SEGREDOS DO VALE ENCANTADO (conto fantástico)
No vale encantado, um mundo fantástico se descortina, encravado numa floresta de vegetação fechada, cortada por um rio de águas azuis, profundo e caudaloso com muitos peixes de um mesmo tamanho e de cor púrpura, que era a principal alimentação de todas as criaturas, pássaros multicoloridos, seres alados híbridos de águias gigantescas e cavalos brancos. Os habitantes humanos, bípedes de corpos de cor verde água em tom opaco, se confundiam com a paisagem. Todos falavam a mesma língua, um dialeto de poucos fonemas e muito gestual. Não havia distinção de sexo, todos, eram hermafroditas, quando um morria, um deles automaticamente gerava um novo ser, mantendo assim o número de seres da espécie, sem prejudicar o meio ambiente, a Mãe Natureza sua Deusa maior, agradecia. Havia um perfeito equilíbrio para que nada faltasse naquele habitat fantasioso.
Tinham um líder, por assim dizer, um dos humanos, primeiro gerador da espécie, resolvia as questões que porventura, desarmonizasse o conjunto vivente. Como esclarecimento adicional, todos viviam em torno de oitenta anos e partiam como se apagando, simplesmente. E eles não ficavam tristes, apenas saudavam a nova vida que viria em seguida, o corpo do morto era enterrado normalmente, sem alarde, virava adubo e logo era esquecido, não tinham vínculos afetivos, apenas formavam um conjunto coeso e harmônico.
Adoravam dois outros Deuses, o Infinito Céu e o Glorioso Rio Azul, tinham um ritual diário de logo que escurecia tudo parava, ficavam silentes e imóveis, por cinco minutos fantásticos, apenas pedindo proteção contra o único inimigo natural, as suas próprias espécies, vocês já vão entender o que quero dizer.
Um fato inédito aconteceu um determinado dia, um dos bípedes, pariu um par de gêmeos, lindos seres, como todos os outros, mas, isso significava que um bípede teria que ser eliminado, e isso nunca havia acontecido antes, era a primeira vez, que o líder teria que tomar uma decisão daquela importância e complexidade. Foi convocada uma reunião geral para que a suprema decisão fosse anunciada a todos.
Ninguém, poderia imaginar o que iria acontecer. O ser bípede que gerou o par de gêmeos, assim que pariu, fugiu para fora do vale encantado, enveredando pela floresta e foi para muito longe do alcance de seus semelhantes, nenhum deles tinha conhecimento do que existia do outro lado do mundo fantástico. Todos os pássaros alados híbridos e humanos verde água opacos procuraram por dez dias fantasiosos, e nada encontraram, mas, em nenhum momento ultrapassaram a barreira de seu mundo encantado.
Como de praxe, na falta de três seres, três outros começaram a geração de três novas vidas, para que fosse mantido o equilíbrio natural. Apesar de tudo parecer normal, alguma coisa mudara, alguns dos seres bípedes ficaram curiosos com o desaparecimento do ser que parira gêmeos, que fim teria levada, pensavam alguns, e o próprio líder, embora não falasse nada sobre o assunto estava encasquetado com esse assunto, o que existiria por detrás daquela terra encantada?
Voltando ao ser fugido, ele se deparou com uma terra completamente seca, muito quente, montes, montanhas, muitos vales, cobertos de pedras translúcidas e desabitada, como sobreviveriam nesse lugar inóspito, nenhum lugar para se abrigar e o seu leite era o único alimento para os jovens gêmeos, e ele próprio já começava a enfraquecer, arrependimento gritante dentro do peito, mas, não teria forças para retornar, com certeza todos morreriam, clamou aos seus Deuses, pedido ajuda e amparo, durante dois dias, sob o Sol abrasador, não tinha mais energia, sentia seu corpo sucumbir, apenas os gêmeos estavam tranquilos e alimentados, suas peles não sentiam frio, mas, o calor os enfraquecia rapidamente.
