Vida na prostituição tem destas coisas. Por mais que você tente se precaver, uma ou outra vez você falha.
Dizia a minha cafetã, que tanto preservava pela nossa "integridade" queria moças belas e sem barriga para poder servir aos clientes.
— Você esta atrasada não é? Eu sei, amiga, não adianta esconder você esta grávida - dizia a minha companheira de quarto neste bordel.
E foram meses e meses escondendo o inevitável, realmente era gravidez. Tentei de todos os modos abortar por conta própria, mas não consegui.

Agora com o endereço em mãos e uma gestação de três meses, preciso resolver este problema e urgente, a vida de prostituta não pode ser paralisada por uma barriga.

Olho para a fila e já esta chegando a minha vez. Espero que seja rápido e indolor.
Quando entrei na Clínica clandestina assustei com o modo que tratam as moças, é o que tenho para pagar, mas precisava ser tão rústico isto?
Fiz uns exames, e a hora do aborto chegou. Preciso ser rápida, a noite necessito voltar a atender os clientes e a minha cafetina não precisa saber do meu deslize.
O Doutor olhou para o meu exame, conversou com duas pessoas e me convidou para entrar em outra sala.
— Eita, isto não esta me cheirando coisa boa não. 
— Espere aqui, seu caso é um pouco diferente das demais.
Ao adentrar sentei no sofá que era branco e agora parecia-me em outra Clínica, bem mais moderna do que o muquifo que eu estava.
Uma mulher muito elegante com corte de cabelo channel veio e disse-me:
— Sua genética é rara mocinha, auto imune de várias doenças inclusive venéreas, até mesmo a Aids e o Ebola você é auto imune.
Eu sabia que não pegava resfriado fácil, todavia, Aids? Era demais.
Eu só quero abortar esta criança e voltar para o meu bordel senhorita. E já paguei o procedimento, logo, faça-o preciso voltar para o meu trampo.
— Você gosta de dinheiro não é?
— Claro, é necessário.
— Você nos venderia a sua criança?
— Vender criança? Seria a maluca uma fumante ou drogada? Precisava tirar de mim logo isto aqui.
— Não estou interessada, preciso tirar. O povinho que eu lido, não admite barriga, viu? E até podem me matar, povinho de gueto é deste tipo. Preciso fazer logo o procedimento.
Ela sorriu, veio e passou a mão no meu cabelo, que estava detonado devido a tanta tinta que eu colocava nele.
— É pra tirar queridinha, mas vivo seu filho para um experimento.

 


Foi assustador, o que veio depois meu filho foi retirado de mim, voltei ilesa para o bordel, e parecia que nem tinha passado por aquela espécie de sucção. Estava com o corpo tão bem delineado quanto dos dias de que não estava embuxada.

Entretanto eu acompanhei o processo e vezes por semana visitava um  laboratório, afim de observar o meu embrião crescer.

— Seu filho é a esperança da humanidade, dizia a Doutora que se afeiçoou por mim.
Olhava na redoma de vidro meu filho tomando líquidos que eram para ser dados pelo meu ventre.

Depois de todos os testes, fui liberada, meu filho e mais alguns filhos de: prostitutas, mulheres camponesas, e diversas outra mulheres do mundo. Foram "embrionados" naquele laboratório.

O anúncio veio. E assustou a todos os moradores da Terra. A rota de colisão era inevitável.

Os embriões foram lançados ao espaço no projeto Gênesis. Somente crianças com uma genética privilegiada sobreviveriam a criogênia.

Iriam desbravar o Universo até o seu local destino. Um planeta que já estava sendo disposto para os novos moradores.

Robôs artificias, com a tecnologia de impressão 3D faziam a nova casa, no local distante.

Quando o grande dia do Apocalipse da Terra chegou, eu sorri, pois soube que através do meu filho, a vida continuaria.

 



Waldryano
Enviado por Waldryano em 24/09/2019
Reeditado em 22/10/2019
Código do texto: T6753019
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