O EVANGELHO APÓCRIFO DE SÃO DENIRSO

O EVANGELHO APÓCRIFO DE SÃO DENIRSO

(Versão Brasileira A.I.C São Paulo)

O texto que se segue, assim como todo escrito que tenha pretensão de se tornar sagrado, foi encontrado de maneira miraculosa sob circunstâncias nebulosas. Os manuscritos originais foram achados dentro de um coco que apareceu boiando numa praia deserta da Bahia, e pasmem! Dentro da fruta hermeticamente fechada estava o guardanapo de papel com a mensagem completamente seca apesar de imersa na água do bendito fruto!!!! Realmente são muito misteriosos os caminhos da palavra...Não é preciso dizer que o pescador que encontrou o coco sagrado foi salvo...

São Denirso antes de se enveredar pelos sacros caminhos era Denilson Washington da Silva, estudante de Física da Universidade Federal da Bahia, onde concluiu com louvores o 3° Semestre. Profundamente influenciado pela leitura do livro "O Guia do Mochileiro das Galáxias" e acreditando que conquistara o entendimento pleno sobre a vida, o universo e tudo mais, abandonou a vida acadêmica vindo e se tornar o fundador e membro único da Ordem dos Monges Reticencialistas Pausais Raramente Exclamativos dos Penúltimos Dias...E com vocês: O primeiro, único e derradeiro Evangelho de São Denirso:

