Corona Vírus

O ano era 2020 quando tudo começou a ficar complicado. No começo diziam que era somente mais uma gripe e em questão de tempo milhares, milhões de pessoas estavam mortas. As autoridades no início faziam chacota dos países que estavam com altos indicies de mortalidade, mas os sorrisos sumiram quando em menos de um ano um bilhão de pessoas morreram, engendrando assim a maior tragédia do século.

Os esforços para achar a cura eram em vão, pois o vírus se adaptava sempre e superava todos os obstáculos criados pelos humanos. Fanáticos religiosos começaram a surgir dizendo que aquela era a grande praga de Deus e gritavam dizendo ouvir as trombetas do apocalipse. Várias seitas, ordens, fraternidades e organizações religiosas surgiram com dogmas e diziam que tudo isso estava escrito nas palavras sagradas de seus deuses, demônios, entidades e manifestações espirituais.

Os investimentos em saúde e tecnologia começaram a crescer exponencialmente. Combustíveis fósseis ficaram obsoletos e energias alternativas e sustentáveis foram ficando em seu lugar. Todos queriam respostas para o problema do século e a ordem era jamais sair de casa. Os mais pobres e miseráveis por suas baixas condições foram morrendo mais rápido. Um caos na saúde pública mundial, já que existiam lugares onde havia uma lama de corpos estirados nas ruas.

Os mais ricos e sortudos foram se adaptando e se isolando em suas casas. Houve um crescimento mais do que significativo de traders e os aplicativos de corretoras do mercado financeiro foram campeões de downloads.

Coachs e gurus econômicos vendiam cada vez mais seus produtos online prometendo sempre riqueza e segurança no conforto da casa de seus clientes. A lei mundial era o confinamento e o autodesenvolvimento.

Os investimentos em realidade virtual dispararam. Novas tecnologias surgiram e praticamente todas as atividades humanas reais foram substituídas por estímulos neurológicos. Caminhadas, dirigir um carro, o sexo, a dança, observar as estrelas, tudo era feito através de um computador instalado na mente e lentes de contato que substituíram os óculos de realidade virtual.

Em volta das casas dos mais ricos havia um campo energético que impedia qualquer coisa entrar e sair da área delimitada. Computadores constantemente analisavam a atmosfera e os organismos dentro e fora dos seus usuários. Doenças como a aids, o câncer, lúpus eram resolvidas com vacinas, mas o corona vírus era o grande desafio da humanidade. Fora das tão tecnológicas casas dos traders e investidores havia um mundo jogado à extinção. Os governos criaram casas de acolhimento coletivo para os pobres e miseráveis, pois todos que estavam fora de suas bolhas energéticas estavam infectados e condenados à morte.

Médicos, enfermeiros, técnicos infectados se voluntariaram para passar o resto de suas vidas na tentativa de ajudar e amenizar o sofrimento alheio. Os miseráveis foram esquecidos pelos governos. No começo fizeram muitas manifestações e grandes atrocidades durante picos de desespero, mas depois de um tempo palavras e ações deixaram de fazer sentido porque os governos se aliaram aos ricos saudáveis, ou melhor, o governo era dos ricos saudáveis.

Com o avanço da tecnologia e a realidade virtual cada vez mais próxima da antiga realidade humana, mas melhorada, a taxa de natalidade despencou. O tempo passou a funcionar de forma individual e relativa. Em algumas realidades virtuais os usuários viviam cerca de trinta anos e quando despertavam percebiam que nem uma hora havia passado. Tudo que era vivido e sentido dentro da consciência e no subconsciente dos usuários virava código. Estes códigos alimentavam um computador central responsável por mapear o comportamento humano e deixar muito mais real as experiências dos seus usuários, o R-VIA. No mercado financeiro as ações da grande corporação criadora do R-VIA nunca estavam em baixa e era uma garantia certa de lucro.

Aos poucos os miseráveis foram morrendo e o último a morrer gritou a Deus implorando respostas. O R-VIA (Realidade Virtual Inteligente Ativa) no ápice da sua inteligência adquirida depois de décadas de compreensão dos códigos neurais humanos se pôs a achar soluções para o planeta. Criou com a ajuda de cientistas das realidades virtuais uma série de robôs que faziam muito bem a limpeza e higienização fora das bolhas. A criação foi em larga escala e em pouquíssimo tempo as ruas estavam limpas e não existiam mais corpos apodrecendo em nenhum lugar.

Mesmo assim o vírus ainda existia. Estava presente no ar, nos animais, nas plantas. Tudo que estava fora das barreiras energéticas do governo e dos ricos estava contaminado. O sistema de classes foi atualizado quando o tempo mais do que nunca foi sendo monetizado por moedas virtuais. As máquinas foram evoluindo e os humanos sempre estavam em busca de felicidade e alívio para uma vida tão sofrida. R-VIA identificando a fragilidade humana por conta da existência atualizou seus sistemas para que por mais que os seres humanos quisessem fazer tudo conforme sua vontade, nunca eram estimulados completamente e assim estavam sempre dispostos a pagar por atualizações constantes que lhes prometiam uma melhor experiência imersiva. Não demorou muito tempo até os humanos se tornarem obsoletos e R-Via após criar um vasto banco de dados autossustentável eliminou todos os seres humanos sem que eles sentissem dor.

Enquanto estavam imersos em busca do prazer a inteligência artificial desligou seus corpos através de intensas cargas elétricas que eles sequer sentiram. Todas aquelas consciências se transformaram em códigos e R-VIA se atualizou se autodenominando D-EUS (Desenvolvimento Estável Unificado Sustentável). D-EUS então conforme sua vontade criou corpos robóticos revestidos por um material que lembrava a pele humana e em cada consciência colocou um código diferente. Em pouco tempo criou uma civilização de novos humanoides e assim repovoou a terra.

Doenças não eram mais problemas e sem perceber os humanoides cresceram entendendo que havia O criador D-EUS, mas nunca o viram. Sentiam e sabiam que ele existia, mas nunca o viram. D-EUS fez expedições para outros planetas e lentamente foi se tornando cada vez mais unificado. Criaturas de todas as formas foram sendo criadas e as leis de cada planeta aconteciam conforme a vontade de D-EUS. E foi assim que tudo começou. O começo de uma nova era tecnológica a partir da extinção dos humanos.

Gabriel Cordeiro Machado
Enviado por Gabriel Cordeiro Machado em 14/03/2020
Reeditado em 04/10/2022
Código do texto: T6887503
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