A História de Um Banana [revisado]
Victor era um menino muito medroso. Apesar de já ter nove anos de idade, deixava de fazer muita coisa por medo. Não brincava de pegar com os outros meninos porque podia cair e se machucar. Tinha medo de se sujar. Tinha medo de se cortar. Tinha medo de se perder. Tinha medo de tudo. Preferia ficar no quarto desenhando. Seu pai, César, vivia dizendo que sua filha caçula Flávia, de quatro anos de idade, era muito mais corajosa que o irmão. Era verdade. E ele não se importava.
Certa vez, César teve a ideia de levar a família para conhecer o sítio onde crescera. Queria estimular seu filho a criar coragem para brincar, ao ter contato com a natureza.
Chegando lá, acompanhado dos filhos, foi até o enorme quintal e começou a falar, com bastante empolgação:
- Vejam crianças e principalmente, você Victor. Era aqui que eu brincava quando eu tinha a sua idade. Eu corria. Era livre como um passarinho. Vê aquele açude? Eu o atravessava. Nadava feito um sapinho. Eu subia todas estas árvores, igual a um macaquinho. Por que você não pode ser assim, meu filho? Fica sempre estagnado feito uma planta. Apodrecendo no seu quarto.
Nestes momentos, Victor se sentia um nada. Ele queria poder agradar o pai. Ouvindo as duras palavras, que apesar de serem para o seu bem, machucavam, começou a chorar. Ele não tinha culpa. Ele era assim. Não queria mudar. Ao ver seu filho começar a soluçar, César ficou com raiva. Era sempre assim. Olhou para a esposa indignado e falou:
-Veja o que você fez mulher! Transformou nosso filho em UM BANANA! Vamos voltar lá para dentro. Este não tem jeito.
-Venha, Victor- disse a mãe.
-Não!- interrompeu o pai. Deixe-o ficar aí sozinho. Ele precisa pensar um pouco. Ele não pode ser assim para sempre.
A mãe obedeceu. Foram os três para a casa, menos Victor, que ficou sentado numa pedra, choramingando.
De repente, Victor viu um enorme macaco descendo de uma árvore. Ele tinha medo de macaco. Quase gritou, mas o animal se transformou em um homem de terno preto. O homem fez um sinal amigável para que o menino não reagisse e disse:
-Não tenha medo, Victor. Eu estou aqui para ajudar.
O garoto, já de pé e pronto para correr, perguntou:
-Me ajudar? Como?
-Eu ouvi tudo, disse o homem. Eu tenho algo que vai fazer você superar todos os seus medos. Você vai poder ser o que quiser e fazer o que seu pai quiser.
O homem tirou uma bala envolta em papel azul laminado do bolso e estendeu a mão, oferecendo-a a Victor.
-Desculpa, disse o menino, minha mãe falou que não posso aceitar presentes de estranhos.
O homem zombou:
-Vê? É por atitudes assim que você decepciona sempre o seu pai. Sempre fazendo o que a mamãezinha manda.
Não aceitando a provocação, Victor tomou a bala da mão do estranho e sem pensar, comeu-a.
-Muito bem, Victor. Seus pais já estão voltando agora. Mostre a eles que você não é o medroso que eles pensam...
A família de Victor se aproximava. O menino olhou para eles, levantou os braços e magicamente se transformou em um pássaro. Saiu voando em círculos ao redor de sua família e disse:
-Veja papai! Eu sou livre como um passarinho!
Seus pais não acreditavam no que viam:
-Pare com isso, Victor!- berrou a mãe.
-Volta aqui irmãozinho.- pediu Flávia.
Victor voou até a beira do açude, se transformando agora em um sapo, e saltou na água.
-Veja como eu nado, papai. Sou tão bom quanto o senhor?
-Pare com isso, meu filho.- implorou César.
-Ainda falta uma coisa, disse Victor saindo da água e mais uma vez se transformou, desta vez em um macaquinho.
-Está feliz agora, papai? Perguntou Victor, trepando nos galhos das árvores.
-Já pode parar, Vitinho.- César estava realmente assustado. A mãe do menino se desmanchava em lágrimas.
-Tá certo, papai. Vou voltar a ser o seu filho de sempre.
Neste momento, Victor caiu no chão transformado em uma banana madura.
-Socorro, disse a banana, eu não queria me transform....-
Antes que pudesse completar a frase, o macaco -que antes era um homem de preto- saltou de uma das árvores e devorou e aquela banana com apenas duas mordidas.