ERA UMA VEZ... (Capítulo quinto)
Capítulo Quinto
E assim, a pequena Dríade partiu no coche colorido do crepúsculo. O sol estendeu-lhe um tapete de luz e as auras perfumosas ciciaram às folhas que se curvaram à sua passagem. Ela era a virgem dos mistérios, e o seu sorriso fugaz, como lampejo de felicidade, fez expandir exultações selvagens na intressência dos anelos sôfregos do Elfo. E antes que desaparecesse por completo, por entre as nuvens disse:
- Não desejo apagar jamais, com um segundo encontro, a ilusória certeza do seu amor, que julguei fosse meu, naquele instante que fugiu no tempo...
O Elfo viu descer, para o ventre aberto do infortúnio, o esquife imaterial de seus sonhos mais belos. Um poeta não pode ver a luz dourada aos poucos transformar-se em penumbra amarga e feia, é a vida de sua alma em seus versos que o mantém vivo, são seus versos, sua alma, lhe alimentando a alma. É sua alma em canções acordando as belezas que ele conhece e vislumbra...
A mulher apenas humana, em vão tentava elevar às alturas o ex amante, na valsejante labareda azul do seu amor. Ele nada quis ver, rodeado pela paliçada de gêlo da indiferença, sem perceber que ela era uma flor da angustia, dia a dia perdendo as pétalas...
Era o poeta indiferente. Não mais queria ver a sua cabeleira rebelde, como um pássaro doidejando ao vento, não mais o seu olhar inexpressivo. não procurou tampouco a primavera em seu sorriso. Nem desejou a carícia das suas mãos, como o ideal do sonhar.
O poeta do desengano, deixou o tédio apossar-se dele, e em vão o seu sangue bradava à vida que o libertasse. Ele agora via o mundo como uma paisagem desoladoramente triste, sem as cores de uma razão de viver.
O poeta dos mundos transcendentes pensava na morte, no desaparecimento final do ser, a incompreensão o envolvia num manto imponderável. Então, numa apoteose de revérberos, uma estrela cadente riscou o espaço, como uma grande exclamação de luz.
O Elfo viu nessa exclamação a resposta do espaço às suas indagações. era o baque violento da palavra exclarecedora: Morte!
Voou orientado pelo brilho da estrela cadente, e foi ter àquele lugar, no reino da blogosfera, onde a alegria cantava na sua alma.
Via-se ali, as figuras donairosas das Dríades dos cabelos de ouro, irmãs de sua amada... Elas se reclinavam suavemente sobre os rochedos esparços que ali se achavam, e desferiam dulcíssimas melodias.
E o jovem poeta das lendas, vendo sua sombra desenhar-se na clareira das Dríades, teve um sorriso indecifrável e, arrancando da bainha o gládio de prata, embebeu-o no coração...
Entendeu que, um dia, ele havia de esquecer as imagens, os sons, os perfumes, os cabelos de ouro de sua amada. E preferiu morrer, tendo ainda ante os olhos extasiados a visão maravilhosa, a ir profanar, com os cenários vulgares do mundo, a lembrança do reino das Dríades, que somente uma vez se vê.
...CONTINUA
T@CITO/XANADU