Diário de guerra - Aos sorrisos sádicos

E lá vou eu a procura da paciência e do tempo que preciso para continuar a viver na nossa falsa paz.

Lá vou eu a procurar o que sou capaz e o que quero fazer para manter minha mente trabalhando, para manter-me ocupada tempo suficiente longe da decadência e demência.

Não fui criada para lutar, meus músculos são despreparados e o campo de batalha é desolador.

Ando aprendendo em combate primeiro como me desviar dos ataques, torna-se inevitável cair; Tenho aprendido em luta como não se pode ter piedade, e que um segundo de hesitação corresponde ao próximo segundo morto. Mais um corpo fraco morto.

Ao contrário dos antigos, não se luta mais por honra, não se morre mais por honra. E eu tenho caído. Luto para continuar a construção. Luto para alcançar objetivos.

Com ajuda da lança me levanto a cada queda. Com a ajuda do escudo, avanço através da tropa inimiga. Com a ajuda da espada, golpeio em retorno.

Minha habilidade lógica em batalha é ridícula, e tem me custado joelhos, ombros, tornozelos, areia nos olhos, truques baratos em combate.

“A imagem é de um bebê tentando manter-se em pé" *

Preciso aprender a não ter compaixão.

Preciso aprender a distinguir o inimigo, do companheiro, e o companheiro do aliado.

A sabedoria para lutar, e descobrir a sequência certa entre golpear, avançar e defender.

A paciência para esperar o tempo certo.

Lá se vem o tempo novamente dizer-me que sou nada senão brinquedo em suas mãos truqueiras.

Sou nada senão fruto dele. Dele nasci, através dele vivo, e por ele morrerei. O vejo sorrindo um sorriso sádico, insano, perturbador, como quem diz: “Não ouse...” ou quem sabe quer dizer mais “Ouse...” e ver até onde aguento com essa brincadeira de mal gosto toda que ele inventou de chamar de vida, e outros chamam de destino.

Lá se vem, e sussurra até que eu fique paranoica. Lá vem para me dizer que é perda de tempo. Minha inconsciência manipula uma entrega, uma queda.

Quero deixar bem claro aqui que eu sou mais forte que vocês, e é na noite escura, na garoa que cisma em cair, na tempestade inesperada, e nos quilômetros percorridos por dia, nos sorrisos platinados que colecionei, nas escadas, nos cortes diários, na selva eu me fortaleci.

Não me venham dizer o que eu já estou cansada de saber!

A arte da luta aprendo agora, meu caro...

-

* Frase do personagem da peça "Sistema Nervoso" da CIA. LUIS LOUIS, no Manifesto da Mímica Total

Sabrina Vieira
Enviado por Sabrina Vieira em 11/09/2011
Reeditado em 28/09/2012
Código do texto: T3212754
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.