Ser pequeno outra vez
Quando eu era pequeno, eu achava que ser grande teria liberdade para fazer tudo que gente grande faz.
Que pena, eu cresci, e ao me sentir grande com todos os problemas que gente grande tem, desejei tornar a ser pequeno para voltar a ser tão inocente como eu era.
Quando eu me vi grande, notei que os meus brinquedos mudaram de forma, meus ganharam outras asas e que os meus amigos cresceram tanto, que até acho que alguns deles cresceram demais a ponto de não mais enxergar os outros que o ajudaram a ser criança numa infância em que o tempo não passava, e tinha a admirável valentia de Daniel Boone, a doçura de Rebeca, a inocência de Israel e o companheirismo do índio Mingo.
Tolice, isso tudo não existe mais, mas se faz presente quando quero lembrançar meus tempos idos, em que ser pequeno era a maior grandeza que se podia ter.
Hoje crescido me pergunto: PRA QUE FOI QUE FUI DESEJAR CRESCER? Eu acho que a fada do crescimento atendeu o meu pedido, mas tenho e carrego em mim a tristeza de que pelo menos uma vez na vida, ela poderia ter esquecido de realizar um desejo meu.
Tenho saudades do meu cavalo de pau, das minhas pernas soltas ao vento enfeitando um calção de menino vadio, que corria pelas ruas e ainda gritava, HAIÔ SILVER AVANTE.
Sem máscara e sem Sargento Garcia, tento recriar um mundo, num mundo que o tempo esqueceu e num passado tão ido que anseio rebusca-lo nalgum canto desse meu cérebro pensante, mergulhado na saudade de poder, quem sabe, por alguns instantes, ser pequeno outra vez.
Nesse exato momento, SOU MENINO PASSARINHO, COM VONTADE DE VOAR, ouvindo ao longe o sopro da cantiga do mestre Luiz Vieira, que não permite que (AO MENOS POR ESSE MOMENTO) eu cresça e me torne um ser grande.
FIM
Caldas de Cipó BA - 01 de março de 2022.