English version after the Portuguese original
(nota: este conto ganhou um concurso no semestre passado. Não me lembro qual, não me lembro onde. Ele foi inspiração para uma das Coleções de Moda Outono-Inverno de minha filha.
WEDDING DAY (Dia de Núpcias)
Desço lentamente a longa escadaria de mármore, rumo a você. O sol derrama luz por sobre as cores do gramado, por sobre as flores, enquanto desço ao som da música que diz ser eu a sua amada, ser você o meu amor. Veja, veja bem meu rosto - estou sorrindo. Há tanto tempo desconheço o que é sorrir, ou mesmo o que é amar...
Mas agora lá está você, frente às colunas de mármore da alameda, uma enorme flor branca na lapela, o vento desarranjando seu cabelo. Sinto seus olhos sobre mim, olhando meu vestido de cor lavanda, que esvoaça ao redor de meus pés, que caminham até você. Que caminham lentamente para tudo o que você representa - o riso reencontrado, a alegria de compartilhar o pensamento, esperança nova, visões de futuro, brilho de sol na grama verde...
Veja, tenho flores de mil cores em diadema no cabelo. Meu cabelo despenteado, sempre caindo sobre os olhos. Os olhos que veem você, com essa enorme flor na lapela, e que veem um mundo mais bonito, só por causa de você.
As escadas terminam, e caminho por sobre a grama recém cortada, verdejante, coberta de pétalas de flores... Mas de onde vêm as flores? Das mãozinhas das crianças, vestidos cor-de-rosa, fita azul, sapato branco, rindo à minha frente, soltando pétalas, pavimentando com flores meu caminho até você.
E você está lá, você me espera. Sua mão se estende e toma a minha, e sinto sua palma, seus dedos, seu pulso – seu sangue correndo! Correndo por sobre a grama, manchando meu vestido cor lavanda, molhando meus pés que caminharam até você!
E vejo-me em meio às pétalas de flores, meu cabelo caindo sobre os olhos, ao som da música que canta a sua ausência , que canta a sua inexistência, as pétalas trazidas pelo vento, as crianças brincando entre os túmulos...
Minha mão toca o pilar da alameda onde você nunca esteve , onde você nunca estará... Porque não mais existe...
-----------------------------------
Deito um buquê de rosas vermelha aos pés do túmulo e sento-me em um banco, as mãos cruzadas segurando meu rosário. Ah, meu Amado, nós pensávamos ser eternos. A juventude sempre pensa que é eterna. Agora estou só neste meu mundo, mesmo caminhando em ruas cheias de gente. E mesmo no silêncio de uma catedral, onde meus passos me levam em busca de paz interior, o meu coração chora – meu coração, vermelho como a rosa que te dou, vermelho como a dor que me cobre o peito, mas não cobre o vazio que sinto por dentro.
Desço as escadas da catedral e dissolvo-me no cenário, como se vestisse as folhas mortas da calçada, como se vestisse o cinza da tua ausência. Caminho a esmo, sem lágrimas e sem sentido. Olho para os céus, e vejo um bando de pombas que levanta voo, e observo sua dança, ignorando os carros que passam, as pessoas que gritam...
E então tudo desaparece. Com a certeza que apenas a loucura ou a morte nos proporcionam, abro meus braços como asas e subo, subo aos céus atrás das pombas. E lá está você, meu Amado, frente às colunas de mármore da alameda, à minha espera.
Veja, tenho flores de mil cores em diadema no cabelo. Meu cabelo despenteado, sempre caindo sobre os olhos. Os olhos que veem você, com essa enorme flor na lapela, e que veem um mundo mais bonito, eternamente com você...
ENGLISH VERSION
(Note: This story won a literary contest last semester. I don´t remember which or where. It also inspired one of my daughter´s Fall-Winter Fashion Collections.
WEDDING DAY
© Dalva Agne Lynch
I walk slowly down the long marble staircase towards you. The sun pours light over the colors in the lawn, over the flowers, as I walk down to the sound of a music that tells me you are my Beloved, and that I´m yours. Look, look at my face - I'm smiling! It´s been such a long time since I knew how to smile, or even how to love…
But now you are there, standing between the marble pillars, a huge white flower in your lapel, the wind blowing on your hair. I feel your eyes on me, watching the flutter of my lavender gown around my feet, my feet walking towards you, walking slowly towards everything you are - the rediscovered laughter, the joy of sharing thoughts, a new hope, visions of future, sunshine playing on green grass...
