GRANDE AMOR

O corpo de Matilde descansava sobre o leito na Unidade de Tratamento Intensivo de um hospital paulista. Estava inerte! A vida ía empurrada para dentro de seus pulmões pelo balão de oxigênio. Os batimentos cardíacos eram monitorados por computadores precisos. Máquinas barulhentas e melancólicas mantinham aquela mulher, em seus oitenta anos, agarrada a seu resto de vida.

Um derrame a trouxera àquela posição e, apesar da idade, fora uma surpresa. Matilde era forte, lúcida, ainda ativa, arrumava a casa, cozinhava, lembrava os nomes dos quatro filhos e dos 6 netos, bem como das noras e genros. Conversava com os vizinhos, varria a calçada, cuidava do jardim da casa, dava comida aos passarinhos e dormia pouco. “Os velhos não precisam dormir tanto quanto os jovens”, dizia divertida. Era carinhosa com criança e solidária com outros idosos e rezava o terço em intenção de quem precisasse, sempre com muita fé em Nossa Senhora Aparecida.

Vivia sozinha, posto que era viúva - o marido, Seu Jorge, falecera dez anos antes – mas a solidão não a incomodava. De jeito nenhum, não Matilde, sempre alegre e de bom humor, rindo-se das próprias vicissitudes.

Sua vida ao lado do marido, um homem bom, carinhoso e ótimo pai, havia sido tranquila e feliz nos cinquenta anos de casamento. Ele a cobrira de mimos, era atencioso e estivera sempre preocupado com seu bem-estar. É bem verdade que não fora uma grande paixão, pelo menos não daquela que nos arrebenta o peito, nos queima o corpo de desejo e nos leva a fazer loucuras, mas tinha sido um amor sereno, responsável, maduro, que serviu de estrutura para um relacionamento... digamos, quase perfeito! Quase... Se ao menos Matilde não tivesse vivido, muito tempo antes de Jorge, uma grande paixão, dessa que nos arrebenta o peito, nos queima o corpo de desejo e nos leva a fazer loucuras, teria sido perfeito.

Matilde viveu, sim, uma paixão... Josias era seu nome. Se conheceram ainda muito jovens, quando a vida começa a desabrochar, numa sorveteria da pequena cidade onde moravam, no interior de São Paulo. Naquela tarde de verão, seus mundos mudaram de trajetória. Os olhos de Matilde não queriam olhar mais nada a não ser Josias, tão belo e forte. Josias, por sua vez, não se interessava por mais nada a não ser Matilde.

O namoro iniciou-se sem que percebessem, tão natural que era estarem juntos. Caminhavam de mãos dadas, andavam de bicicleta, sorriam feito bobos e compartilhavam os acontecimentos do dia-a-dia, que era, por sí só, muito simples. Ela ajudava a mãe em casa e ía para a escola à tarde. Ele trabalhava de mecânico durante o dia e estudava à noite. Se viam nos intervalos que a vida lhes proporcionava e também nos finais de semana, sempre repletos de sorvetes (daquela sorveteria), cinemas com pipoca e refrescos da lanchonete do Seu Mané. Josias carregava os livros de Matilde e Matilde levava dôce de abóbora, feito por ela mesma, para Josias, na oficina onde trabalhava. Josias trazia flores para Matilde e Matilde costurava um botão que caíra da camisa de Josias. O namoro era assim, inocente, mas os beijos... os beijos não carregavam qualquer inocência. Eram sôfregos, molhados, mordidos nos lábios e não se cansavam de beijar... às escondidas, por detrás das árvores, das cortinas, quando ninguém estava olhando. Os abraços, então, eram tudo, menos inocentes. Apertados, apalpados, acariciados, íntimos. Abraços e beijos de homem-mulher, numa cumplicidade infinitamente gostosa de vivenciar. Quiseram ir muito além dos abraços, mas não foram. Podiam esperar o casamento. Assim que a escola acabasse e um emprego melhor viesse, não havia dúvidas, iriam se casar.

