O Musical de Diadorim

Repentinamente formou-se um arco-íris ao fundo, completando o quadro que iniciara sendo pintado. A moldura lateral compunha-se por nuvens acima do dossel da floresta. Do sopé dela emergia um enevoado fumacê.

Acima das nuvens, um sol alaranjado cuspia labaredas de fogo; fazendo o arrebol vespertino banhar os montes e colinas. Com a cabeça para fora da loca, o dragão Diodorim via tudo. Vez para outra baforava as notas das cancões da banda alemã Karol of Harvest, fato que deixava os demais habitantes do longínquo Vale Perdido, boquiabertos.

Até o anoitecer, como sempre fora por àquelas bandas, a magia fantástica baixara sobre o vale. Terminado o concerto, dormiram felizes. Sem se preocuparem com o desconhecido. E um dos motivos era a baforada sonora do dragão Diodorim, amigo acalentador de todas as tardes. Guardião amigo, dos amigos!

- fique bem consigo, alimente-se da paz, tanto quanto Eu vos alimento a alma com o mais puro e cristalino rock progressivo; expressão musical que ultrapassou as barreiras do som. Boa noite. Que tenhas um sono reparador!

E bocejou um bocejo, frenético, estremecedor, sob o qual, todo Vale balançou, deitando as Morrarias; mas nada que não fosse a ratificação do desejo uma boa noite!

Misteriosamente, o Vale foi coberto pelo silêncio. No dia seguinte, os vagalumes acordariam os grilos, que despertariam os galos; que por sua vez, acordariam os pássaros, que acordaria a aurora. E apesar de nunca morrer, a vida retornaria aos mais longínquos recônditos do Vale.

Diadorim dormiria até mais tarde; afinal, um fiel, corajoso e exemplar guardião, dorme de olhos abertos em defesa de seu território. Na ata assinada, cuja reunião se dera nos primórdios de tempos imemoriais, rezava que para ser guardião daquelas terras, era necessário o candidato, além de dormir de olhos abertos em defesa dos baixios, apurar os ouvidos aos rumores além-colinas e as duas mãos na espada.

Nomeado guardião, título obtido por méritos e preenchimento de todos os requisitos, Diadorim gozava de alguns direitos; e iniciar mais tarde a jornada de trabalho durante o dia, era um deles. Tudo no Vale era resolvido, democraticamente, sob a luminosidade máxima dos raios de sol. Primavam todos, desde as frágeis formigas lavapés até o mais imponente dos elefantes, pela clareza e transparência.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 19/03/2021
Reeditado em 19/03/2021
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