Dom Tom

Podem dizer que muito já se viu em relação ao cotidiano, mas afirmo que muito ainda estar por ver. Como diz o ditado, “quem viver verá”. O fato é que reza a lenda que em uma cidade prudente, ou seja, Presidente Prudente. E olha que ter um presidente prudente é raridade. Ali, nasceu uma bela ninhada de persas. Não falo daqueles de quem descem os iranianos e que geraram nomes como o de Ciro e inspiram filmes e tudo mais. Mas existe sim uma ligação entre eles e esses. Aqui, os persas são uma raça de gatos. Após nascerem, encantaram os moradores, que resolveram, por conta de dificuldades financeiras e paciência, doá-los. Um deles acabou sendo acolhido por uma pessoa, que não apenas gosta, mas é fanática por gatos. Recebeu o nome de Tom. Após o batizado já demonstrava seu jeito mais introspectivo. Caminha com exuberância, mesmo filhote. Sua “mãe”, era orgulhosa de sua cria. O pelo cinza, esplêndido, chamava a atenção de curiosos que se deparava com aquela espécie singular.

Separado da família original, adotou a nova. Pois seu porte majestoso já fez perceber desde o início que ele quem deveria ditar as regras. Desprezava comida que não fosse de qualidade superior. Os brinquedos, deixados a seus pés, não passavam de ídolos em sua adoração. Fazia seus exercícios, não desejando que sua atenção fosse roubada. Aquela casa sofreria um forte abalo. O bichano suportou toda a tempestade e conseguiu, como um deus, se vangloriar no paraíso vindouro, como um ser do Olimpo. Mudava de alojamento, mas não perdia sua dignidade, observando o mundo do alto de seus finos bigodes. Dividiu espaço em uma moradia enorme, mas que possuía ali uma rival, que já habitava fazia anos o recinto. Sua nova casa era em um patamar superior, onde, magnânimo, prestava atenção nos detalhes do mundo que o adoravam. Era quase uma estátua viva. Um monumento em homenagem a todos os gatos do planeta. Deixara de ser apenas Tom, tornara-se Don Tom.

Um acontecimento traumático ocorre. Acaba sendo atropelado, por um motorista desconhecido, em uma noite chuvosa. Resiste e caminha até seu lar, com um rastro de sangue, pedindo socorro com seus grandes e espetaculares olhos cor de âmbar. Levado às pressas a uma clínica, foi internado e sofreu cirurgia com intuito de ter sua vida garantida. Voltara desse tormento, ainda mais esbelto. Conseguira até promover a aproximação de sua mãe com as pessoas da clínica, já que é um gentlemen nas relações. As homenagens não pararam por aí. Sua mãe acabou tatuando pelo corpo as imagens de gatos que representava sua cria mais precisa. O corpo adornado com o que representasse aquele mártir felino. Don Tom, passou a explorar os limites além das paredes do lar, depois de se recuperar do trauma do acidente. Caminhava pelas ruas, exibindo todo seu porte. Bebia sua água refrigerada e possuía um quarto que adotara para por si, por conta de ser o único com ar condicionado.

Don Tom, nunca deixou de assumir o controle sobre o meio em que vive. Seu poder de domínio é exercido entre humanos, cães e animais de sua própria espécie. Vindo de uma casta superior, faz questão de ser discreto no uso de sua caixa de areia. Passa, quase despercebido no ambiente, procurando não fazendo alarde. Se mostrando quando deseja impor sua beleza. De noite é possível ver aqueles olhos brilhantes faiscando pela madrugada obscura. Sua cauda, bem tosada, representa a majestade de um rabo de leão. É um rei das selvas urbanas, pertencendo a uma dinastia persa. Sua calmaria transmite a paz que a família precisa nos momentos mais conturbados. Possui seus próprios aposentos, já adentrando veículos com intuito de tentar guiá-los, pois não admite que alguém decida sobre seu ir e vir. Já faz parte de magazines, com fotos postadas em redes sociais, causando frisson na sociedade prudentina, que fica aguardando as próximas aparições. Corre o boato que uma loja fina fez o convite de usar em alguns comerciais a imagem do bichano, que ainda estuda a proposta e se inquieta por considerar a oferta feita abaixo de seu requinte. .

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 18/01/2014
Código do texto: T4655173
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