Os planos seguiam certos até que Josias viajou em companhia dos pais para o sítio do tio. Mato, riachos, cercados, terra... Josias saiu para uma cavalgada em um dos cavalos do sítio e nunca mais voltou... Nunca mais voltou para a cidade onde morava. Nunca mais voltou para os seus afazeres de mecânico, dúzias de carros ficaram sem os seus ajustes. Nunca mais voltou para a escola, último ano, o boletim aguardando seus últimos trabalhos e projetos para obter a nota final. Nunca mais voltou para Matilde... para seus beijos arrebatadores, para seus braços macios, para o deleite de seu corpo miúdo. Nunca mais Josias! Caiu, fraturou o crânio, destroçando os sonhos que se organizavam dentro dele, planos de quem ama e namora.

Desnecessário falar da dor de Matilde! Uma dor que cresceu, explodiu e perdurou por muito tempo. Chegara mesmo a perder a esperança na vida! Até que a desesperança deu lugar a um sentimento novo. Mais brando, é bem verdade, mas um sentimento novo, revigorador. Jorge veio resgatar Matilde da tristeza em que vivia. Veio de mansinho, se acercando, conquistando, até que se casaram na paróquia da cidade. Do casamento vieram os quatro filhos, saudáveis. Frutos de um amor sem interesses, límpido, apenas... revigorador. Mas Jorge também se foi. Outro contexto na história de Matilde, mas foi uma perda igualmente dolorosa. Assim mesmo, vivia feliz, alimentando a saudade das pessoas que se foram, como todos os normais.

Agora, o derrame!

A família, na sala de espera do hospital, tinha aquela certeza de que era o fim. Porém, Matilde, envolta em seus pensamentos, ou o que quer que possamos chamar, revive a sua vida na mente nebulosa. Assiste às cenas mentais, imóvel. Ela quer chorar, mas não consegue. Ela quer gritar, mas não pode. Se despedir de todos, talvez, mas não é possível. Sente rodar, rodar, como se estivesse no meio de um furacão. Tudo ao redor é branco... como núvem gigante a lhe abraçar. Matilde não ouve mais os equipamentos ao seu redor a demarcar o ritmo de sua vida. Não ouve sequer seus próprios batimentos cardíacos. Tampouco sente o fluxo do sague a girar por seu corpo. É silêncio! É branco ao redor! Fica assim, por um tempo curto ou longo, difícil definir. Parecido com sonhar, mas ciente, acordada. De repente, um toque em seu braço. Uma voz dentro do nada, lhe diz:

- Graças a Deus, acabou! Você está entre amigos...

Matilde não consegue responder... nem perguntar... nem ver... Só ouvir. Ficou assim sem se mover. Uma paz lhe dizia que tudo estava bem. Uma paz inexplicável dentro de sí mesma. Aos poucos, ela consegue mexer os dedos, depois, mãos e pés... lentamente! A núvem a seu redor vai se dissipando... lentamente! Há formas ao redor. Ela sabe que ainda está deitada numa cama, isso ela sabe. É confortável e macia. Aos poucos, vislumbra mais ao redor, alguns móveis, até mesmo uma porta. “Estou no hospital”, pensa. Sim, ela percebe que pensa, coordenadamente, com sequência e até mesmo com a noção de passado, presente e futuro. Continua com a intenção de ver mais, mas sabe esperar e espera.

Aos poucos, enxerga mais. Ela se vê num quarto. Parece um hospital, mas não há equipamentos, não há máquinas e nem médicos ao redor, apenas a cama, alguns armários, duas cadeiras a um canto. O quarto é pequeno, mas bem iluminado pela luz natural que entra pela janela. Luz do sol a invadir o aposento. Matilde consegue mesmo virar a cabeça para os lados, o pescoço. Tenta se levantar, mas sente-se tonta. Continua ali, numa paz imensa. Com um pouco mais de tempo, move-se mais, vira-se de um lado a outro. Uma pessoa entra no quarto. Finalmente alguém! Não parece médica, mas é uma jovem bonita, vestida de branco e com flores no cabelo. Matilde percebe que ela anda sem fazer barulho e observa curiosa que a jovem não usa sapatos.

- Como se sente? – pergunta a moça.

- Bem... onde estou?

- Um hospital... diferente dos que você conhece. Este é um lugar de reabilitação!

- Onde estão meus filhos? Posso vê-los?

- Eles estão muito bem, muito bem mesmo!

- Posso vê-los? – Madalena insistiu na pergunta.

- Ainda não. Você precisa estar preparada.

