O Engabelador de Crianças
Devido sua origem árabe, o palhaço Ali Baba apresentava seu número em praça pública todos os dias. E ao tirar um galo de plástco da maleta e mostrá-lo, dizia: "era um vez, um galo pai do filho e marido da galinha, todos pintados em cor pedrez, em família fumam e jogam xadrez, quer que eu conte outra vez?"
- Sim.
- Era um vez, um galo pai do filho e marido da galinha, todos pintados em cor pedrez, em família fumame jogam xadrez, quer que eu conte outra vez?
Sem juízo, a plateia composta por crianças de diferentes faixa-etária, dizia: "sim".
- era um vez, um galo pai do filho e marido da galinha, todos pintados em cor pedrez, em família fumam e jogam xadrez, quer que eu conte outra vez?
- sim.
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De modo que a tarde caía e o sono também. Insensíveis e ingratos ao extremo, pois não punha uma mísera moeda dentro do boné de Ali Baba, os pais levavam seus filhos para dormir.
Aproveitando o ensejo, preparavam o cueiro e a mamadeira do filho, despediam-se, desejando um ao outro, boa noite; e papai e mamãe, corriam também para cama. Criança não tem hora certa para chorar, sorrir, comer, beber , ter dor de barriga e cagar. Palavra esta, que será motivo de reprimenda de mamãe e papai, ao filhinho; pois, lhe ensinará que o correto é dizer cocô; mas cocô não é palavra dicionarizada, não é flexão verbo defecar, portanto, papai e mamãe corrompem a mente do filhinho.
Esses são os únicos compromissos sociais das crianças; aliás, não diria compromissos sociais, pois, por não produzirem nada, nem o próprio alimento, já nascem corruptas e usurpadoras do leite materno.
Aos pais, por sua vez, quando algo comum acontece, escravos da responsabilidade, correm apressados, põem-se de pé, imediatamente. Fatos que deixam Ali Baba constrangido, sentindo-se incompetente, célebre palhaço incapacitado, impotente, choroso; pois sabe como ninguém, que pouco ou nada, poderá ajudar-lhes.