Quando chegou a manhã do terceiro dia, coisas estranhas e maravilhosas começaram a surgir sob seus pés e ao seu redor, pequenos espaços, mas, fazendo com que aquele ambiente árido e seco, se tornar habitável. Uma vegetação rala e muito verde, um tom bastante escuro, diferente do que havia em seu mundo fantástico, 02 árvores frondosas brotadas de flores amarelo pálido, uma com umas frutas vermelhas do tamanho de uma cabeça de um ser bípede bebê, com uma casca que parecia muito dura, outra com frutos de casca amarela, também com a casca parecendo dura. Um monte de pedras foi subindo e se transformando em um abrigo, uma pequena caverna, com abertura de um lado só e de boa altura, dava para se ficar de pé dentro dela, ao lado das árvores frutíferas nasceu uma nascente rodeada de pedras com água límpida e cristalina, perto da caverna algumas coisas estavam brotando do chão, pareciam raízes, talvez comestíveis, como algumas que havia em seu vale encantado, próximo ao abrigo, mas, na parte de trás, surgiu um pequeno riacho cheio de peixes pequenos, do tamanho da palma aberta da mão de um ser bípede adulto, rio estranho, nascia da terra seca, como uma reta, com começo e fim, antes de sua nascente, terra seca e depois dele, solo árido e pedregoso. Partes da areia próxima aos seus pés, se transformou em alguns panos com linhas desfiadas longas, com eles poderiam ser feitas vestes com amarrações, o ser humano bípede verde água opaco está deslumbrado e atônito, eram muitas bênçãos que seus Deuses estavam lhe enviando, à noitinha, faria seu silêncio estático em agradecimento ao que estava recebendo.
O ser bípede, tratou de saber se a água da nascente era boa para se beber, se as frutas eram comestíveis, e a água era pura. Na primeira árvore, descobriu que o fruto vermelho era muito doce e que as cascas poderiam servir de cabaças para se alimentar e beber água, da outra árvore o sabor era mais ácido, mas, também adocicado era suculento não carnudo, um sabor muito bom. Tratou de abrigar os gêmeos e se alimentar, depois iria fazer amarrações nos panos e criar algumas vestes para si e para os gêmeos. Olhou ao seu redor e viu que apenas no espaço em que estava tudo tinha mudado, o restante, até onde sua vista alcançava, estava absolutamente igual e seco. Tinha muito para agradecer mais tarde.
Os dias foram passando, nem se lembrava mais quantos, sua rotina era a mesma todos os dias, nada lhe faltava, os gêmeos já gatinhavam, e ela observou uma coisa esquisita nos seus corpinhos, eles não eram hermafroditas, seus órgãos eram diferentes, um tinha uma protuberância meio pontuda e duas bolinhas como que guardadas num pequeno saquinho e o outro uma abertura, como lábios, tal qual ele próprio tinha, era por onde saiam os outros seres gerados, só que em seu mundo fantástico, todos os seres bípedes tinham os dois órgãos, nunca havia nascido um ser de forma diferente, será que ele estava recebendo um tipo de mensagens dos Deuses? Será que sua fuga já estava prevista? Será que eles, os gêmeos, estavam destinados a criar um novo mundo, bem longe do seu de origem? Não sabia explicar nada disso, só o tempo diria.
No mundo fantástico, ninguém, exceto o líder, pensava mais no caso, a vida seguia seu curso habitual, os anos fantasiosos foram passando, já perto de completar seu ciclo de vida, quase oitenta anos, o líder do vale encantado, deu uma ordem insólita, convocou dez dos seus semelhantes mais jovens, e pediu que se abastecessem e empreendessem uma jornada perigosa e deveria durar somente sete dias, se nada encontrassem e estivessem vivos, deveriam retornar ao vale encantado. O que ele lhes destinou, foi a busca pelo ser que parira os gêmeos, como era de praxe, a instrução foi seguida e eles partiram para além do vale encantado.
No oásis abençoado e fantástico, a vida seguia seu rumo, nunca faltavam peixes no riacho, nem água na fonte e nem frutos e raízes. Quando se aproximava do quinto dia da busca pelos gêmeos, os dez jovens seres bípedes, avistaram naquele deserto duas árvores frondosas cheias de frutos vermelhos e amarelos, e mais nada. Como poderia existir, num terreno árido como aquele, árvores frutíferas e vivas, nem pareciam ser de verdade, tal o absurdo da coisa, mas, eram reais. Eles estavam famintos, comeram e sorveram o sumo das frutas amarelas e ficaram por instantes observando em sua volta, nada mais havia, descansaram, fizeram seus agradecimentos impassíveis e silentes seus agradecimentos aos seus Deuses, quando chegou à noite, e como deveriam retornar no prazo de sete dias fantasiosos, tomaram o caminho de volta ao seu vale encantado e fantástico, sem notícias para comunicar sobre o paradeiro do ser bípede que gerara os gêmeos, não deviam ter sobrevivido. Era o que eles iriam contar.
Assim que sumiram no horizonte, o novo mundo encantando, com os seres não hermafroditas e o ser que os gerou, reapareceu, eles não viram nada do que contei acima.
Não se sabe dos desígnios e planos, da Deusa Mãe Natureza, do Deus Infinito Céu e o Deus Glorioso Rio Azul, só o tempo irá resolver esse enigma, o que posso relatar é, que no novo recanto encantado e fantástico a vida segue com um tipo de afeto, sentimento desconhecido no vale fantástico original.