- Não entendo!

A jovem andou até um móvel ali perto, parecido com um armário pequeno, mais ou menos um metro de altura, feito de madeira tosca. Ela abriu a porta e, de dentro saiu uma luz forte. Parecia mais uma pequena geladeira de madeira. Enfiou a mão dentro daquela luz e tirou um copo de vidro que continha um líquido. Fechou a porta do armário-geladeira e trouxe o copo para Matilde, dizendo:

- Beba este remédio!

Matilde apanhou o copo em suas mãos. O líquido tinha uma cor indefinida. Não era cristalino como água, mas também não era branco e nem de cor nenhuma. Era opaco apenas, e Matilde o bebeu. O gosto era de remédio, mas não era amargo e nem dôce, não era quente e nem frio tampouco, era apenas líquido, e Matilde o percebeu espalhando-se pelo corpo. Sentiu-se leve, extremamente leve. Repousou a cabeça sobre o travesseiro novamente e dormiu. Se não era sono, era apenas um desligamento de tudo ao redor. Despertou algum tempo depois, novamente ciente de que estava num quarto. A luz do sol continuava a entrar pelo aposento, dando brilho a tudo ao redor.

Outra pessoa, dessa vez um homem, igualmente jovem, vestido de branco, descalço, porém sem as flores no cabelo, entra no aposento. Ele sorri para Matilde, simpático.

- Como se sente? – pergunta o jovem.

- Sinto uma paz...

- Você merece esta paz...

- Onde estou?

- Num lugar onde suas energias são recuperadas, pouco a pouco.

- Eu lembro que estava num hospital, conseguia até ouvir os equipamentos ao meu redor. Conseguia mesmo ouvir os médicos falando sobre meu estado... Lembro de sussurros e de beijos em minha testa... talvez minha neta, a mais velha, me beijava e chorava baixinho... Eu queria corresponder, mas não conseguia...

- São as lembranças dos dias em que esteve na UTI do hospital...

- Antes, lembro de uma forte dor de cabeça...

- Você sofreu um derrame.

- Sei... eu entendia o que estava acontecendo. – disse Matilde, pensativa.

- Você acha que pode se levantar agora?

Matilde levantou-se devagar. Percebeu que vestia uma túnica branca, tal qual os seus visitantes. Pôs os pés descalços no chão, que deu-lhe a sensação de morno, agradável à pele. Andou um pouco pelo quarto, cada vez mais segura de seus movimentos, embora ainda enfraquecida.

- Sinto-me bem... – disse contente.

- Que bom! Você vai se sentir cada vez melhor.

Matilde foi até a janela. Os raios de sol banharam seu rosto, dando-lhe um enorme prazer. Não era quente, era apenas agradável. Uma brisa lhe trazia cheiros... perfume, talvez. De flores, talvez... Era um cheiro familiar, mas incerto. Olhos semi-cerrados, olhou para fora da janela. Deu-se com um jardim gramado e florido. Borboletas dançavam espalhadas no ar. A beleza do jardim se estendia até onde a vista alcançava. Uma felicidade lhe enchia o ser.

- Você vem comigo? – perguntou o rapaz, tirando Matilde de seus devaneios.

- Aonde vamos? – voltou-se Madalena.

- É hora de encontrar uma pessoa muito importante.

Matilde obedeceu. Seguindo o jovem, saiu do quarto e caminhou por um corredor igualmente iluminado pelos raios de sol que entravam por diversas janelas ao topo, próximo ao teto. Era um longo corredor e, ao final, uma grande porta de madeira abriu-se para eles desvendando uma sala vasta. Havia poltronas aconchegantes, também iluminadas por raios de sol que entravam pelas janelas. Um senhor, barbas brancas, vestido com a mesma roupa dos outros, descalço, chegou-se e estendeu a mão para Matilde, num aperto fraterno. Seu rosto era tranquilo, os olhos eram serenos e sábios, um sorriso sobressaía-se à barba e Matilde sentiu-se segura em sua companhia.

- Meu nome é Durval.

- Prazer. – respondeu Matilde.

- Venha, sente-se aqui comigo!

O rapaz que lhe acompanhara, deixou a sala. Matilde sentou-se ao lado daquele senhor, ainda sentindo dentro de sí muita paz.

