Mallaon, o filho de Mênfis ( Conclusão )
Mallaon percebeu o momento exato de se deixar ver. Levantou-se! Caminhou vagarosamente na direção do tripulante. O tripulante da nave percebeu a aproximação de Malaon. Lançou sobre ele um raio de luz. Malaon ficou paralisado. Porém, seus sentidos funcionavam perfeitamente.
O tripulante aproximou-se com gestos, como se pedisse que Malaon ficasse calmo. Nesse momento, Mallaon sentiu medo.
E o professor, porque demorava tanto? – pensava Mallaon – Será que não teria acordado com seus gritos? Tenta conversar mesmo sabendo que não seria entendido.
Para sua surpresa, o tripulante entendia sua língua, aliás, seus pensamentos...
– Por favor, não me faça mal! Eu só queria conhecer você. Olha... eu sou fascinado em discos voadores! Eu estudo ufologia... Eu quero muito conhecê-los e... – pensava Mallaon num desespero íntimo.
– Calma! Calma! – disse o tripulante.
– Meu Deus! Eu achei... Então, você não é um marciano?! – respondeu Mallaon em pensamentos.
– Eu sou um marciano como dizem, mas não vou lhe fazer mal algum. Vamos conversar. E, para isso, é preciso levar você. Não podemos correr o risco de ficar aqui por muito tempo. Como você sabe, nem todos os humanos são do bem.
– Então, vai me levar?! Espere! Eu preciso falar com o professor... Professor! Professor!!! – berrava Mallaon apenas telepaticamente, pois não conseguia falar. Estava totalmente paralisado.
Seus “gritos” não foram ouvidos. Sentiu um gelo percorrer seu corpo desde a sola dos pés até à cabeça... e tudo sumiu de repente!
Ao voltar a si, estava deitado de costas numa espécie de mesa numa sala parecida com um laboratório. Novamente teve medo!
– Onde estou? O que fizeram comigo? Roubaram meu cérebro é isso?! – somente então ouviu sua própria voz.
O marciano à sua frente sorriu. Possuía dentes perfeitos.
– Calma... amigo! Você está em Mênfis, o nosso planeta. Só lhe trouxemos para cá para conversarmos em paz! Lá na terra sempre é perigoso para nós. Muitos dos nossos “Romenes” já ficaram por lá.
– O que é “Romenes”?
– ”Romenes”... é como se fossem homens para vocês. Como se chama?
– Mallaon.
– Mallaon! Sabia que é um nome intergaláctico? Eu também me chamo Mallaon e conheci sua mãe – Mallaon ficou deveras assustado.
– Você conheceu minha mãe? Quando foi isso?
– Antes de você nascer. Eu a conheci ali, naquele mesmo lugar em que lhe encontrei. Eu passei todos esses anos tentando um contato com você, mas você era sempre muito bem protegido, sua mãe temia que eu fosse buscá-lo um dia.
– Espera aí, você conheceu minha mãe, ela temia que você fosse me buscar, o que está acontecendo?! Acho que perdi parte desse filme...
– Mallaon, eu sou o seu pai!
– O quê! Meu pai!? Você pensa que vai me convencer que é meu pai!
– Quem é seu pai Mallaon?
– Meu pai... bem... eu... eu não tenho pai...
– Está vendo? Você não tem pai! Sua mãe não podia lhe dizer isso.
– Espera aí... você está dizendo que eu sou filho de um ET?!
– Isso mesmo, meu filho! Não se preocupe, pois você é apenas um ascendente de marcianos e tem uma missão a cumprir na terra. Isto não o difere fisiologicamente em nada dos humanos, camuflamos perfeitamente nossas características genéticas quando implantamos nossos gametas em sua mãe.
– Agora entendo por que minha mãe nunca me contou quem era o meu pai! Imagino, ela me dizendo que eu era filho de um ET... Então, está explicado por que eu sou tão fascinado por discos voadores, pelo universo e pelas galáxias. Meu Deus! Eu sou um marciano!!! Você é meu pai!?
Mallaon desata em um choro convulsivo.
