Adolescentes

Adolescentes.

Estamos em 1973, José adolescente conversa com seu amigo Matias, da mesma idade numa padaria, e como era um horário ocioso, seu Manoel, dono da padaria, também veio ao encontro aos dois e ouvindo a conversa, quis participar.

_ Nosso futuro, acredito, será promissor, meus avós eram colonos de uma fazenda, meu pai é fundidor e cabe a mim entrar para o caminho da burocracia, da caneta e do lápis dizia Matias.

- O meu avô também era agricultor, meu pai é pedreiro, então pra mim está reservado um destino mais suave, já fiz o curso de datilografia e agora estou fazendo o curso de caligrafia e também de taquigrafia, disse Matias.

- Meu pai em Portugal era dono de uma grande propriedade onde tínhamos oliveiras frondosas bem como galinhas, porcos e outros animais domésticos, eu criança ainda, queria continuar o trabalho de meu pai trabalhando como ele e tendo recompensas financeiras saudáveis, mas, veio a guerra e perdemos tudo, sem dinheiro para pagar os impostos, tivemos de abandonar tudo e vir para o Brasil. Aqui tínhamos alguns parentes que nos ajudaram e hoje posso desfrutar dessa padaria, mas tenho muitas saudades das terras lusas.

- Mas quem ficou com sua propriedade seu Manoel? Indagou Matias.

-Meus parentes, quero dizer, meus sobrinhos que são advogados, dizem que ainda é nosso, mas devemos pagar os impostos atrasados e isso não é justo, pois meu pai foi para guerra, minha mãe ficou sózinha conosco e só comíamos o mínimo, como poderíamos pagar os impostos aos reis que nunca pagaram impostos?

- Como estávamos dizendo, a raça humana evolui ontem trabalhávamos com a enxada, hoje num escritório usamos a caneta, e como é que o senhor ainda pensa em voltar?

- Quero voltar pro que é meu. Quando criança, gostava de levantar cedo, ver a criação, ver as plantas, enfim era um trabalho prazeroso, hoje levanto cedo e tenho que enfrentar um forno quente e suando fazer os pães que a freguesia consome, não vejo prazer nisso.

- Seus parentes tem esperança em reaver as terras?

- Sim, mas como aqui, quando se briga com o governo ou com os mais fortes a justiça é lenta, e acho que quem vai desfrutar de tal prazer serão meus herdeiros.

- Meu pai também diz que na Itália meus avós foram convidados pelo governo para saírem de lá a fim de esvaziar um pouco o país, pois sem emprego, todos estavam dependendo do governo Assim eles sairam pra trabalhar aqui na roça na Argentina, na Austrália e também nos Estados Unidos.

- Todos eles sofreram muito até alcançarem uma situação sustentável.

- Vocês dois estão falando em trabalhar com caneta, eu acho que é justo, mas no futuro, creio eu, teremos necessidades de mecânicos, engenheiros, enfim, de especialistas, pois novas invenções serão usadas em casa, no transporte ou na saúde.

- Eu gosto de mexer nas ferramentas de meu pai, parece magia,dizia Matias.

- Eu fui convidado a fazer um curso de eletricidade domestica, mas estou mais propenso em ensinar ou trabalhar num banco.

- Aconselho vocês a lerem algumas biografias, vocês ficarão surpresos com a vida de pessoas de sucesso ou fracasso, mas é sempre uma lição valiosa.

O carteiro chegou e trouxe uma correspondência para seu Manoel, vinda de Portugal; ele a abriu e seus parentes lhe informavam que a propriedade de seus pais lhe seria restituída, bem como uma grande indenização lhe seria paga pelo prejuízo recebido com a ausência de seu pai indo pra defender seu país.

Seu Manoel voltou pra Portugal onde desfruta de uma felicidade indescritível, e Matias e José tornaram-se padeiros

ANEZIO
Enviado por ANEZIO em 08/05/2013
Reeditado em 12/06/2013
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