- Onde estou? – arriscou perguntar.

- Vou explicar-lhe tudo o que quiser. Em primeiro lugar, quero que saibas que venho te acompanhando há muito tempo...

- Como? – Matilde estava intrigada.

- Sim, Matilde, tenho estado contigo por muitos anos, na verdade, desde que você nasceu... Pra ser ainda mais sincero, tenho estado com você mesmo antes de seu nascimento, mas é uma longa história, por agora, basta saber que acompanhei sua vida toda, desde os primeiros minutos. De longe, mas por perto, se é que me entende... – Durval sorriu simpático e vendo a fisionomia duvidosa de Matilde, continuou: - Eu estava por perto quando você nasceu no seio de sua família, irmã mais velha de cinco outras crianças. Acompanhei suas brincadeiras de menina, suas travessuras todas. A vi na escola e velei em suas pequenas doenças. Eu estava por perto também quando se apaixonou por Josias e segurei sua mão, quando ele partiu. Acompanhei seu namoro com Jorge, o nascimento de seus filhos e todos os desafios da maternidade. Te confortei também quando seus pais partiram, quando Jorge partiu, além de todos os que você amou, que partiram. Te guiei pelos problemas da vida, sem que você soubesse, mas estávamos conectados.

- Nunca te vi antes... – Matilde disse, aturdida.

- Mas me sentia... sentia minha presença. E também sonhou comigo, várias vezes, apenas não podia se lembrar...

- Você quer dizer com tudo isso... que você é... meu anjo da guarda? – perguntou Matilde, incerta.

- Não. Não tenho tanta Luz... sou apenas um companheiro de jornada.

- Mas, então, devo ententeder que você é... um... espírito?

- Todos nós somos... – riu-se, Durval.

- Devo entender, então, que estou sonhando? Por certo, acordarei na UTI em breve... caso contrário...

- Caso contrário, você estaria no mundo dos espíritos? Sim, você está.

- Então, eu... eu... morri?

- Seu corpo parou. A idade chegou, o cansaço, o derrame... Sim, Matilde, seu corpo parou com as funções abençoadas que se destinou a cumprir e as cumpriu muito bem, até o final.

Matilde levou as duas mãos à cabeça, inconformada.

- Há quanto tempo?

- Já se passaram dois meses, desde a passagem.

- Passagem?

- Sim, a passagem de um estado a outro, da vida material à espiritual.

- Dois meses? Não lembro de nada... onde estive por dois meses?

- Numa dormência natural àqueles que sofrem de derrame ou qualquer outra doença cerebral. Inconsciente, mas ganhando forças para acordar e sendo tratada a todo tempo.

- É difícil acreditar...

Durval levantou-se e se afastou por uns minutos, retornando com o que parecia ser um espelho de tamanho médio às mãos. Aproximou-se de Matilde, oferecendo o espelho. Confusa, ela o apanhou e mirou-se nele. Para sua total surpresa, ela se viu refletida jovem, de volta aos seus dezoito anos, bonita, cabelos negros, o rosto sem rugas, linda como fôra um dia. Lágrimas invadiram seus olhos. Eram lágrimas de uma alegria jamais experimentada. Ajoelhou-se, talvez porque preparava uma oração, mas Durval a re-ergueu, dizendo:

- Bem vinda de volta à sua casa eterna, Matilde! Você fez um belo trabalho. Foi mãe dedicada, sua principal missão no mundo! Utilizou bem todos os seus sentidos e fez boas escolhas e julgamentos. Errou, claro, como é esperado, mas o mais importante: foi humilde para reconhecer os erros e procurou aprender com eles. Perdoou, sempre! Foi bondosa e caridosa, sempre! Agora, entra para um novo estágio.

- Nunca mais verei meus filhos...

- Te digo que estão todos bem. Choraram sua partida e sentem saudades, mas estão absolutamente conformados, tocando a vida, como deve ser. Eles sabem que você teve uma vida longa e repleta de realizações, e contam com seus próprios amigos espirituais, os ajudando na fase de adaptação. Por agora, é importante que você se recupere totalmente. Poderá, um dia e em breve, vê-los de longe, mas de maneira nenhuma poderá fazer parte da vida deles novamente. É preciso confiar que estarão amparados, tanto quanto você sempre esteve. Todos eles ainda têm as suas jornadas para cumprir. É mister aceitar isso!