Look! I have a diadem of flowers in a thousand colors on my hair. My disheveled hair, always falling on my eyes. My eyes that see you there, with that huge flower in your lapel, and see a world made more beautiful, and more beautiful just because of you.
The stairs end and I walk over the freshly cut green grass covered with petals of flowers... But where do the flowers come from? From the hands of little children in pink dresses, blue ribbons and white shoes, laughing in front of me, throwing petals of flowers on the ground, to pave my way towards you.
And you are there, waiting for me. Your hand reaches out and takes mine, and I feel your palm, your fingers, your pulse - your blood flowing! Flowing over the grass, staining my lavender gown, soaking my feet that walked towards you!
And I find myself amidst petals of flowers, my hair falling on my eyes, and that sound of music singing your absence, singing your inexistence, petals of flowers blowing in the wind, children playing among the graves ...
My hand touches the marble pillars where you've never been, where you'll never be... for you are no more ...
-----------------------------------
I lay a bouquet of red roses at the foot of your tomb and sit on a bench, hands folded holding my rosary. Oh my Beloved, we thought we were eternal. Young people always think they´re eternal. And now I am alone in this my world, even as I walk through crowded streets. And even in the silence of a cathedral, where my steps lead me in search of inner peace, my heart cries - my heart, red as the roses I give you, red as the pain that fills my chest but would never fill the emptiness I have inside.
I walk down the cathedral´s stairs and dissolve myself in the scenery, as if dressed by the dead leaves that cover the sidewalk, as if dressed in the gray of your absence. I walk without aim, without tears, meaninglessly. I lift my eyes towards the skies and see a flock of doves take flight, and watch their dance, ignoring the passing cars, ignoring the people shouting...
And then everything is gone. With that assurance only madness or death can give us, I open my arms like wings and I ascend, ascend to the skies after the doves. And there you are, my Beloved, between the marble columns, waiting for me.
Look! I have a diadem of flowers in a thousand colors on my hair. My disheveled hair, always falling on my eyes. My eyes that see you there, with that huge flower in your lapel, and see a world made more beautiful, and more beautiful because of eternity with you…
(nota: este conto ganhou um concurso no semestre passado. Não me lembro qual, não me lembro onde. Ele foi inspiração para uma das Coleções de Moda Outono-Inverno de minha filha.
WEDDING DAY (Dia de Núpcias)
Desço lentamente a longa escadaria de mármore, rumo a você. O sol derrama luz por sobre as cores do gramado, por sobre as flores, enquanto desço ao som da música que diz ser eu a sua amada, ser você o meu amor. Veja, veja bem meu rosto - estou sorrindo. Há tanto tempo desconheço o que é sorrir, ou mesmo o que é amar...
Mas agora lá está você, frente às colunas de mármore da alameda, uma enorme flor branca na lapela, o vento desarranjando seu cabelo. Sinto seus olhos sobre mim, olhando meu vestido de cor lavanda, que esvoaça ao redor de meus pés, que caminham até você. Que caminham lentamente para tudo o que você representa - o riso reencontrado, a alegria de compartilhar o pensamento, esperança nova, visões de futuro, brilho de sol na grama verde...
Veja, tenho flores de mil cores em diadema no cabelo. Meu cabelo despenteado, sempre caindo sobre os olhos. Os olhos que veem você, com essa enorme flor na lapela, e que veem um mundo mais bonito, só por causa de você.
As escadas terminam, e caminho por sobre a grama recém cortada, verdejante, coberta de pétalas de flores... Mas de onde vêm as flores? Das mãozinhas das crianças, vestidos cor-de-rosa, fita azul, sapato branco, rindo à minha frente, soltando pétalas, pavimentando com flores meu caminho até você.
E você está lá, você me espera. Sua mão se estende e toma a minha, e sinto sua palma, seus dedos, seu pulso – seu sangue correndo! Correndo por sobre a grama, manchando meu vestido cor lavanda, molhando meus pés que caminharam até você!
E vejo-me em meio às pétalas de flores, meu cabelo caindo sobre os olhos, ao som da música que canta a sua ausência , que canta a sua inexistência, as pétalas trazidas pelo vento, as crianças brincando entre os túmulos...
Minha mão toca o pilar da alameda onde você nunca esteve , onde você nunca estará... Porque não mais existe...
