Olhava para ela deitada na bancada, faltavam algumas peças ela iria funcionar, porém, eu precisava de alimento. Noite e dia, minha vida se passava dentro daquela oficina.

Ninguém entendia a minha obsessão, afinal a minha filha que estaria criando. Na nossa vila algo assim poderia ser considerado um crime. Todavia criminoso seria saberem em qual circunstancia ela se foi.
Com um paquímetro fazia as medições. As engrenagens estavam corretamente alinhadas. O óleo importante para o funcionamento seria um pouco difícil nada impossível. Somente trocar algumas sacas de trigo. Ela iria funcionar.

— Amor — dizia a minha esposa. Venha jantar, será sopa, e deixe essa oficina de uma vez. Já lhe disse que preciso entrar neste local e fazer uma limpeza. Amanhã sem falta vou fazer uma faxina.

Eu e Amélia, tomávamos a nossa sopa.

— Então, Jorge, o que se passa nessa oficina? Você poderia contar? Ela tentava decifrar o meu olhar, eu tentava observar a vela, deixar-se queimar. Isto fazia com que Amélia ficasse mais irritada.

— Ah sim! Amanhã você vai buscar Ametista na sua irmã, dois meses não são dois dias e estou com saudades da minha pequena.

Terminei a sopa limpei a boca, e fui novamente para a minha oficina, a noite seria longa, muitas engrenagens soltas, um tanto de tinta. Ametista precisaria funcionar. Meu prazo estava quase vencendo.

No outro dia, antes da Amélia acordar, fui no quarto da Ametista, escolhi um belo vestido, xadrez que ela tinha, dei-lhe no seu aniversário. Seria aquele.

As articulações estavam corretas, o tamanho também. O cabelo? Poderia contar que foi cortado. Não encontrei no mesmo tom.
Mas o óleo? Segundo o manual precisava ser comprado na outra vila, só poderia ser aquele óleo. Olhei o relógio de bolso. Ainda haveria tempo. Sentei no meu cavalo e fui.

Próximo ao riacho, parei e chorei. Foi naquele lugar que Ametista se afogou. Mesmo com a nova menina na oficina. Eu vivenciara tudo. Eu não salvei a minha filha.

Na oficina, o óleo passava pelo mecanismo. O coração seria uma fita metálica bem alinhada. Só dar a corda que a mágica iria começar.

Suor caia-lhe pelo rosto. Amélia entrou e viu. O espanto foi tão grande, ela desmaiou. Deu-lhe a corda, e isto traria a vida de perfeitos movimentos.

"Bom, dia sou o seu pai. "
"Meu pai? Não entendo..."
"O teu nome é Ametista, precisa se comportar agora, nada de água, banhos.

"Você não pode as suas engrenagens não permitem."
"Quem é ela?"
"A sua mãe."

No dia seguinte, passeávamos por Paris, ela precisava comprar novas roupas, algumas pessoas estranharam seus movimentos, outras não. Amélia, chorou, fez drama e aceitou. Nossa Ametista é o nosso bem mais precioso. Só dar-lhe corda, mantê-la lubrificada, e com os parafusos apertados e tudo certo.


 
Waldryano
Enviado por Waldryano em 13/04/2021
Reeditado em 19/04/2021
Código do texto: T7231289
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