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 09 de junho de 2015.
No vale encantado, um mundo fantástico se descortina, encravado numa floresta de vegetação fechada, cortada por um rio de águas azuis, profundo e caudaloso com muitos peixes de um mesmo tamanho e de cor púrpura, que era a principal alimentação de todas as criaturas, pássaros multicoloridos, seres alados híbridos de águias gigantescas e cavalos brancos. Os habitantes humanos, bípedes de corpos de cor verde água em tom opaco, se confundiam com a paisagem. Todos falavam a mesma língua, um dialeto de poucos fonemas e muito gestual. Não havia distinção de sexo, todos, eram hermafroditas, quando um morria, um deles automaticamente gerava um novo ser, mantendo assim o número de seres da espécie, sem prejudicar o meio ambiente, a Mãe Natureza sua Deusa maior, agradecia. Havia um perfeito equilíbrio para que nada faltasse naquele habitat fantasioso.
Tinham um líder, por assim dizer, um dos humanos, primeiro gerador da espécie, resolvia as questões que porventura, desarmonizasse o conjunto vivente. Como esclarecimento adicional, todos viviam em torno de oitenta anos e partiam como se apagando, simplesmente. E eles não ficavam tristes, apenas saudavam a nova vida que viria em seguida, o corpo do morto era enterrado normalmente, sem alarde, virava adubo e logo era esquecido, não tinham vínculos afetivos, apenas formavam um conjunto coeso e harmônico.
Adoravam dois outros Deuses, o Infinito Céu e o Glorioso Rio Azul, tinham um ritual diário de logo que escurecia tudo parava, ficavam silentes e imóveis, por cinco minutos fantásticos, apenas pedindo proteção contra o único inimigo natural, as suas próprias espécies, vocês já vão entender o que quero dizer.
Um fato inédito aconteceu um determinado dia, um dos bípedes, pariu um par de gêmeos, lindos seres, como todos os outros, mas, isso significava que um bípede teria que ser eliminado, e isso nunca havia acontecido antes, era a primeira vez, que o líder teria que tomar uma decisão daquela importância e complexidade. Foi convocada uma reunião geral para que a suprema decisão fosse anunciada a todos.
Ninguém, poderia imaginar o que iria acontecer. O ser bípede que gerou o par de gêmeos, assim que pariu, fugiu para fora do vale encantado, enveredando pela floresta e foi para muito longe do alcance de seus semelhantes, nenhum deles tinha conhecimento do que existia do outro lado do mundo fantástico. Todos os pássaros alados híbridos e humanos verde água opacos procuraram por dez dias fantasiosos, e nada encontraram, mas, em nenhum momento ultrapassaram a barreira de seu mundo encantado.
Como de praxe, na falta de três seres, três outros começaram a geração de três novas vidas, para que fosse mantido o equilíbrio natural. Apesar de tudo parecer normal, alguma coisa mudara, alguns dos seres bípedes ficaram curiosos com o desaparecimento do ser que parira gêmeos, que fim teria levada, pensavam alguns, e o próprio líder, embora não falasse nada sobre o assunto estava encasquetado com esse assunto, o que existiria por detrás daquela terra encantada?
Voltando ao ser fugido, ele se deparou com uma terra completamente seca, muito quente, montes, montanhas, muitos vales, cobertos de pedras translúcidas e desabitada, como sobreviveriam nesse lugar inóspito, nenhum lugar para se abrigar e o seu leite era o único alimento para os jovens gêmeos, e ele próprio já começava a enfraquecer, arrependimento gritante dentro do peito, mas, não teria forças para retornar, com certeza todos morreriam, clamou aos seus Deuses, pedido ajuda e amparo, durante dois dias, sob o Sol abrasador, não tinha mais energia, sentia seu corpo sucumbir, apenas os gêmeos estavam tranquilos e alimentados, suas peles não sentiam frio, mas, o calor os enfraquecia rapidamente.