- Quando poderei vê-los?

- Quando estiver pronta pra isso. Rever os familiares que deixamos após a passagem não é tarefa fácil. Tem que haver uma preparação e estar forte para o impacto. Tenha paciência e tente absorver todas as lições que aprender aqui. Só isso é importante agora.

Matilde retornou para o seu quarto, ainda atônita com os acontecimentos. Então, era assim? Morrer não era nada mais do que uma “passagem” para um outro mundo, onde as pessoas continuam tendo amigos?

A jovem que a visitara antes, retornou e lhe ministrou o líquido novamente.

- Pra que serve? – perguntou Matilde.

- O espírito também necessita de remédios. Trata-se de um restaurador de energias.

Realmente, Matilde sentia-se muito bem depois de tomar o tal remédio insípido. Muito tranquila e feliz. Repousou por mais um pouco e assim foi passando o tempo. Aliás, o tempo era medido de forma diferente. Basta dizer que era sempre dia, sempre ensolarado, não havia noite e nem o contar de horas. Veio a aprender que havia uma sala naquele prédio que tinha um relógio igual aos que conhecera no mundo, mas de forma geral, o tempo era medido por tarefas. O descanso era necessário para o espírito, assim como caminhar, conversar e aprender. Ela tinha aulas e eram sempre dadas por Durval, normalmente em forma de uma rápida conversa. As caminhadas, pelos jardins, eram feitas em companhia do rapaz, Marcelo era seu nome. Os remédios eram ministrados por Helena.

Matilde via outras pessoas andando por ali. Conversou com algumas e percebeu que todas estavam num nível de inteligência igual ao seu. Eram pessoas simples, mas de muita fé.

Depois de algum tempo, talvez um ano, Matilde recebeu uma visita importante e foi Marcelo que a preparou para o encontro.

- Você vai rever alguém que lhe quer muito bem... Ele tem esperado por este momento com paciência, por longo tempo!

A porta de seu quarto se abriu e ele entrou. Tal qual ela se lembrava dele. Forte, lindo, sorriso aberto. Vestido de branco, descalço, bem apessoado.

- Josias... – as lágrimas rolaram pelo rosto de Matilde, profusas. Mal conseguia falar.

O rapaz, ainda rapaz, se aproximou e a abraçou. Era inexplicável a emoção.

- Estamos unidos novamente, meu amor! – disse Josias.

Abraçaram-se e conversaram sobre seus destinos. Matilde disse:

- Eu me casei novamente...

- Eu sei.

- Você conhece Jorge? Já o viu?

- Sim, eu o vi aqui, mas ele nasceu de novo...

- Nasceu de novo?

- Sim, ele tem muito o que viver...

- E você, por que não nasceu de novo?

- Eu tinha que ficar... e te esperar.

- Por que?

- Porque é assim que tem de ser.

- Ficaremos juntos pra sempre?

- Nasceremos... novamente.

- Seremos felizes um dia?

- Já o somos!

- E Jorge?

- Só posso te dizer que, há muitos anos atrás, Jorge foi nosso filho amado, que havia errado muito contigo, sua mãe. Foi necessário que vivêssemos tudo o que vivemos e nos afastássemos temporariamente, para que você tivesse a oportunidade de conviver com ele e vê-lo sob outra perspectiva, como esposa, e assim, perdoá-lo. Finda a tarefa, Jorge vai reconstruir uma vida feliz e nós dois estamos livres para cumprirmos nossos destinos.

- Josias, meu amor... – Matilde o abraçou novamente, feliz.

Josias e Matilde ainda aprenderam muito nas aulas do plano espiritual e, depois de cinco anos de plenitude, nasceram novamente.

O choro do menino nascido numa maternidade no interior de São Paulo era uníssono com o choro de menina nascida numa maternidade em Minas Gerais. Ele, chamado de Marcos, ela, chamada de Beatriz, nascidos em famílias distantes e afastadas, iriam, um dia, se encontrar novamente e viver um lindo amor. Estava determinado!

Durval, de longe, acompanhava os primeiros dias de Beatriz, sorriso aos labios, por detrás da barba branca.

(Este texto é fictício, não foi psicografado e nem transmitido por espíritos.)