A galeria
Três senhores muito bem vestidos transitam pelas ruas do centro conversando distraidamente:
— Ó sim, eu gosto do jeito que eles se expressam.
— E alguns ainda tem a maldade de dizer que nós não temos mais a capacidade de admirar as belas artes humanas por causa da perfeição a que estamos acostumados.
O terceiro homem que os acompanhava em silêncio aponta o interior de uma galeria.
— Olha, mas que conveniente, são obras de arte, venham vamos entrar.
A postura altiva e imponente dos novos visitantes chama atenção. Eles se detêm diante de um pequeno afresco:
— Ah, sim, vejam que magnífica composição, os traços firmes, a silhueta das sombras, a mistura das cores, realmente esse homem tem talento.
— Além do mais dá para perceber com que sensibilidade aguçada ele traduz a influência do meio em que vive através do seu olhar lírico.
— Com efeito também podemos ver que é uma pessoa generosa por causa das largas pinceladas que distribui ao longo da tela...
O trio logo é abordado por um senhor trajado distintamente:
— Percebo que os senhores são especialistas em pinturas artísticas. Com licença, permitam que me apresente, meu nome é Miguel Ângelo, sou curador da exposição.
Os três se entreolham surpresos.
— Definitivamente, hoje é o dia das coincidências. — um deles responde com um sorriso generoso.
— Vós também sois curadores?
— Não, mas o senhor é xará do meu amigo.
— Ó, que grande honra, mas quanto aos senhores...
— Perdão, eu sou Gabriel, esse aqui é Rafael e seu xará, Miguel. — o homem simpático se apresenta e aos outros.
A referência dos nomes angélicos surpreende o curador.
— Bem, devo reconhecer que é uma feliz coincidência, espero que estejam gostando das obras.
— Indubitavelmente, quem é o autor?
— Ele está logo ali, dando atenção aquela senhora. Tenho certeza de que irá gostar das suas observações. — o curador aponta para a direção.
Ao vê-los, o trio demonstra grande alegria.
— Ora vejam só, é nossa Rainha!
O curador não entende o comentário "Rainha de que país será?", volta-se para tentar reconhecer a figura apontada, mas apenas se impressiona com a beleza da jovem senhora, porém ao retornar para conversar com os novos amigos ele se vê sozinho. Confuso com a situação, o homem se aproxima do jovem pintor que faz as apresentações:
— Essa gentil senhora está me deixando envergonhado com tantos elogios.
O curador se curva para beijar a mão da senhora, com um sorriso plácido e voz cândida ela responde:
— Muito prazer, Maria.