..."Antes de tudo existir, só havia o nada, mas não um nadinha qualquer, era um nada sem fim, um nada de tamanho inimaginável, (até porque o que é infinito não tem tamanho e você ao tentar imaginá-lo algum dia terá de parar e ele seguirá sendo nada eternamente além da sua imaginação...)...de repente...deste nada...criou-se tudo! Antes deste começo, havia somente uma força que intentava começar tudo, e para qual foi dada o nome de Deus. Esta força estava lá num cantinho daquele nada cósmico aguardando o momento certo de tudo começar...(Isto se existia alguma descontinuidade, uma dobrinha qualquer, mesmo um furinho, dentro deste nada para ele ter como parâmetro de saber qual seria o momento ideal de inaugurar o universo...) Mas Deus, que naquele momento ainda era tecnicamente nada por existir dentro do nada, sabia de tudo...(Deus era um paradoxo absurdo porque era um tudo cósmico existindo dentro de um nada absoluto). Neste momento inicial de poder inconcebível, o tudo foi feito, e para que este tudo não ficasse estático (o que seria a mesma coisa que nada), Deus criou o tempo, gerando assim uma ilusão de movimento e transformação... E o tudo foi aparentemente se modificando em diversos níveis...um campo energético interminável de múltiplas formas ululando constantemente em aparente transmutação. Mas sendo este tudo um sistema fechado ele não teve e continua não tendo como se modificar, pois sendo absolutamente tudo, não tem nada ou mesmo outro tudo ao lado para com quem trocar energias, crescer, diminuir e portanto se alterar...Assim, galáxias, buracos negros, super novas, quasares, pulsares, sóis, planetas, luas, elétrons, prótons e nêutrons, todos estes e outros itens parciais e relativos, continuidades dentro deste tudo ficaram constantemente resfriando e esquentando, subindo e descendo, explodindo e implodindo, e tudo isto continuando na mesma dentro deste todo imutável... Então o tempo que como toda ilusão dá a impressão de passar, passou... E não se sabe bem como, nem quando, onde e porque dentro deste tudo, surgiu a vida, E dentro deste conjunto de realidades ditas vivas, em um incerto momento surgiu o Homem, e dentro deste conjunto chamado Homem surgiram os povos, que em certa altura de suas histórias inventaram diversas concepções de uma força criadora, ideia surgida primeira e basicamente para explicar o mistério da existência do Universo e conseguir fazer as longas noites de insônia ficarem menores por estancar o fluxo de pensamento que teimava em sondar este imenso enigma...(quem já dormiu em cavernas sabe muito bem o quanto as noites são cheias de pensamentos elocubratórios dos porquês de tudo...) Estes diversos povos, conceberam a mesma ideia da existência de um Deus de maneiras diferentes, primeiro porque o paradoxo faz parte da vida de quem vive num tudo que surgiu do nada, e segundo pelas diferenças culturais de cada povo. Esta invenção, que aparentemente criava uma solução simples para todo o mistério e devolvia o sono, criou por outro lado um grande sentimento residual de orgulho e de poder em alguns povos que se sentiam os escolhidos pelo Deus por si mesmos inventado...Uma retroalimentação egoica muito perigosa...Seguindo na trilha deste auto favoritismo logo fundaram instituições que tinham a missão de concretizar este mito, deram jeito de surgir de maneira nebulosa alguns textos que descreviam acontecimentos que diziam comprovar a existência de sua invenção, estes foram por eles mesmo traduzidos, colocados em poucos livros guardados a sete chaves em seus mosteiros, onde volta e meia eram "retraduzidos"...E isto criou por séculos uma ideia muito básica que dividia o mundo em duas partes, os que acreditavam ser os preferidos de Deus e o resto do mundo que deveria ser salvo desta despreferência. Coincidentemente no resto do mundo, além destas almas perdidas existia todo tipo de riqueza, que na lógica dos escolhidos, sendo criada pelo Deus que tudo criou, deveria ser de quem MELHOR acreditava nele... Desta maneira os escolhidos se lançaram em viagens de "conversão", onde pilharam (tesouros) e empilharam (cadáveres dos infiéis), onde escravizaram e mataram sem nenhuma piedade diversos povos que também acreditavam na mesma invenção fundamental de sua crença, (a escravidão era franquiada pelos textos que acreditavam comprovar a existência do Deus que inventaram e matando acreditavam estar sendo benevolentes dando a chance destas almas perdidas terem um julgamento justo por acreditar em algo diferente daquilo que inventaram ser a verdade...) Desta maneira foram dizimados, Mapuches, Charruas, Kaingangs, Tapes, Carijós, Guaranis, Tupis, Xavantes, Carajás, Incas, Chibchas, Chavins, Astecas, Zacatecas, Toltecas, Yaquis, Maias, Senecas, Choctaws, Lakotas, Paiutes, Cheyennes, Kiowas, Iroqueses. Apaches, Siouxs, Pueblos, Cherokees, Hopis, Navajos, Pawnees, os Aborígenes Australianos, TODAS tribos africanas, e todos os povos de todos as regiões do planeta "conquistadas" e convertidas em pó pelos escolhidos... (Os espíritos dos inocentes que me perdoem a falta do nome de sua tribo nesta lista...Vocês haverão de convir que se ela fosse completa teria várias vezes o tamanho desta que apresento e não caberia dentro deste côco).

Desta forma, com vistas a retomar o sentido fundamental, pacifista porque totalmente inóculo da crença humana num Deus criador, neste momento solene, eu, auto proclamado São Denirso, do alto deste morrinho tenho a pretensão de estar gritando para todos os povos da Terra:

"lembrai-vos que a ideia de um Deus criador foi concebida para solucionar o problema de insônia de vossos antepassados, não para ser usada como arma de guerra num interminável "explorai-vos, escravizai-vos e matai-vos uns aos outros!"...

E tendo dito isto, São Denirso como todo bom homem santo baiano colocou uma reticência final em seu evangelho, desejou um Axé Babá Saravá Shalom Shablam Namastê e um feliz resto de eternidade para todos os povos da Terra, lançou os búzios, conferiu o resultado, arregalou os olhos, se levantou, olhou para os lados, ergueu um pouco acima dos joelhos a bandeira do S.C. Bahia que lhe servia de manto e saiu correndo...

Steve Johnson de Almeida
Enviado por Steve Johnson de Almeida em 19/02/2013
Reeditado em 23/12/2013
Código do texto: T4148711
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