— Quem deseja morrer? —  Você? Eu não, e não imagino que ninguém cujo o qual esteja lendo agora a minha história queira também. 
Meu nome? Pode chamar-me de Gothel. Você não me conhece, pode até parecer que me conhece, mas você conhece mesmo o que lhe convém  aquilo que te contaram. E você com tantos vivem de bla-bla-bla, falando mal de mim, dos meus motivos para querer e ser eterna.
A vida toda procurei meios e recursos para conseguir driblar a velhice, e olha que não foi fácil.
Alquimia, e todos os encantos possíveis tentei, mas depois dos trinta veio o mais cruel e terrível fio branco. Meu cabelo espesso e encaracolado agora tinha este detalhe pratinado que me incomodava, primeiro comecei a tira-los, depois pintar...
E veio às rugas...
Estava desesperada, queria a vida jovem eu era linda, fui até a donzela mais bela do reino. Não quero perder isto de mim. Claro que não tive filhos, filhos acabam com as ancas das mulheres, e minha anca meu bem, era de uma donzela respeitável.
Poções, encanto e todas as pirotecnias me fizeram envelhecer rapidamente. Aqueles cremes de coco de morcego, misturado com pólen de flores do campo, nunca que fizeram efeito. Aquelas tintas que usava no cabelo, deixava-os com aspecto lamento, e fora o fedor né quem aguenta? Se lavasse saia o resultado, se deixasse fedia a La gambá. – Aí como eu sofro.
Ei, espere aí, me deixe retornar a leitura deste livro de poções, o que diz aqui mesmo?
Quando a lua ficar alinhada a estrela do norte, no amanhecer cairá uma chuva de gotas do sol. (Já ouvi falar disto) no maior penhasco do reino, e a partir deste feito nascerá uma flor mágica.
— Como assim? Como que esta o tempo, senão me engano é hoje que acontece este alinhamento, eu sei, pois amo horóscopo. Quem vive sem saber o que ocorrerá no seu futuro queridinhas?
É hoje, não custa tentar, vou lá, antes que esta papa horrenda me torne numa sapa...
— Preciso urgentemente de um creme estica tudo, ou uma picada paralisante de naja nesta testa horrenda!
Dito e feito. No amanhecer caiu a tal chuva, foi mágico, ainda bem que estou vivinha e pude presenciar...
Agora é só cuidar deste terreno, tirar estas ervas daninhas e por sorte cuidar da minha plantinha mágica, que como diz contos antigos poderá tirar todos estes pés de galinha do meu lindo rosto. –Quero e vou ser jovem novamente, tal qual nos meus tempos de donzela mais linda do reino. 
Com muito custo nasceram vários brotinhos, cuidei deles como filhinhas que não tive... No entanto um a um foram morrendo... Eu olhava para o horizonte, e para o maldito espelho lá em casa, era o fim, meu sonho de ser jovem eternamente, estava morrendo com cada um daqueles brotinhos que se esvaiam naquele penhasco.
— E o espelho, era o meu maior vilão, cada dia me demonstrava uma ruga, os cabelos? Nem um quilo de tinta de amoras silvestres resolvia. Era uma velha feia, cuidando de uma flor mágica esperando ela brotar. A única flor mágica que sobreviveu, a minha única esperança também.
Em uma tarde mágica, a danadinha desabrochou, chorei de emoção, tava com um pé na cova, peguei uma pigarra, e as costas doíam, subir todos os dias naquele penhasco estava acabando com a minha coluna. Tanto sofrimento recompensado. A belezoca estava aberta e agora era só cantar aquela cantiga que minha vó cantava pra mim.
Como que é mesmo a canção?
Aí, que dor nas costas, de hoje não passo, estou acabada...
Faz tanto tempo...
///
Brilha linda donzela.
Volte a ser bela.
Você desbancou até a cinderela...
///
Não  é esta, esta foi a minha mãe que cantava pra mim escovando meus cabelos, antes dos concursos de donzela...
Assim, lembrei... Agora vai....
///
Brilha linda flor
Teu poder venceu
Traz de volta já
O que uma vez foi meu

Cura o que se feriu
Salva o que se perdeu
Traz de volta já
O que uma vez foi meu
Uma vez foi meu
///
Você não vai imaginar o que aconteceu, as minhas mãos que antes pareciam um maracujá de gaveta, agora estavam se tornando lindos pêssegos...
Meus cabelos que pareciam uma palha horrenda, agora estavam ficando sedosos...
Até os cheirinho de descamação da minha pele, passava, cheirava a bunbunzinho de bebê.
Corri! Quanto tempo eu não corria! Sempre me arrastando, vendendo maças pra ter um sustento naquela vila fedida, onde morava.
A coisa mais linda foi ver o reflexo ao espelho. Era lindo ver minha pele, meus cabelos e as minhas ancas, tudo novinho. Só os olhos que eram iguais...
O resto querido leitor, eu era a donzela mais bela que se possa imaginar...
Será que corto aquela flor e transformo-a em um quadro na minha sala?
Fiquei com essa ideia na cabeça, e outra coisa me ocorria.
Cavalheiros e mais cavalheiros, vinham me flertar, queriam conhecer a nova donzela da vila. Disse que a minha vó tinha ido embora e deixado àquela horrorosa cabana comigo. Acreditaram, e eu era venerada, pois pudera, com uma pele de pêssego, e um cabelo aveludado? 
-Aí que perfeição... Meu Deus... O que é isto? Olhei para uma mão perfeita e a outra estava tornado aquele maracujá...
Demorei uns dias para compreender, voltei desesperada e cantei a canção, e tudo certo, linda novamente...
Daí vocês já sabem né, todo aquele bla-bla-bla. Queriam a flor lendária pra salvar uma mocréia de uma rainha...
Eu escondi, era minha eu a cultivei e cuidei... Quando uma velha descaderava-me toda para todo o santo dia regar a minha preciosa.
-Mas fui imprudente... Levaram ela de mim...
Hoje estou com esta garota mimada, que preciso todos os dias escovar os seus cabelos... É a minha cruz, meu sacrifício diário, escutar o seu cantarolar, mas entendi. Duas coisas; independentemente de ficar bela e eterna... Eu preciso de alguém para cortar as minhas unhas e escutar minhas histórias.
— Mãe, quando eu vou poder casar e ter filhos?
— Queridinha você sabe muito bem que nas famílias deste reino uma fica para cuidar da mãe, e peninha querida. Que só tenho você... Somente você...
— Mas, mãe eu conheci, um tal de José.
— Esqueça filha, ele não te ama, e lembra-se de cuidar de mim, pois sou a sua mãe, a sua bela e eterna mãe...
— Sim mãe... 
Agora é só suportar esta chata sem sal, com esta tonelada de cabelo que deixa fios que davam até para tecer um tapete... Eternamente... Aí, aí , aí. Agora eu sou a vilã....

 Recontando um personagem da Disney
Mother-Gothel-Scowling-in-Tangled.jpg
Waldryano
Enviado por Waldryano em 08/02/2018
Reeditado em 02/03/2021
Código do texto: T6248427
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