– Você não sabe o que é nascer e crescer sem um pai cara! Todas as crianças da minha rua tinham um pai... Eu nunca pude saber o que era isso... Nunca recebi um presente de natal do meu pai... Nunca pude passear com meu pai... Meu pai nunca me abraçou...
O marciano o abraçou e chorou também. Suas lágrimas caiam como pequenas pedrinhas de cristal espatifando no chão prateado.
– Você chora! O que você sente?
– Nós também temos sentimento Mallaon, chamamos de “Pathos”. “Pathos” é o mais nobre tesouro que um marciano possui e o que é mais divino entre nós. Eu também o amo e igualmente padeci muitos “pathos” por saber que tinha um filho vivendo sem mim na terra. Por isso, por sermos muito amorosos é que Deus a quem chamamos “Divo” deu-nos uma missão muito séria e precisamos cumpri-la antes que seja tarde demais.
– Que missão é essa?
– Salvar o mundo das guerras do futuro. E elas já estão acontecendo. Começaram com o ataque das torres gêmeas nos EUA, com as guerras no Oriente Médio e com o armamento nuclear do Irã, no Iraque e em todos os países do oriente que logo se estenderá para o além mundo e todo o planeta será destruído! Não só o planeta, mas se acontecer a batalha final, com as armas que já se encontram armazenadas, todo o universo será atingido por gases tóxicos e destruirá tudo em questão de dias! Até os planetas mais distantes, como Mênfis, está condenado a desaparecer.
– Como vocês sabem disso?
– Vocês também sabem, mas ninguém acredita que irá acontecer de verdade. Você sabe da existência de tais armas, ou não sabe?
– É... eu já ouvi alguns noticiários, mas os governos camuflam tais notícias.
– Isso mesmo! Os governos não querem que o povo saiba o real perigo, mas elas existem e é uma ameaça cósmica. E você foi escolhido para ser nosso representante na terra. Você estará levando para terra hoje o distintivo da paz e irá levá-la aos continentes, cruzar oceanos e levará a carta da paz aos países de todo o mundo.
– Mas como será isso! Eu sou apenas um estudante de astronomia!
– Não se preocupe como isto será feito! Você é o enviado! No momento certo, você saberá o que fazer. Irá acontecer uma grande manifestação pela preservação do meio ambiente e pela paz mundial, os ecologistas e os pacifistas estão encabeçando tal movimentação, lançarão um concurso de redação nas escolas do mundo inteiro. Serão selecionadas em etapas de classificação e você será selecionado no seu país. Irá viajar pelo mundo até as competições finais e por onde passar levará o distintivo da paz. Seu texto será sempre escolhido até chegar à etapa final. Suas idéias serão refletidas no mundo inteiro e você ganhará o Prêmio Nobel da Paz e aí o mundo todo estará ligado no jovem cientista Mallaon. E quando você fizer a leitura de sua redação haverá uma comoção mundial, você vai tocar os corações do povo, dos dirigentes, dos poderosos que estão nos governos e as nações se voltarão para refletirem. Aos poucos começarão a se desfazer dos armamentos. Será o inicio da grande paz mundial e salvação do cosmo.
– Mas eu nem sou tão inteligente...
– Você será capaz, não se preocupe! Agora vista estas roupas. Vou lhe mostrar nosso planeta. Esta noite nós ainda retornaremos a Terra.
Vestiram-lhe uma roupa prateada, parecida com um tecido de alumínio e saíram da sala do laboratório. Mallaon viu os marcianos! Eram todos muito parecidos. Havia marcianos jovens e crianças e não se conseguia distinguir os adultos dos velhos, mas havia crianças, muitas delas, e eram bonitinhas.
A paisagem era diferente, os terrenos montanhosos e a vegetação rasteira. Havia algumas árvores que mais pareciam bonsais cheias de frutos desconhecidos. O sol podia ser visto em Mênfis, mas era fraco e sua cor, mais parecia com a cor da lua. As cidades eram construídas com blocos azuis retirados das montanhas, semelhantes com construções vistas nos filmes de guerras espaciais. Havia grandes monumentos que lhe explicaram ser as faculdades.