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Deito um buquê de rosas vermelha aos pés do túmulo e sento-me em um banco, as mãos cruzadas segurando meu rosário. Ah, meu Amado, nós pensávamos ser eternos. A juventude sempre pensa que é eterna. Agora estou só neste meu mundo, mesmo caminhando em ruas cheias de gente. E mesmo no silêncio de uma catedral, onde meus passos me levam em busca de paz interior, o meu coração chora – meu coração, vermelho como a rosa que te dou, vermelho como a dor que me cobre o peito, mas não cobre o vazio que sinto por dentro.
Desço as escadas da catedral e dissolvo-me no cenário, como se vestisse as folhas mortas da calçada, como se vestisse o cinza da tua ausência. Caminho a esmo, sem lágrimas e sem sentido. Olho para os céus, e vejo um bando de pombas que levanta voo, e observo sua dança, ignorando os carros que passam, as pessoas que gritam...
E então tudo desaparece. Com a certeza que apenas a loucura ou a morte nos proporcionam, abro meus braços como asas e subo, subo aos céus atrás das pombas. E lá está você, meu Amado, frente às colunas de mármore da alameda, à minha espera.
Veja, tenho flores de mil cores em diadema no cabelo. Meu cabelo despenteado, sempre caindo sobre os olhos. Os olhos que veem você, com essa enorme flor na lapela, e que veem um mundo mais bonito, eternamente com você...
ENGLISH VERSION
(Note: This story won a literary contest last semester. I don´t remember which or where. It also inspired one of my daughter´s Fall-Winter Fashion Collections.
WEDDING DAY
© Dalva Agne Lynch
I walk slowly down the long marble staircase towards you. The sun pours light over the colors in the lawn, over the flowers, as I walk down to the sound of a music that tells me you are my Beloved, and that I´m yours. Look, look at my face - I'm smiling! It´s been such a long time since I knew how to smile, or even how to love…
But now you are there, standing between the marble pillars, a huge white flower in your lapel, the wind blowing on your hair. I feel your eyes on me, watching the flutter of my lavender gown around my feet, my feet walking towards you, walking slowly towards everything you are - the rediscovered laughter, the joy of sharing thoughts, a new hope, visions of future, sunshine playing on green grass...
Look! I have a diadem of flowers in a thousand colors on my hair. My disheveled hair, always falling on my eyes. My eyes that see you there, with that huge flower in your lapel, and see a world made more beautiful, and more beautiful just because of you.
The stairs end and I walk over the freshly cut green grass covered with petals of flowers... But where do the flowers come from? From the hands of little children in pink dresses, blue ribbons and white shoes, laughing in front of me, throwing petals of flowers on the ground, to pave my way towards you.
And you are there, waiting for me. Your hand reaches out and takes mine, and I feel your palm, your fingers, your pulse - your blood flowing! Flowing over the grass, staining my lavender gown, soaking my feet that walked towards you!
And I find myself amidst petals of flowers, my hair falling on my eyes, and that sound of music singing your absence, singing your inexistence, petals of flowers blowing in the wind, children playing among the graves ...
My hand touches the marble pillars where you've never been, where you'll never be... for you are no more ...
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I lay a bouquet of red roses at the foot of your tomb and sit on a bench, hands folded holding my rosary. Oh my Beloved, we thought we were eternal. Young people always think they´re eternal. And now I am alone in this my world, even as I walk through crowded streets. And even in the silence of a cathedral, where my steps lead me in search of inner peace, my heart cries - my heart, red as the roses I give you, red as the pain that fills my chest but would never fill the emptiness I have inside.
I walk down the cathedral´s stairs and dissolve myself in the scenery, as if dressed by the dead leaves that cover the sidewalk, as if dressed in the gray of your absence. I walk without aim, without tears, meaninglessly. I lift my eyes towards the skies and see a flock of doves take flight, and watch their dance, ignoring the passing cars, ignoring the people shouting...
And then everything is gone. With that assurance only madness or death can give us, I open my arms like wings and I ascend, ascend to the skies after the doves. And there you are, my Beloved, between the marble columns, waiting for me.
Look! I have a diadem of flowers in a thousand colors on my hair. My disheveled hair, always falling on my eyes. My eyes that see you there, with that huge flower in your lapel, and see a world made more beautiful, and more beautiful because of eternity with you…