Quando chegou a manhã do terceiro dia, coisas estranhas e maravilhosas começaram a surgir sob seus pés e ao seu redor, pequenos espaços, mas, fazendo com que aquele ambiente árido e seco, se tornar habitável. Uma vegetação rala e muito verde, um tom bastante escuro, diferente do que havia em seu mundo fantástico, 02 árvores frondosas brotadas de flores amarelo pálido, uma com umas frutas vermelhas do tamanho de uma cabeça de um ser bípede bebê, com uma casca que parecia muito dura, outra com frutos de casca amarela, também com a casca parecendo dura. Um monte de pedras foi subindo e se transformando em um abrigo, uma pequena caverna, com abertura de um lado só e de boa altura, dava para se ficar de pé dentro dela, ao lado das árvores frutíferas nasceu uma nascente rodeada de pedras com água límpida e cristalina, perto da caverna algumas coisas estavam brotando do chão, pareciam raízes, talvez comestíveis, como algumas que havia em seu vale encantado, próximo ao abrigo, mas, na parte de trás, surgiu um pequeno riacho cheio de peixes pequenos, do tamanho da palma aberta da mão de um ser bípede adulto, rio estranho, nascia da terra seca, como uma reta, com começo e fim, antes de sua nascente, terra seca e depois dele, solo árido e pedregoso. Partes da areia próxima aos seus pés, se transformou em alguns panos com linhas desfiadas longas, com eles poderiam ser feitas vestes com amarrações, o ser humano bípede verde água opaco está deslumbrado e atônito, eram muitas bênçãos que seus Deuses estavam lhe enviando, à noitinha, faria seu silêncio estático em agradecimento ao que estava recebendo.
O ser bípede, tratou de saber se a água da nascente era boa para se beber, se as frutas eram comestíveis, e a água era pura. Na primeira árvore, descobriu que o fruto vermelho era muito doce e que as cascas poderiam servir de cabaças para se alimentar e beber água, da outra árvore o sabor era mais ácido, mas, também adocicado era suculento não carnudo, um sabor muito bom. Tratou de abrigar os gêmeos e se alimentar, depois iria fazer amarrações nos panos e criar algumas vestes para si e para os gêmeos. Olhou ao seu redor e viu que apenas no espaço em que estava tudo tinha mudado, o restante, até onde sua vista alcançava, estava absolutamente igual e seco. Tinha muito para agradecer mais tarde.
Os dias foram passando, nem se lembrava mais quantos, sua rotina era a mesma todos os dias, nada lhe faltava, os gêmeos já gatinhavam, e ela observou uma coisa esquisita nos seus corpinhos, eles não eram hermafroditas, seus órgãos eram diferentes, um tinha uma protuberância meio pontuda e duas bolinhas como que guardadas num pequeno saquinho e o outro uma abertura, como lábios, tal qual ele próprio tinha, era por onde saiam os outros seres gerados, só que em seu mundo fantástico, todos os seres bípedes tinham os dois órgãos, nunca havia nascido um ser de forma diferente, será que ele estava recebendo um tipo de mensagens dos Deuses? Será que sua fuga já estava prevista? Será que eles, os gêmeos, estavam destinados a criar um novo mundo, bem longe do seu de origem? Não sabia explicar nada disso, só o tempo diria.
No mundo fantástico, ninguém, exceto o líder, pensava mais no caso, a vida seguia seu curso habitual, os anos fantasiosos foram passando, já perto de completar seu ciclo de vida, quase oitenta anos, o líder do vale encantado, deu uma ordem insólita, convocou dez dos seus semelhantes mais jovens, e pediu que se abastecessem e empreendessem uma jornada perigosa e deveria durar somente sete dias, se nada encontrassem e estivessem vivos, deveriam retornar ao vale encantado. O que ele lhes destinou, foi a busca pelo ser que parira os gêmeos, como era de praxe, a instrução foi seguida e eles partiram para além do vale encantado.
No oásis abençoado e fantástico, a vida seguia seu rumo, nunca faltavam peixes no riacho, nem água na fonte e nem frutos e raízes. Quando se aproximava do quinto dia da busca pelos gêmeos, os dez jovens seres bípedes, avistaram naquele deserto duas árvores frondosas cheias de frutos vermelhos e amarelos, e mais nada. Como poderia existir, num terreno árido como aquele, árvores frutíferas e vivas, nem pareciam ser de verdade, tal o absurdo da coisa, mas, eram reais. Eles estavam famintos, comeram e sorveram o sumo das frutas amarelas e ficaram por instantes observando em sua volta, nada mais havia, descansaram, fizeram seus agradecimentos impassíveis e silentes seus agradecimentos aos seus Deuses, quando chegou à noite, e como deveriam retornar no prazo de sete dias fantasiosos, tomaram o caminho de volta ao seu vale encantado e fantástico, sem notícias para comunicar sobre o paradeiro do ser bípede que gerara os gêmeos, não deviam ter sobrevivido. Era o que eles iriam contar.
Assim que sumiram no horizonte, o novo mundo encantando, com os seres não hermafroditas e o ser que os gerou, reapareceu, eles não viram nada do que contei acima.
Não se sabe dos desígnios e planos, da Deusa Mãe Natureza, do Deus Infinito Céu e o Deus Glorioso Rio Azul, só o tempo irá resolver esse enigma, o que posso relatar é, que no novo recanto encantado e fantástico a vida segue com um tipo de afeto, sentimento desconhecido no vale fantástico original.
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 09 de junho de 2015.