Depois do passeio, ofereceram a Mallaon uma refeição, uma espécie de vegetal parecido com Berinjela. Todos comiam com grande satisfação. Mallaon conseguiu comer uma pequena porção. Não era o que se podia dizer “uma delícia”. Logo a seguir, a preparação da nave para o retorno.
Durante a viagem o marciano ensinava ao curioso Mallaon os comandos da nave. Pousaram no mesmo lugar de antes. Eram duas horas da madrugada. O local estava deserto. Mallaon pai, abraçou Mallaon filho. Ambos choram comovidos.
– Meu pai... como farei para me comunicar com você? Não quero perdê-lo de novo.
– Você tem um dispositivo implantado sob sua costela direita, quando desejar se comunicar comigo, deverá ir onde há uma torre de telefone construída com base de titânio. Nós temos aparelhos de transmissão ocultos acoplados nestas torres e você vai usar este aparelho para falar comigo.
O pai lhe entregou um aparelho minúsculo parecido com um “ioiô” e ponderou que Mallaon iria dormir um pouco antes de poder caminhar. Beijou o filho e entrou novamente na nave. Partiu levando um rastro de luz azul.
Mallaon sentiu uma moleza nas pernas, caiu num sono profundo. Acordou tempos depois com o professor junto dele dando-lhe tapinhas no rosto.
– Menino, acorde! Por onde você andou? Quer me matar de susto?
– Professor?! Onde estou?
– No acampamento da cidade de Varginha! Você sumiu desde a noite passada, me deixou quase louco! Já estava decidido ir à polícia. Há pouco, vi uma luz azul baixando aqui e vim ver o que era. Quando consegui chegar, vi novamente a luz azul subir e desapareceu no céu. Então, eu encontrei você dormindo. Eram eles, não era?
– Professor eu fui abduzido! Eles me levaram e eu fui a Mênfis. Ele é o meu pai...
– Calma, calma, rapaz! Do que você está falando? Você está delirando. Acho que está com febre. Vamos! Precisamos ir embora daqui.
– Como ir embora, professor? O senhor não acredita que eles existem? Não foi por isto que me trouxe aqui? O que está havendo?
Mallaon não entendia as atitudes do professor. Não era por isso que haviam viajado: descobrir algo sobre os discos voadores? Agora, nada podia ser dito! Tudo era um sonho?
Levantaram acampamento. O professor colocou as coisas no carro em silêncio e retornaram para o Rio de Janeiro. A viajem começou em silêncio, uns vinte quilômetros depois, o professor tomou a palavra:
– Sinto muito meu filho! Eu não devia ter incentivado você a fazer esta viagem! Não pensei bem. Nunca imaginei que as coisas pudessem chegar a este ponto. Apenas quis lhe dar a oportunidade de um passeio, mas o que aconteceu é mesmo muito sério e deve ficar entre nós.
– Mas professor, não era isto que nós queríamos?
– Sim meu filho... Mas... veja bem: imagine se mais alguém na redondeza viu aquela luz descer ali e nesse momento aquele lugar está cheio de gente e a imprensa toda está baixando lá. Se souberem que você fez esta viagem não iriam nos deixar em paz. O governo mandará pegar você para estudos e sei lá o que fariam com você. É verdade que nós realizamos um sonho, mas é necessário manter segredo para sua própria segurança.
– E minha mãe! O que vou dizer a ela?
– Diga a verdade, mas somente a ela! Só nós três vamos saber do acontecido. Combinado?
– Combinado, professor! Mas é uma pena... É uma pena...
– É verdade meu filho. Um dia o mundo vai amadurecer o suficiente para saber que realmente existem outros planetas e outros seres muito parecidos com os homens, porém, muito mais evoluídos. E que estes, há séculos, estão tentando nos alertar para o perigo que nós estamos causando ao nosso planeta e à humanidade.
– Eu sei professor. E tenho premunição de que este dia não esta longe.
F I M
Maria Helena Camilo
Obs. Esse conto, teve a colaboração valiosa do amigo recantista Lucas Durand.