo.

///

— Contou para ele? Uma moça, bela de uns trinta e poucos anos, cabelos envoltos a uma trança e uma roupa de elastano, que provavelmente a mantinha aquecida.

— Não tive coragem...

— Mas você precisa contar ele já tem sete anos, é melhor não ficar adiando...

///

“Computador simule um parque.” No saguão da nave onde o menino “viajava” era o seu lugar lúdico. Nunca conheceu a Terra, nem outro lugar que não fosse aquela nave. E o saguão ao centro era o seu local de diversão.

“Computador simule uma menina.” Um holograma de uma menina aparecia. Perguntava: — Quer brincar? E passava horas até chegar o momento de dormir. Era uma vida reclusa a tecnologia. Os pais sempre atarefados em outros setores e isto deixava o garoto entristecido. A noite, tinha aquele encontro que quebrava a monotonia de conversar o tempo todo com uma máquina. Nos vidros que deveriam mostrar a infinidade do universo nesta viagem sem fim. Ele, via nuvens, e a noite uma simulação de noite como na Terra.

A brincadeira terminou quando uma contração na nave fez o menino cair. Já havia acontecido antes. Não com aquele impacto. O simulador por alguns segundos parou de mostrar a realidade virtual ao menino.

Ele abriu os olhos e pediu para o computador explicar-lhe o que era aquilo. O computador disse não ter autorização.

A mãe chegou de modo sutil e aplicou algo no braço do garoto. Ele dormiu.

Quando abriu os olhos estava envolto em uma redoma de vidro. Não entendia o que estava acontecendo.

— Papai, Mamãe, o que esta havendo?

Mamãe dizia para o papai, que deveria ter me contado isto ontem. Iria ser lançado em uma nave não tripulada rumo ao desconhecido. Ao papai e a mamãe não seria permitido. Sair da prisão em Mercúrio, porém a mim. Sim, afinal, só havia um lugar nesta nave de resgate.

Olhei para baixo. Não, não morava em uma nave. Era uma base, tal como o meu pai tentou me contar naquela noite de sonhos guiados. Algo aconteceu de errado que não permitiu a vida mais naquela prisão.

Waldryano
Enviado por Waldryano em 06/08/2022
Reeditado em 08/08/2022
Código do texto: T7576495
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